“Realmente ridículo”: ministros europeus revoltados com Hungria, que volta a bloquear ajuda à Ucrânia

A Hungria está empenhada a recusar-se a ceder milhares de milhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia, o que tem provocado crescente consternação entre outros países da UE. “Tenho de me acalmar quando falo sobre esta questão, porque agora está a ficar realmente ridículo”, indica um importante diplomata da UE, em declarações ao jornal ‘POLITICO’, antes da reunião da passada segunda-feira dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

A expectativa europeia era ter um novo pacote de 6,6 mil milhões de euros pronto antes das reuniões desta semana dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa em Bruxelas, um acordo que incluía 860 milhões de euros para aquisições de armas – no entanto, isso não aconteceu devido à resistência de Budapeste.

Recorde-se que a Hungria, o membro mais pró-Rússia da UE, bloqueou durante quase um ano reembolsos parciais de armas enviadas para a Ucrânia ao abrigo do Mecanismo Europeu para a Paz (EPF). O atraso é agora de 9 mil milhões de euros, acima dos 8,3 mil milhões de euros registados em março, segundo revela um alto funcionário da UE.

Houve um acordo político há algumas semanas para permitir a criação do Fundo de Assistência à Ucrânia no valor de 5 mil milhões de euros no âmbito do EPF, mas nos últimos dias a Hungria tem estado novamente à procura de razões para destruir todo o pacote. Budapeste também está a avançar lentamente sobre o acordo sobre a utilização dos lucros gerados por milhares de milhões de ativos russos congelados para comprar armas para a Ucrânia.

Até agora, a Hungria afirmou que estava a bloquear os reembolsos do EPF porque um dos seus bancos, o OTP, estava numa lista não oficial ucraniana de patrocinadores da guerra. Mas “essa lista desapareceu”, garante outra fonte europeia.

Agora, o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, já salientou aos seus colegas ministros que a Ucrânia está a discriminar as empresas húngaras e que Budapeste não pode pagar o preço da guerra. Os ministros dos Bálticos, bem como o principal diplomata da UE, Josep Borrell, pediram ao responsável húngaro mais detalhes sobre a alegada discriminação para com as empresas húngaras.

Alguns diplomatas estão preocupados que o bloqueio húngaro possa estender-se até à cimeira dos líderes da UE no próximo mês: há a convicção de que Budapeste esteja a usar a sua influência sobre a ajuda crucial à Ucrânia na esperança de desbloquear milhares de milhões de fundos da UE congelados devido a preocupações com o Estado de direito.

A paciência está a começar a esgotar-se, revela a publicação – mas há pouco que outros países possam fazer, uma vez que as decisões sobre o EPF são tomadas por consenso, dando a Budapeste o poder de veto.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, classificou a atitude da Hungria como um problema estrutural para o bloco. “Temos de ser transparentes quanto à posição atual da Hungria”, afirma. “Analisámos esta questão e aparentemente cerca de 41% das resoluções da UE sobre a Ucrânia foram bloqueadas pela Hungria. O EPF está bloqueado… As negociações de adesão da Ucrânia estão a ser mantidas como reféns pela Hungria”, acrescenta.

“Quase todas as nossas discussões e soluções e decisões necessárias por parte da UE estão a ser bloqueadas por apenas um país. Portanto, temos de começar a ver isto como uma abordagem sistemática a quaisquer esforços da UE para ter um papel significativo nos assuntos externos”, conclui.

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