Operação Influencer: Lucília Gago responde a críticas “tóxicas” e diz que “magistrados do MP e funcionários são insuficientes”

Foi esta segunda-feira, durante a tomada de posse do novo diretor regional do DIAP de Leiria, que a procuradora-geral da República, Lucília Gago, aproveitou o discurso a “positividade tóxica” de “certas intervenções públicas sobre a Justiça”, referindo-se às críticas que lhe têm sido apontadas, no âmbito do processo da Operação Influencer e da investigação a António Costa, pelo próprio visado e, ontem, por Augusto Santos silva.

“Na bipolaridade discursiva que a cada passo nos surpreende, ora se arrasa a concreta direção dos inquéritos criminais, clamando-se por públicas explicações e detalhados esclarecimentos e aludindo-se a poderes excessivos e incontrolados do Ministério Público, ao excessivo arrastamento das investigações e aos fracos resultados conclusivamente alcançados, ora se lança mão de impressivas considerações sobre o respeito do principio da separação de poderes e da autonomia do MP, numa sacralização do espaço reservado à Justiça e dos direitos conferidos aos que neste território se movimentam”, disse a PGR no discurso.

Lucília Gago continuou depois para dirigir resposta às críticas. “Encharcadas em positividade tóxica, certas intervenções públicas sobre a Justiça vêm-nos remetendo para cenários idílicos alternativos, enquadrados num histórico de sucessivos anúncios de avanços, num descritivos de realidades paralelas, falhas de afinidade com a que, e infelizmente há demasiados anos, os magistrados vivem no seu dia a dia. A verdade nua e crua, descrita friamente é bem distinta e descorçoante”, terminou.

Cinco meses depois, Costa ainda não foi ouvido. Santos Silva e Marques Mendes arrasam PGR por demora
Volvidos cinco meses desde que saiu o ‘famoso’ comunicado da Procuradoria-Geral da República (PGR), que acabou levar à demissão de António Costa, o ex-primeiro-ministro não foi ainda ouvido no âmbito da investigação. A demora está a valer críticas da esquerda à direita.

Augusto Santos Silva, ex-presidente da Assembleia da República, manifestou preocupação com o que descreve como uma “violação grosseira dos princípios básicos do Estado de direito”.

Numa publicação no Facebook, Santos Silva escreveu: “Desde então, nada mais se sabe, tendo-se limitado a PGR a publicar outra nota sobre a distribuição de processos por equipas de magistrados. O Parlamento foi dissolvido, realizaram-se eleições e nada as autoridades competentes se dignaram esclarecer sobre a iniciativa que esteve na origem de todos esses desenvolvimentos.”

Esta semana, durante a tomada de posse de Luís Montenegro como novo líder do partido, Costa anunciou que pretende ser ouvido pelo gabinete do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça “com a maior celeridade”.

Santos Silva, que ocupava o segundo lugar na hierarquia do Estado na legislatura anterior, criticou ainda a PGR por nunca ter ouvido o antigo chefe de Governo. Santo Silva argumenta que a conduta do Ministério Público demonstra não só desrespeito pela “separação de poderes”, mas também constitui uma “ofensa aos direitos fundamentais de qualquer pessoa”.

Também Marques Mendes, no seu espaço de comentário habitual na SIC, afirmou este domingo que “ninguém sabe se a matéria a investigar é grave ou não, se tem pernas para andar ou não ou se é uma irrelevância”, e considerou “inaceitável que ao fim de cinco meses, António Costa ainda não tenha sido ouvido”.

O comentador voltou a sublinhar o aviso de que o envolvimento de Costa no processo pode custar-lhe as aspirações de ida para Bruxelas, adiantando que seria um cenário que não interessa a Portugal.

“Se António Costa chegar a presidente do Conselho Europeu, Portugal fica num cargo elevado na Europa, o que nos dá prestígio. Se fosse Luís Montenegro, apoiaria abertamente e claramente essa caminhada, um interlocutor português na Europa só ajuda o Governo português”, terminou Marques Mendes.

O comunicado da PGR de novembro alegava que o nome de António Costa foi invocado para desbloquear procedimentos em negócios relacionados ao lítio e ao hidrogénio. Em resposta a estas alegações, Costa anunciou em 7 de novembro que tinha apresentado a sua demissão ao Presidente da República.

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