50 mil abrigos prontos para uma guerra nuclear. Conheça a ‘fortaleza subterrânea’ da Finlândia

Perante a ameaça de uma escalada de violência na guerra na Ucrânia, ou de alargamento do conflito a nações da NATO, e de reiteradas tentativas de intimidação de Putin com a ‘bandeira’ nuclear, a Finlândia, que há pouco mais de um ano se juntou à Aliança Atlântica, tem uma verdadeira ‘fortaleza subterrânea’ preparada para a eventualidade de a referida ameaça de uso de armas nucleares se concretizar. E alguns ‘escondem-se’ nos lugares mais improváveis.

Para chegar ao skatepark do centro juvenil de Kontula, situado num bairro residencial no leste de Helsínquia, é necessário contornar as imponentes montanhas de gelo que se erguem de ambos os lados da estrada. Num ambiente de uma tarde fria de março, vários jovens atravessam a porta de chapa verde, adornada com grafites, skate na mão, descreve o El Español. Do outro lado, uma luz ténue ilumina uma longa e sinuosa escadaria de betão, que conduz a uma pista repleta de rampas e caixotes. Esta estrutura poderia facilmente ser confundida com a entrada para cavernas subterrâneas, mas na realidade, estamos diante de uma entrada para uma fortaleza subterrânea muito especial.

A vários metros abaixo da superfície da terra, escondido nas profundezas de Helsínquia, encontra-se um dos 50.500 abrigos subterrâneos da Finlândia. Estes abrigos, que se assemelham a bunkers, foram construídos com o propósito de proteger a população civil em caso de guerra ou catástrofe natural. Estas construções têm a capacidade de resistir a uma vasta gama de ameaças, desde explosões a colapsos e desabamentos de edifícios, e mesmo radiações perigosas para o ser humano. São capazes de abrigar mais de 600 mil pessoas.

“Agora sinto-me muito mais seguro aqui em baixo. Com os meus colegas, brincamos sempre que se começar a guerra, haverá um grupo de sobreviventes a andar de skate”, partilha Hessam Jalali, responsável do centro.

A história da Finlândia e a sua relação com a defesa nacional remontam aos tempos da Guerra Fria. Após a União Soviética ter ocupado parte do território do país em 1939, Helsínquia sempre manteve uma postura de desconfiança em relação ao seu vizinho do leste. Esta postura defensiva levou à construção de uma vasta rede de abrigos antiaéreos e subterrâneos, que atualmente tem capacidade para proteger quase 90% da população do país, segundo dados do Ministério do Interior finlandês.

Com uma posição geoestratégica crucial, uma vasta extensão territorial e uma população relativamente escassa, a Finlândia sempre esteve vulnerável a possíveis agressões externas. Por essa razão, o país tem investido significativamente na construção de uma cultura de defesa nacional que permeia toda a sociedade.

Nina Järvenkylä, responsável de Comunicação do Departamento de Resgate de Helsínquia, explica que, depois de uma descida de elevador até 20 metros abaixo da superfície, se chega ao abrigo de Merihaka, um bairro costeiro da capital finlandesa. Este abrigo, que pode parecer um simples parque de estacionamento por fora, revela-se um complexo sistema de proteção subterrânea por dentro.

“Se houvesse uma emergência, desceríamos pelas escadas metálicas que se encontram mesmo do outro lado; não pelo elevador”, esclarece Järvenkylä.

O refúgio de Merihaka, construído pelo município em 2003 dentro da rocha de granito, possui uma arquitetura e design meticulosos. A entrada serpenteante serve para que qualquer onda expansiva seja dissipada antes de atingir a primeira porta. O abrigo é equipado com dois níveis de portas, separados por um espaço intermédio com torneiras de água. Esta estrutura tripla serve para proteger os habitantes de explosões, gases e radiações.

“O facto de serem utilizados diariamente permite manter os abrigos em bom estado, porque se alguém notar algo danificado, avisa-nos”, explica Järvenkylä.

“Temos tudo preparado para que não haja caos”, assegura a especialista do Departamento de Resgate da capital finlandesa.

A invasão da Rússia à Ucrânia em 2022 alterou significativamente a perceção de segurança dos finlandeses. Agora, mais do que nunca, estão conscientes da importância destes refúgios subterrâneos e da necessidade de estarem preparados para qualquer eventualidade.

“Pessoalmente, sinto-me mais segura sabendo que os nossos bunkers estão prontos, mas não pelas paredes de betão, mas sim pela forma como mostramos ao nosso vizinho que estamos preparados para nos defender”, conclui Järvenkylä.

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