Espionagem russa com nova estratégia para recrutar “peles-limpas” na Europa, “incluindo Portugal”, alertam especialistas

Após enfrentarem uma série de fracassos em 2022, no âmbito da invasão à Ucrânia e à consequente reação de Kiev, os serviços secretos russos estão a adaptar-se e a intensificar as suas atividades na Europa. Segundo vários especialistas e relatórios de agências de inteligência ocidentais, a Rússia está a implementar uma nova estratégia de espionagem que envolve o recrutamento de agentes conhecidos como “peles-limpas”. Estes agentes são cidadãos estrangeiros sem ligações visíveis à Rússia, muitas vezes com origens nos ‘países-alvo’ em que estão ativo, o que torna mais difícil que sejam detetados pelos serviços de contraespionagem ocidentais.

Esta mudança estratégica surgiu em resposta à expulsão de mais de 600 agentes russos que se faziam passar por diplomatas em toda a Europa e à descoberta de oito operacionais com identidades falsas. Victor Madeira, um historiador especializado em contrainformação russa, salienta em entrevista à CNN Portugal que muitos destes agentes russos têm “reaparecem nos Balcãs, na Áustria e na Suíça, e é a partir de tais bases que os russos montam operações de espionagem, subversão e de assassinatos contra outros países europeus, incluindo Portugal”

De acordo com investigações do think tank britânico Royal United Services Institute (RUSI) e relatórios de serviços secretos ocidentais, a Suíça e a Áustria tornaram-se bases importantes para os serviços secretos russos. Na Suíça, o FIS (serviços secretos suíços) estima que cerca de um terço dos diplomatas russos sejam espiões. Na Áustria, mais de 252 espiões russos estão ativos, e os russos estão a utilizar agentes sérvios para infiltrar instituições europeias.

Para evitar deteções e expulsões, os serviços secretos russos têm alterado as táticas e estratégias. O major-general Isidro de Morais Pereira explica ao mesmo canal que os agentes russos estão a abdicar do uso de telemóveis, preferindo linhas fixas, e estão a recrutar agentes através de terceiros, utilizando empresas fachada e universidades russas para manter as suas identidades fora dos registos governamentais.

O general Andrei Averyanov, chefe da Unidade 29155, responsável pelos assassinatos na Europa e suspeito de estar por detrás do envenenamento de diplomatas americanos e canadianos, implementou estas mudanças drásticas na organização para evitar deixar rasto digital.

Além da espionagem tradicional, a Rússia tem investido fortemente em ciberespionagem e campanhas de desinformação. Especialistas identificaram um “ecossistema de desinformação” russo, que dissemina mensagens coordenadas para “poluir o discurso” político em países europeus, incluindo Portugal. Grupos cibercriminosos russos, como “Cosy Bear”, têm realizado ataques significativos contra empresas e serviços de inteligência ocidentais.

José Filipe Pinto, catedrático em relações internacionais, descreve esta estratégia como “Sharp Power russo”, uma guerra psicológica destinada a semear discórdia e desmoralizar as forças ocidentais. O objetivo é ampliar o descontentamento no mundo ocidental e diminuir o apoio à Ucrânia, permitindo que a Rússia avance no campo de batalha sem disparar um único tiro.

Face a estas ameaças crescentes, os serviços de inteligência ocidentais estão a intensificar os seus esforços para combater os ataques e ações da Rússia, adaptando-se às novas táticas e estratégias dos serviços secretos russos. O aumento da cooperação entre os países da NATO e o reforço das capacidades de contrainformação são essenciais para enfrentar esta nova onda de espionagem e desinformação russa.

Esta nova fase do “jogo do gato e do rato” entre os serviços secretos russos e ocidentais requer uma resposta coordenada e eficaz por parte dos países europeus e da NATO para proteger os seus interesses e segurança nacional, indicam os especialistas.

Ler Mais



Comentários
Loading...