Que países felicitaram Putin pela vitória nas eleições presidenciais na Rússia? E o que é que isso quer dizer para as alianças globais?
Após a vitória esmagadora de Vladimir Putin nas eleições presidenciais da Rússia, os Governos ocidentais alinharam-se para caracterizar a vitória como injusta e antidemocrática. De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Cameron, as eleições sublinharam a “profundidade da repressão” na Rússia, já o Departamento de Estado dos EUA afirmou que a prisão e a desqualificação dos opositores significavam que o processo era “incrivelmente antidemocrático”.
A mensagem condenatória do Ocidente contrastou fortemente com as mensagens de felicitações que fluíram de países da Ásia, África e América Latina. As diferenças sublinharam as divisões geopolíticas mundiais, ainda mais clivadas desde a invasão da Ucrânia por Putin, indicou a publicação britânica ‘The Guardian’. E quais foram os países que parabenizaram Putin?
‘Certeza’ para a China
O presidente da China, Xi Jinping, foi rápido a felicitar Putin pela sua vitória, dizendo que Pequim continuaria a promover a parceria “sem limites” que forjou com Moscovo pouco antes de a Rússia invadir a Ucrânia. As questões em torno do processo democrático estão totalmente ausentes da cobertura das eleições nos meios de comunicação estatais chineses, nos quais a vitória de Putin é caracterizada como trazendo “certeza a um mundo em turbulência”.
Depois de declarar vitória na segunda-feira, Putin aproveitou um discurso para declarar novamente que “Taiwan é uma parte inerente da República Popular da China” e aproveitou para acusar outros países de criarem “provocações” em torno de Taiwan, salientando que “estão condenados ao fracasso”.
Uma ‘relação especial’ com a Índia
Depois de a Rússia ter iniciado a sua guerra contra a Ucrânia, 141 países votaram a favor de uma resolução das Nações Unidas a condenar a invasão. No entanto, segundo um estudo do ‘Economist Intelligence Unit’ (EIU), apesar do número expressivo, a realidade diz que dois terços da população mundial vivem em países que eram neutros ou com tendência favorável para a Rússia. De acordo com o estudo, países como Brasil, Arábia Saudita, África do Sul mas também a Índia tudo fizeram para evitar escolher um lado do conflito.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fez eco a Xi, dizendo que ansiava por fortalecer a “parceria estratégica especial e privilegiada testada pelo tempo” de Nova Deli com Moscovo.
Nos últimos anos, a Índia tem procurado posicionar-se como uma potência global. Recém-nomeado como o país mais populoso do mundo – bem como a sua quinta maior economia e de crescimento mais rápido – os líderes ocidentais estenderam o tapete vermelho para Modi, apesar do seu Governo supervisionar um período de retrocesso democrático e de autoritarismo crescente.
Ao mesmo tempo, Modi posicionou-se como um líder do Sul global – um conjunto solto de países em desenvolvimento e nações anteriormente colonizadas –, muitos dos quais continuam a apoiar a Rússia.
América Latina celebra triunfo
A vitória de Putin foi celebrada por líderes da América Latina que historicamente têm estado em desacordo com os Estados Unidos – de acordo com os especialistas, o isolamento da Rússia em relação ao Ocidente apenas a aproximou de países como Cuba e Venezuela, cujo ministro dos Negócios Estrangeiros caracterizou recentemente Moscovo como uma “vítima na cena internacional”.
O presidente do país, Nicolás Maduro, respondeu aos resultados da votação de domingo. “O nosso irmão mais velho, Vladimir Putin, triunfou, o que é um bom presságio para o mundo.” Já o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, classificou o resultado como “uma indicação credível de que a população russa apoia a gestão do país”.
A vitória de Putin também foi calorosamente recebida em vários países da África Ocidental e Central – incluindo o Mali e o Níger. No Burkina Faso, um jornal diário resumiu as mudanças na dinâmica global num editorial na passada segunda-feira, escrevendo que em África, as eleições “poderiam soar como um não-evento”, mas que assumem um significado particular porque “Putin encarna o novo equilíbrio geopolítico de poder no continente com uma crescente presença e influência russa”.