“Espiões mercenários” e criação de divisões na Nato: As novas táticas do Kremlin para desestabilizar o Ocidente

Após mais de dois anos de invasão russa à Ucrânia, com avanços e recuos de parte a parte, e sem que se adivinhe o fim do conflito, uma coisa é certa: a guerra veio trazer o regresso dos espiões russos à Europa, como provam os vários casos que têm sido registados, especialmente nos últimos meses.

Por exemplo, o piloto militar russo desertor Maksim Kuzminov foi encontrado morto em Alicante, em Espanha, enquanto Tihomir Ivanov Ivanchev tornou-se o sexto búlgaro acusado de espionagem do Kremlin no Reino Unido. Além disso, o Parlamento Europeu iniciou uma investigação sobre um eurodeputado letão suspeito de ser um agente do serviço secreto russo.

Por ventura, o episódio mais polémico a revelar espionagem foi a recente divulgação, pelo Kremlin, de escutas a uma conversa telefónica entre responsáveis da Força Aérea alemã, Bundeswehr, sobre a ajuda à Ucrânia, que revelou um fenómeno que se arrasta há meses, mas que só agora chamou a atenção das agências de inteligência europeias e americanas.

Até recentemente, os agentes secretos russos pareciam adormecidos, mas agora estão de volta com uma estratégia renovada. As agências de inteligência russas, incluindo a GRU, o FSB e a SVR, mudaram suas táticas, tornando-se mais profissionais e agressivas. Uma mudança significativa, adianta o El Confidencial é o recrutamento de cidadãos estrangeiros, incluindo figuras políticas e empresariais, para operações secretas, por vezes sem que os envolvidos recrutados saibam para quem de facto estão a trabalhar. Também criminosos estão a ser recrutados, indicam fontes de inteligência militar ocidental ao Financial Times.

“Encontraram novos alvos e estão a tornar-se mais profissionais, também mais agressivos. De certa forma, a forma como operam agora não lembra a década de 1980, o seu ponto de referência constante antes da guerra na Ucrânia, mas sim as décadas de 1930 e 1940”, indica ao mesmo jornal espanhol Andrei Soldatov, jornalista russo e especialista nos serviços de segurança do Kremlin.

Também, o Kremlin tem pressionado os russos que fugiram do país durante a guerra na Ucrânia para trabalhar para o governo de Vladimir Putin, utilizando até mesmo parentes que permaneceram na Rússia como meio de coação.

Esta ressurgência da espionagem russa coincide com objetivos anteriores, como o roubo de segredos ocidentais e enfraquecimento do apoio à Ucrânia e criação divisões dentro da Nato.

Andrei Soldatov destaca que os objetivos mais importantes atualmente são comprometer a Alemanha e criar desconfiança dentro da aliança e entre os parceiros europeus.

O retorno da atividade de alertar para os alegados planos russos de aumentar a sua presença militar na região. A Estónia, a Letónia e a Lituânia têm alertado sobre os esforços do Kremlin para minar a estabilidade na região, especialmente após casos de infiltração russa, como o ataque a Leonid Volkov, aliado de Alexei Navalny, na Lituânia.

Além de criar discórdia, a Rússia procura aumentar o sentimento de insegurança nos países da Nota, utilizando crises distantes como uma oportunidade para desestabilizar o Ocidente.

Em resposta a essas ameaças, os governos ocidentais estão a aumentar a vigilância e, igualmente, a fortalecer a cooperação internacional, de forma a combater a espionagem russa. No entanto, os especialistas alertam que a Rússia está a tornar-se “mais competente e agressiva”, representando uma ameaça séria e sustentada para o Ocidente.

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