“Com mais máquinas e menos tropas”: A próxima grande guerra da Nato vai combater-se também no Espaço, avisa especialista

Tim Marshall, jornalista, correspondente de guerra durante 30 anos e editor de diplomacia e temas internacionais da Sky New, é desde 2015 autor de vários best-sellers relacionados com o mapa da geopolítica mundial.

Em o ‘Futuro da Geografia’, que acaba de lançar, o especialista aborda as questões do poder e da política no próximo cenário onde se vão travar conflitos internacionais: no Espaço. Em entrevista ao El Confidencial, Tim Marshall levanta o véu à sua visão, de que a tentação de equipar satélites com armas laser vai aumentar, à medida que estes dispositivos são cada vez mais essenciais para as infraestruturas militares e comerciais de todos os países do mundo (mas em especial das três ‘potências de sempre’ (China, EUA e Rússia).

“Todos os avanços tecnológicos foram utilizados com aplicações militares. Por que seria diferente agora? Já é óbvio para os militares modernos que uma guerra não pode ser travada sem acesso ao espaço. Não estou a falar de uma campanha de guerrilha ou de uma insurreição como no Iraque. Refiro-me às guerras intraestatais. Os mísseis agora são guiados por satélites. Os satélites são agora pensados ​​em termos de alvos potenciais”, começa por explicar o jornalista, recordando que Nato atualizou a sua linguagem há dois anos para definir o Espaço como “domínio de guerra”.

“E é por isso que vemos esse crescimento dos comandos espaciais junto às grandes potências. Sem satélites, ficamos cegos, sem ver o que faz o oponente. Por outro lado, são fundamentais para a economia, uma vez que são parte integrante do moderno sistema de comunicação e do sistema bancário. Se houvesse um “apagão”, provavelmente haveria uma recessão no mundo”, teoriza, explicando que a tendência é que devamos pensar os satélites como infraestruturas críticas.

No entanto, se na Terra há tratados, convenções e diplomacia internacional com base em documentos legais, no Espaço a realidade é outra. “Tudo o que temos é uma linguagem vaga em tratados e acordos que datam da década de 1960 e que se tornaram obsoletos devido ao avanço da tecnologia. Não existem diretrizes, leis ou tratados sobre o espaço e precisamos disso”, alerta Tim Marshall.

O Tratado do Espaço Exterior de 1967 refere que “em teoria, não devemos colocar armas nucleares no espaço”, mas nada diz sobre lasers ou satélites. “Nada dessa linguagem existe porque essas coisas não existiam naquela época. Portanto, precisamos urgentemente de uma atualização para termos essa consciência situacional do espaço. Tal como acontece com os tratados sobre navios, precisamos de uma versão global para o espaço”.

Já os Acordos de Artemis, de 2020, determinam que se um dos signatários chegar à Lua, descubra minas e comece a escavar, pode declarar uma “zona de segurança”, limitando que outros países possam operar. Apenas cerca de 30 países assinaram os acordos, e nem a Rússia nem a China estão nesse leque.

“O que está a acontecer aqui é o que aconteceu com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Apenas alguns países assinaram inicialmente. Mas com o tempo, ela cresceu e cresceu e agora é considerada a norma. A mesma coisa acontece aqui: os Estados Unidos querem que as regras que escreveram sobre o espaço se tornem a norma. Mas nem todo p mundo quer aceitar dessa forma. Portanto, o que está a acontecer lá na Lua e no espaço é reflexo das mesmas tensões que estão a ocorrer aqui na Terra”, ilustra o correspondente de guerra.

As três potencias na corrida ao Espaço têm planos para realizar missões à Lua ainda antes de 2026. Quanto à missão Optimus, dos EUA, considera “ambicioso”.

“Projetos dessa complexidade e magnitude raramente chegam dentro do prazo ou do orçamento. Por sua vez, os chineses, que começaram muito mais tarde, mas agora estão muito mais à frente que a Rússia , embora ainda atrás dos Estados Unidos, também pretendem ter uma base lunar até 2032. E até disseram que vão imprimir em 3D o primeiro tijolo na Lua em 2028. Isso pode ser viável, mesmo que seja simbólico. Só para dizer que eles são os primeiros a conseguir. Ser o primeiro importa”, considera Tim Marshall, qua ainda assim afirma que a construção de uma base lunar daqui a oito anos, como estima Pequim “será um enorme desafio”.

Como será o futuro das guerras? Cada vez mais passará pela tecnologia. “As guerras modernas serão cada vez mais travadas com máquinas e menos tropas. Por exemplo, a guerra com drones é agora parte integrante da guerra”, indica o especialista, dando o exemplo da guerra na Ucrânia.

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