O que esperar de 2024?: Teresa Gonçalves, CEO e Presidente do conselho de administração da SATA
Testemunho de Teresa Gonçalves, CEO e Presidente do conselho de administração da SATA
Nos últimos anos, a pandemia, a subida dos preços das matérias-primas, as taxas de juro elevadas e as perturbações políticas trouxeram alguma instabilidade para as economias e para o sector da aviação em particular. É expectável que a grande maioria destes factores persista em 2024, de uma forma mais moderada, mas acompanhada pelo factor adicional da aceleração das alterações climáticas. Novas regulamentações na União Europeia e nos EUA obrigarão as empresas a fiscalizar as suas operações e as cadeias de abastecimento, aumentando a pressão na comunicação de informações ESG (Environmental, Social e Governance).
Perspectiva-se que, em 2024, as atenções se centrem nos esforços para reduzir as emissões. Será desafiante para os governos e para as empresas conseguirem atingir os objectivos ambiciosos que se propuseram – emissões líquidas zero de carbono até 2050, representando um desafio significativo para o sector da aviação. Neste contexto, é essencial uma abordagem abrangente, em que tecnologias como a inteligência artificial (IA) desempenham um papel crucial, aumentando, não só a eficiência operacional, como também revolucionando a experiência dos passageiros, atenuando o impacto ambiental das viagens aéreas. As companhias aéreas estão a recorrer cada vez mais à IA, à gestão de cadeias de abastecimento baseada em blockchain e análise de dados para melhorar a experiência do cliente e optimizar operações e serviços.
Assim, prevê-se que em 2024 a indústria da aviação passe por uma série de mudanças. O grande foco serão os avanços tecnológicos, especialmente no que diz respeito ao design de aeronaves, aos sistemas de propulsão e aos combustíveis de aviação sustentáveis.
Os desafios enfrentados pelas empresas do Grupo SATA são multifacetados, abrangendo tanto as operações internacionais, entre a Europa e a América do Norte, como as ligações cruciais entre o continente português e as ilhas dos Açores, além do transporte inter-ilhas. Para a rota internacional, a concorrência é acirrada. As grandes transportadoras e empresas de baixo custo competem pelo tráfego aéreo entre a Europa e a América do Norte. Conseguir manter preços competitivos sem comprometer a qualidade e a rentabilidade é um desafio constante.
No que diz respeito às ligações entre o continente português e as ilhas dos Açores, a SATA enfrenta desafios logísticos significativos. A dependência dessas rotas para conectividade e transporte de passageiros e carga requer uma operação consistente e confiável. Há, contudo, desafios, nomeadamente problemas com a infra-estrutura aeroportuária limitada, condições climáticas adversas, e a necessidade de modernização e manutenção das frotas de aeronaves.
No transporte inter-ilhas, a SATA enfrenta desafios específicos. A dispersão geográfica das ilhas e a procura variável tornam difícil manter uma programação eficiente e rentável. Por outro lado, garantir voos regulares entre ilhas remotas com pequenas populações pode ser economicamente desafiante. A infra-estrutura aeroportuária e a logística de manutenção das rotas também podem ser um obstáculo, especialmente considerando as necessidades sazonais dos passageiros. Em 2024, a SATA precisa de equilibrar cuidadosamente todos estes desafios, investindo em inovação, tecnologia e estratégias de gestão para garantir a competitividade nas rotas internacionais, a eficiência nas ligações entre o continente e as ilhas dos Açores, bem como a viabilidade económica do transporte inter-ilhas, essencial para a coesão e mobilidade dentro do arquipélago açoriano.
Para além destes desafios, a sustentabilidade continua a ser um tema de grande preocupação. As companhias aéreas, particularmente aquelas que operam em áreas ecologicamente sensíveis como é o caso da Região Autónoma dos Açores, estão a ser colocadas sob maior pressão para diminuir a sua pegada de carbono. Iniciativas como programas de compensação de carbono e investimentos em combustíveis sustentáveis, apesar de apresentarem desafios, devido ao aumento dos custos operacionais, estão a ganhar cada vez maior destaque. A sustentabilidade estende-se, também, à gestão de resíduos, à redução do impacto sonoro das operações aéreas e à identificação de práticas operacionais mais responsáveis em todas as áreas da empresa. Adaptar-se a todas essas mudanças exigirá investimentos significativos e um compromisso contínuo.
Por fim, e não menos importante, no que diz respeito aos recursos humanos, a SATA enfrenta o desafio de capacitar as suas equipas para enfrentar os avanços tecnológicos e as mudanças no sector. Isto envolve dar formação contínua aos trabalhadores, para que estes se adaptem a novas regulamentações e práticas operacionais.
Adicionalmente, a SATA enfrenta a necessidade de atrair e reter talentos qualificados num mercado altamente competitivo. Isso pode implicar, oferecer oportunidades de formação e desenvolvimento de carreira, criar um ambiente de trabalho atraente e incentivar a inovação e a criatividade entre os trabalhadores.
A capacitação das pessoas com formações específicas para atender às exigências da indústria da aviação é um desafio estratégico crucial para a SATA, podendo incluir parcerias com instituições de ensino, programas de estágio, desenvolvimento de programas de formação interna e a promoção de uma cultura organizacional que valorize a aprendizagem contínua e o crescimento profissional.
Para Portugal, em 2024 perspectiva-se um ano muito desafiante. À grande incerteza geopolítica no quadro internacional (à invasão da Ucrânia pela Rússia junta-se a guerra em Gaza e os riscos de contágio no Médio Oriente) somam-se a instabilidade e o clima de incerteza associado às eleições nacionais, na União Europeia e nos EUA. Este clima origina um ambiente de elevada falta de previsibilidade que poderá afectar fortemente o tecido empresarial e adiar decisões de investimento, podendo ser visível um abrandamento do crescimento económico.
Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024