Quanta vida existiu ou existirá na Terra, antes e depois dos seres humanos? Estudo aponta resposta em números com uma ‘imensidão’ de zeros

Uma das maiores desvantagens da ciência é o ponto de vista antropocêntrico, ou seja, a forma como os seres humanos, que inventaram o método científico, com a meta de prever a realidade objetiva e conhecer as suas falhas, tornaram impossível separar-se dos sistemas de conhecimento que foram criados.

Assim, ao pensar na imensidão do Cosmos, é difícil imaginar outro tipo de vida consciente que não a vida humana: por isso, em muitas representações os extraterrestres são recriados com uma figura ‘humanoide’. No entanto, é mesmo assim? De acordo com o jornal espanhol ‘El Confidencial’, talvez tenha havido uma época, há milhões de anos, em que o planeta era dominado por criaturas selvagens com ou sem consciência até um cataclismo ter destruído toda a sua descendência.

No entanto, a questão sobre a vida vai mais além. “Todos os organismos são constituídos por células vivas. Embora seja fácil estimar quando surgiram as primeiras células, as melhores estimativas dos geólogos sugerem que foi pelo menos há 3,8 mil milhões de anos. Mas quanta vida habitou a Terra? Desde a primeira célula? E quantas poderiam existir no planeta”, perguntou-se Peter Crockford, geólogo e professor da Universidade de Carleton, no Canadá, autor de um estudo publicado na revista científica ‘Current Biology’.

Em primeiro lugar, garantiu o autor, é preciso desvendar quais os ingredientes essenciais para a vida num planeta como o nosso: a equipa de Crockford foram aos medidores de carbono e aos seus níveis de produção natural, uma vez que este é o material essencial para a vida mais primária, não apenas humanas, mas também vegetal. “Todos os anos, são obsorvidos cerca de 200 mil milhões de toneladas de carbono através do que é conhecido como ‘produção primária’”, explicou. “O carbono inorgânico, como o presente no dióxido de carbono atmosférico e no bicarbonato oceânico, é usado para obter energia e construir as moléculas orgânicas de que a vida necessita.”

A ‘produção primária’ referida pelo especialista tem como principal processo a fotssíntese, o principal ingrediente da vida, a partir da luz solar e da água. A maior parte é composta por plâncton marinho, algas e cianobactérias. Ao analisar esse processo natural, os cientistas propuseram-se investigar quantas vezes ocorreu essa produção, antes mesmo de começarmos a habitar o planeta – para isso, os cientistas analisaram as jazidas de sal mais antigas, por conterem a composição isotópica do oxigénio na forma de sulfatos.

“Compilámos todas as estimativas anteriores de produção primário e o resultado do ‘censo’ da produtividade natural foi de que passaram por este processo cerca de 100 quintilhões (algo como… 100.000.000.000.000.000.000) de toneladas de carbono”, salientou Crockford. “É difícil imaginar números tão grandes, mas cerca de 100 quintilhões de toneladas de carbono equivalem a 100 vezes a quantidade de carbono contida na Terra.”

“Ao determinar a produção primária ocorreu na Terra e identificar os organismos responsáveis por ela, também conseguimos estimar quanta vida pode ter existido”, relatou o professor. Da mesma forma que o número de seres humanos pode ser estimado com base na quantidade de alimentos que consomem, “conseguimos calibrar uma relação entre a produção primária e o número de células que existem no ambiente atual”. Assim, no final, os cientistas chegaram à conclusão de que existem cerca de 10 elevado à 30ª potência (ou seja, uma dezena seguida de 30 zeros) de células, e que poderá ter existido na Terra entre 10 elevado à 39ª potência e 10 elevado à 40ª potência de células.

No entanto, alertou o cientista, a vida útil da biosfera da Terra é limitada, o que se deve ao próprio Sistema Solar. “Desde o seu nascimento, o Sol tornou-se mais brilhante ao longo dos últimos 4,5 mil milhões de anos, à medida que o hidrogénio no seu núcleo foi convertido em hélio”, observou Crockford. “Num futuro muito distante, daqui a cerca de 2 mil milhões de anos, todas as salvaguardas biogeoquímicas que mantêm a Terra habitável excederão os seus limites.” Ou seja, “primeiro, as plantas morrerão, e depois os oceanos ferverão e a Terra voltará a ser um planeta rochoso, em grande parte sem vida, como estava na sua infância”, concluiu.

“Mas, até então, projetando os nossos atuais níveis de produtividade primária, estimámos que haverá cerca de 10 elevado à potência de 40 as células a ocupar a Terra.”

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