“Guerra termina como o Ocidente quiser”: dois dos três cenários possíveis para o conflito apontam para vitória de Putin, alerta especialista

Há três cenários para o conflito na Ucrânia e dois deles envolvem a vitória da Rússia, garantiu Philip Breedlove, antigo Comandante Supremo Aliado da NATO na Europa. “Se não fizermos nada diferente do que estamos a fazer agora, eventualmente a Ucrânia perderá porque Moscovo tem mais pessoas e profundidade”, garantiu, em declarações à revista ‘Newsweek’.

“Se o Ocidente abandonar a Ucrânia, esta lutará valentemente, mas dezenas de milhares de ucranianos vão morrer e, eventualmente, a Rússia subjugará toda a Ucrânia, que será mais uma vez um vassalo russo”, considerou.

Há um caminho, no entanto, que oferece esperança a Kiev, segundo o ex-comandante da NATO (entre 2013 e 2016). “Se o Ocidente decidir dar à Ucrânia o que precisa, vence a guerra”, garantiu o general de quatro estrelas, sublinhando: “Esta guerra vai terminar exatamente como os decisores políticos ocidentais querem e desejam que termine.”

A necessidade de mais armas tem motivado apelos desesperados de Volodymyr Zelensky, que indicou que a luta contra Putin não é apenas de Kiev. “Ele não vai parar até que todos nós acabemos com ele juntos”, frisou.

De acordo com o ISW (Instituto para o Estudo da Guerra), think tank com sede em Washington DC, há consequências terríveis do congelamento do conflito ou um triunfo de Putin. Uma Ucrânia derrotada empurraria um exército russo experiente em combate consideravelmente maior do que as forças pré-invasão para perto da fronteira da NATO, do Mar Negro ao Oceano Ártico – seriam necessários sistemas avançados de defesa aérea que apenas as aeronaves Stealth americanas podem desafiar, deixando lacunas na dissuasão dos Estados Unidos contra a China.

Para o ISW, um conflito congelado seria pior do que continuar a ajudar a Ucrânia porque daria a Putin tempo para se preparar para um esforço de guerra renovado e para um confronto com a NATO.
“A luta da Ucrânia é a luta da América”, salientou Tom Malinowski, ex-diretor sénior do Conselho de Segurança Nacional (NSC) dos EUA. “Não queremos ver Putin vencer. O que quer que a Ucrânia, os Estados Unidos e os nossos aliados decidam fazer para levar esta guerra a uma conclusão favorável no próximo ano depende da aprovação desta ajuda, porque se não for, então Putin ganha confiança, impulso e alavancagem.”

A contraofensiva ucraniana, que começou em junho de 2023 com o objetivo de reconquistar território ocupado pela Rússia, não produziu os resultados esperados por Kiev. “A guerra de manobra começa com a superioridade aérea”, sustentou Breedlove. “Não demos à Ucrânia o que ela precisa para estabelecer a superioridade aérea.”

“Não estamos a dar-lhes o que precisam para vencer. Em vez disso, estamos a dar-lhes o suficiente para permanecerem no campo de batalha”, sustentou o general. “Os líderes ocidentais aceitaram os seus medos” e, como tal, são “incapazes de pensar no que significa um Putin derrotado”.

Segundo Gustav Gressel, membro sénior de política do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), a contraofensiva de Kiev foi prejudicada pela lenta entrega de veículos blindados de manobra. “Os veículos de combate Bradley dos EUA e os tanques Leopard de fabrico alemã teriam sido mais eficazes se tivessem sido entregues quando a integridade das forças mecanizadas da Ucrânia era melhor”, explicou, salientando a pouca experiência das tropas ucranianas. “Depositaram a sua fé nas brigadas recém-formadas. Ora, sabemos desde a II Guerra Mundial que as formações novas precisam do seu tempo para trabalhar.”

Não foi apenas a falta de cobertura aérea que prejudicou a contraofensiva da Ucrânia. “O Ocidente subestimou a rapidez com que a guerra eletrónica russa adotaria a munição de precisão controlada por GPS e a tornaria menos eficaz”, disse Gressel. “Estou profundamente preocupado com este ano, porque será um ano muito difícil para a Ucrânia. Não aumentámos a nossa produção de munições, mesmo para bombas simples de artilharia e morteiros, ao ponto de podermos conceder à Ucrânia superioridade de fogo”, sustentou.

Viktor Kovalenko, analista de defesa e antigo soldado ucraniano, defendeu uma mudança de rumo. “Acho que já é hora de os parceiros ocidentais da Ucrânia mudarem para a estratégia comprovada da Guerra Fria”, referiu, o que significa dissuadir e conter a Rússia. “O apoio ocidental à Ucrânia deve ser reorientado para a construção de fortificações e capacidades de defesa multifacetadas na Ucrânia, para a formação dos seus recrutas e para o aumento da sua produção de armas, de modo que quaisquer novas tentativas russas de atacar sejam recebidas com fogo e fúria”, disse Kovalenko.

“Vladimir Putin continua à procura onde pode ter vantagem. Mas uma transição para uma estratégia defensiva da Ucrânia, combinada com a dissuasão, não lhe dará realmente vantagem porque os ucranianos não se renderão de qualquer maneira”, finalizou.

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