Estágios remunerados nas escolas apenas em Lisboa e Algarve: surpresa na proposta do Governo ‘choca’ setor da educação
Um dos trunfos do Governo para atrair jovens para o ensino – o regresso dos estágios remunerados nas escolas – surpreendeu: só vão ser autorizadas a criação de núcleos de estágio nas regiões onde há escassez de docentes, ou seja, os estudantes teriam de ir para Lisboa ou para o Algarve, o que causou não só o descontentamento nas escolas e faculdades de educação, mas também entre o grupo de trabalho que aconselhou o Ministério da Educação nesta reforma.
De acordo com a edição desta segunda-feira do jornal ‘Público’, a versão final do diploma apanhou de surpresa as instituições do setor devido às diferenças em relação à versão que esteve em discussão pública durante meses. O novo diploma ainda não foi publicado, mas, nas reuniões mantidas com os ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior nas últimas semanas deram às instituições a intenção do Governo em autorizar apenas estágios remunerados nas regiões com maior carência de docentes.
Os docentes estagiários terão uma remuneração de cerca de 1.600 euros mensais brutos para um horário completo. Com este regime de estágios, “os estudantes usarão a sua remuneração para pagar um quarto barato e pouco mais, em regiões onde o custo de vida é maior do que o da cidade onde vivem”, lamentou Alexandro Franco de Sá, coordenador do Conselho de Formação de Professores na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
A necessidade de se deslocarem para Lisboa ou Algarve é motivo de preocupação entre os estudantes. “Tenho alunos do primeiro ano que já me disseram: ‘Se tiver de ir estagiar para Lisboa, não vou.’”, reconheceu Carlos Teixeira, diretor da Escola Superior de Educação de Bragança. “Não é um princípio bem pensado. A formação de professores foi condicionada pela necessidade de suprir a falta de docentes”, apontou o também presidente da Aripese, associação que reúne várias escolas superiores de educação.
“Para o Ministério da Educação, foi a forma “de tentar arranjar professores rapidamente e em força, procurando-os por todo o lado onde possam brotar”, acusou Franco de Sá. “O Governo diz que acabou com os professores de casa às costas, mas quer substituí-los por estudantes de casa às costas.”
Não são apenas as escolas a criticar a intenção do Governo: no grupo de trabalho que recomendou a reforma reina a insatisfação sobre a versão final do diploma. “Está imensamente longe do que foi proposto. Este diploma acaba por assegurar uma formação de professores pior do que a tínhamos até aqui”, garantiu a coordenadora Carlinda Leite.