“Para conseguirmos aumentar o nosso nível de poupança, temos de fazer uma de três coisas”: Estes são os conselhos de uma especialista em finanças pessoais

A capacidade de poupar não é apenas uma prática financeira, é um alicerce para a estabilidade e crescimentos futuros.

No Dia Mundial da Poupança, a Executive Digest falou com Bárbara Barroso, Fundadora do Money Lab e especialista em finanças pessoais, para perceber o que é poupar e como é que os portugueses e os executivos lhe atribuem importância

 

Quais são as estratégias para economizar dinheiro em despesas do quotidiano sem comprometer a qualidade de vida?

Quando falamos sobretudo em poupança, temos de entender que esta é o rendimento disponível, ou seja, a diferença entre as receitas e as despesas. Há aqui dois pratos da balança.

Para conseguirmos aumentar o nosso nível de poupança, temos de fazer uma de três coisas: ou reduzimos as nossas despesas; ou aumentamos as nossas receitas; ou fazemos uma combinação de ambas.

Muitas vezes, quando falamos em poupar, há uma tendência a olharmos só para o lado das despesas, ou seja, como é que podemos reduzir, como é que podemos cortar, e efetivamente isto é o efeito mais rápido.

Mas, a determinada altura já não é possível cortar mais, o foco que temos para conseguir aumentar a nossa capacidade de poupança é aumentar as receitas.

 

E como podem os portugueses fazer isso?

As pessoas podem arranjar formas de, dentro das suas competências profissionais, conseguir rendimentos com horas extra, um trabalho extra ou dar uso aos talentos que possam ter, ou olhar por exemplo para algumas coisas que não necessitamos e temos em casa e que podemos vender e transformar em dinheiro.

Deve-se desenvolver uma capacidade para empreendedorismo e para gerar receita que não é ensinada na escola, que nos ensinou a sermos trabalhadores por conta de outrem e não nos abriu as portas para sermos empreendedores.

Temos de expandir os nossos horizontes e procurar outras formas de conseguirmos ter um rendimento extra.

 

Quais os erros mais comuns que as pessoas cometem ao tentar economizar dinheiro, e como evitá-los?

O principal erro é não ter uma consciência de para onde vai o seu dinheiro, isto significa fazer um orçamento ou ter um mapa de fluxo de caixa onde estão registadas não só as receitas como também as despesas. Isto é importante para termos uma clara noção para onde vai o nosso dinheiro.

Só tendo uma fotografia exata, precisa, ao cêntimo, de para onde vai o nosso dinheiro é que podemos definir um caminho para a poupança.

Este acaba por ser o principal erro. Há uma desvalorização do orçamento, que nos permite ter uma clareza das nossas finanças pessoais.

 

Qual é a importância de ter um fundo de emergência e como é que deve ser gerida?

O fundo de emergência é uma quantia de dinheiro que devemos ter de parte para fazer face a imprevistos. Idealmente deveria ter entre seis a 12 meses do custo de vida mensal. E como sabemos o custo de vida mensal? Com o orçamento que eu falei anteriormente.

Imaginemos que tenho despesas de 1.000 euros, para tal teria de ter seis ou 12 mil euros no fundo de emergência. Mas isso pode ser difícil. Nesse caso, estabelecemos como patamar um mês, e depois três meses de fundo de emergência.

Para mim faz todo o sentido que todos os portugueses tenham um fundo de emergência, porque a vida não é um Excel e os imprevistos acontecem. Quem acha que não é preciso, não vive cá, porque faz todo o sentido, independentemente de ser uma pessoa que ganha um salário mínimo, onde é mais difícil constituir a reserva, mas é exatamente para quem ganha menos que esta regra é mais importante.

 

Em termos de investimentos de baixo risco, quais são as opções mais recomendadas para quem está a pensar em poupar a longo prazo?

Até agora falei apenas em aumentar os rendimentos sem falar do investimento, só por via de aportes de capital próprio, mas obviamente que uma das formas de aumentar as receitas e os rendimentos é eu investir o meu dinheiro porque vai gerar mais dinheiro.

Há sempre um ponto importante para além do perfil da própria pessoa, mesmo imaginando um português com um perfil conservador que é: Qual é o meu objetivo? Sabendo que o perfil da pessoa e o risco que somos capazes de assumir está relacionado com a rentabilidade que eu posso esperar.

Deixo o alerta que uma pessoa com um perfil conservador não pode esperar ter grandes rentabilidades.

Quando falamos de perfil conservador, estamos a falar de perfis que vão aplicar as suas poupanças ou em produtos capital garantido, ou produtos de menor risco, ou mesmo que faça a sua carteira de investimento com alguns ativos que até podem ter risco.

Para quem está a começar e que queira rentabilizar as suas poupanças, os Certificados de Aforro acabam por ser um instrumento interessante até para a constituição do fundo de emergência.

Do mesmo modo, alguns depósitos a prazo começam a oferecer taxas mais interessantes, devido à subida das taxas de juro.

Estou a dar estes dois exemplos porque são investimentos que já têm uma rentabilidade acima de 0%.

Mesmo com um perfil conservador podemos ir para outros instrumentos como PPRs, que possam envolver fundos de investimento, mas convém também termos a capacidade de os entender, e por isso é que a educação financeira é tão importante.

 

Como analisa a educação financeira dos líderes empresariais portugueses?

Quando falamos de educação e literacia financeira cabe muita coisa, e nem todos sabemos tudo, porque temos componente de gestão de orçamento, componente fiscal, de investimentos, de reforma, podemos incluir heranças.

Relativamente aos empresários, e olhando para o tecido empresarial português que é constituído sobretudo por micros e Pequenas e Médias Empresas (PME), se não nos ensinam na escola a educação financeira para a gestão básica, muito menos ligada com as finanças pessoais e empresariais.

Um dos erros muito frequentes dos empresários é o misturar das finanças pessoais com as finanças empresariais.

Muitas vezes têm dificuldade em entender um balanço, uma demonstração de resultados, a entender o próprio fluxo de caixa. Quando olhamos mesmo a nível executivo para as suas finanças pessoais, a literacia financeira também é baixa.

Ou fazemos o nosso próprio caminho de aprendizagem, ou é muito difícil, mesmo para executivos, entender as componentes das finanças pessoais e pessoais.

 

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