Mapa da saúde mental da Europa: Portugal é um dos países com piores índices de transtornos psicológicos
Conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente. Contas da luz, eletricidade ou gás. Crise climática. Subida da prestação do crédito à habitação. Covid-19.
A realidade que nos rodeia influencia a estabilidade mental das pessoas e segundo o Eurobarómetro da saúde mental, publicado este mês, 62% dos europeus afirmaram que os acontecimentos mundiais recentes afetaram de alguma forma o seu bem-estar mental. Em Portugal, esse valor cresce para 73%, um dos mais altos da UE – maior só a Lituânia, com 74%, e longe dos 63% dos espanhóis que reconheceram os mesmos problemas.
Na UE, a diferença está na economia, ou seja, os cidadãos de economias mais fortes são os que menos danos apresentam no seu bem-estar mental. De acordo com os números publicados pelo Eurostat, a percentagem da população que apresentou sintomas depressivos subiu, na União Europeia, 8% – já Portugal apresentou uma redução de 16,8%, entre 2014 e 2019. França, por exemplo, registou uma subida de 54%, a mesma de Malta. A Croácia registou uma ‘escalada’ de 129% no número de casos.
Quase metade dos inquiridos (46%) respondeu que sofreu algum problema psicossocial, como sentir-se deprimido ou ansioso, nos últimos 12 meses – a insegurança e a frustração são emoções cada vez mais reconhecidas no quotidiano, o que fez aumentar o número de pessoas que procurou serviços de cuidados. Portugal, uma vez mais, apresenta um cenário bem pior em relação à UE: 57% dos portugueses revelaram ter problemas emocionais, 3 pontos percentuais em relação à média europeia. O país em pior situação é a Lituânia, com 69%, em contraste com a Dinamarca, com apenas 34%.
Identificar estes sinais são o primeiro sinal de alerta para problemas mais graves, mas, no entanto, se não houver uma rede de recursos suficientes para responder ao problema a situação tende a tornar-se pior. Mais de metade dos europeus (54%) com problemas de saúde mental referiu que não recebeu ajuda de um profissional – em Portugal, 55% reconheceu ter passado pelo mesmo.
A União Europeia tem trabalhado num plano de cobertura e na criação de um manual de ação para a saúde mental desde 2008, ano em que o cuidado mental foi institucionalizado com um direito humano, devido ao aumento das incidências – quase 11% da população apresentou transtornos mentais.
Os ataques de pânico ou ansiedade, em 2021, segundo dados do CIS, já afetaram 15,8% da população europeia, um problema pior entre os jovens, sendo que 30,3% das pessoas entre 18 e 24 anos afirmou já ter sofrido com eles. O consumo de antidepressivos cresceu exponencialmente: segundo a OCDE, nos últimos 12 anos, a utilização diária destes medicamentos aumentou na Europa – em 2010, Portugal tinha 78,7 (por cada mil habitantes) que consumiam diariamente antidepressivos, número que subiu em 2022 para 150,5.