Quase metade dos senhorios pondera denunciar contratos de arrendamento se Governo avançar com travão à atualização das rendas, aponta sondagem

Se o Governo colocar um travão às rendas em 2024, quase metade dos senhorios pondera denunciar os arrendamentos que tem no mercado, indicou esta quinta-feira uma sondagem da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP): 46% dos inquiridos manifestou a intenção se avançar o travão imposto à atualização das rendas que, legalmente, se deveria fixar em 6,94% – 93,6% não considera aceitável o travão.

De acordo com o inquérito, um terço (33%) dos participantes pretende negociar com os inquilinos um valor de renda equilibrado para ambas as partes: já 25% respondeu que vai aumentar as rendas dos imóveis que tem vagos para compensar as perdas. Há ainda 24,5% que pondera transferir os seus imóveis para segmentos de menor risco, como alojamento a estrangeiros ou estudantes. Por último, 22% dos inquiridos mostrou-se disponível para participar em manifestações, protestos e abaixo-assinados, o que, segundo a ALP, é demonstrativo da revolta instalada no mercado.

O desagrado dos senhorios com o possível travão deve-se ao facto de mais de 63% dos inquiridos terem considerado que as rendas que auferem pelos imóveis são baixas face aos valores de mercado – um em cada cinco assume que suportavam rendas em atraso dos seus arrendatários. Rejeitaram, no entanto, que exista um clima de animosidade entre senhorios e inquilinos, como por vezes é promovido na opinião pública: 47% referiu ter uma relação de cordialidade apesar de distante; já 29% indicou ter uma boa relação e de proximidade; apenas 3,7% apontou uma relação conflituosa com os inquilinos.

“Os senhorios não são os culpados desta crise. Se há habitação é graças a eles. Se há arrendamento é graças a quem aforrou e investiu neste mercado, sem contar que o risco maior deste investimento viria do lado do Estado”, acusou esta quinta-feira Luís Menezes Leitão, presidente da ALP.

“A ALP adverte há oito anos publicamente que as políticas adotadas pelos sucessivos Governos eram irresponsáveis e nos levariam ao ponto onde estamos. Em oito anos tudo poderia ter sido diferente se tivesse havido outro rumo e estratégia”, acusou o responsável, salientando que “não é a incumprir ou a alterar leis sistematicamente que vai haver mais habitação e a preços mais acessíveis”.

“Os senhorios – sejam eles pequenos ou grandes investidores – têm de ter um sinal inequívoco de que há estabilidade legislativa em Portugal. Ao Governo cabe apoiar os arrendatários que têm carência comprovada, sem desestabilizar mais um mercado que já é uma bomba-relógio”, concluiu Luís Menezes Leitão.

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