“Não há razão para alarmismo”, indicou esta sexta-feira o infeciologista António Silva Graça, em declarações à ‘RTP’, sobre o caso da bactéria multirresistente ‘Klebsiella pneumoniae’, encontrada no serviço de neonatologia do Hospital de Santa Maria, que afetou 15 bebés internados e foram colonizados com a bactéria multirresistente que obrigou a encerrar o serviço – três tiveram alta e um morreu.
Segundo o especialista, “não há razão para alarmismo” e a unidade teve “um procedimento normal numa situação que não é habitual nem normal”, garantindo que o aparecimento da bactéria “não teve a ver com as instalações, desde que haja e, há naturalmente, procedimentos de controlo da infeção. Eles existem no Hospital de Santa Maria”.
“O que é notícia é precisamente que os procedimentos de controlo da infeção estão a funcionar. Primeiramente isolaram no próprio serviço os prematuros que tinham essa bactéria, foi evidente que ela se continuava a transmitir, e chegou-se a uma situação em que é desejável não internar mais prematuros naquele serviço para evitar que sejam contaminados e recebam a mesma bactéria”, explicou.
A bactéria em questão, a ‘Klebsiella pneumoniae’, “não tem nada de estranho” mas tem a “particularidade de desenvolver mecanismos que a podem tornar resistente a alguns antibióticos, nomeadamente aos mais utilizados”.
Existem mais bactérias – “pouco mais de meia dúzia”, frisou – que têm a “particularidade de o mecanismo de adaptação de resistir aos antibióticos”. “Sabemos que esta particularidade habitualmente desenvolve-se por exposição a esses antibióticos, por vezes em que o seu uso não é o mais adequado ou é excessivo”, indicou.
“Estas bactérias, a nível hospitalar, tornam-se resistentes e dificultam o tratamento das infeções. As opções terapêuticas que temos para tratar essas infeções são menores e diferentes das habituais, o que faz com que os quadros clínicos sejam mais graves”, disse Silva Graça.
“Bebés estão estáveis”, garante hospital
Os 11 bebés colonizados com a bactéria multirresistente “estão estáveis” e os outros dois prematuros que testaram negativo estão em isolamento, indicou esta sexta-feira a unidade hospitalar. Segundo o diretor do serviço de infecciologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Álvaro Pereira, a maior parte dos bebés são “grandes prematuros” e, independentemente de estarem colonizados com a bactéria, têm de permanecer no hospital.
“Estes bebés vão ter alta quando tiverem o desenvolvimento adequado que lhes permita ir para casa. Esta bactéria não interfere em nada na sua alta, como em qualquer doente do hospital”, disse o médico.
Sobre o bebé que morreu, a médica Raquel Gouveia escusou-se em avançar mais pormenores, uma vez que “ainda não há dados conclusivos”. A especialista referiu que, desde que o serviço teve conhecimento da bactéria, foi aplicado “o protocolo habitual de pesquisa nos bebés que não estão infetados” e foram separados dos restantes, estando isolados.
Estes dois bebés não são transferidos para outros estabelecimentos de saúde “porque são bebés instáveis e o risco da transferência é grande”, afirmou, acrescentando que atualmente só estão a ser feitos partos em Santa Maria em grávidas de termo e cujos bebés não necessitam de internamento na Neonatologia.
Os dois médicos avançaram também que os 11 bebés colonizados não têm qualquer tipo de infeção. “Estes bebés são muito frágeis pela sua prematuridade e outras patologias que têm. Estão estáveis deste ponto de vista, estão colonizados com esta bactéria e nós temos todos os cuidados habituais para evitar que haja qualquer infeção com esta ou outra bactéria”, disse Raquel Gouveia.
O diretor do serviço de infecciologia do CHULN sublinhou que “estes bebés estão em risco pela sua prematuridade como qualquer doente débil e frágil” que está internado num hospital, que corre o risco de fazer infeções graves. No caso destes bebés, explicou, podem fazer infeções pela sua “prematuridade e fragilidade”. “Estes bebés não estão a passar por grande gravidade. É uma situação grave para o hospital […] porque se estes bebés vierem a fazer infeção podem ser mais difíceis de tratar”, referiu.
O médico explicou que nos hospitais, sobretudo dos de última linha, costumam aparecer casos isolados de bactérias, mas não é comum uma situação como esta, em que há um surto. Segundo o especialista, a bactéria foi detetada há cerca de 15 dias “numa situação muito benigna”, quando apareceu um bebé com remelas nos olhos, tendo sido depois estudada a possibilidade de a bactéria estar em outros bebés. Álvaro Pereira disse ainda que esta bactéria nem sempre aparece nas análises, podendo só ser detetada dias depois.
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