JMJ: Risco de surtos de Covid-19 ou mpox é “mínimo” mas “não estão reunidas condições de segurança se for necessário ativar um plano de contingência”

Portugal não deve temer um surto de mpox ou Covid-19 derivado da realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que arranca no próximo dia 1: a presença em Lisboa – e em diversos pontos do país – de mais de um milhão de peregrinos que querem estar perto do Papa Francisco pode potenciar o risco de transmissão de doenças infecciosas, como a mpox ou a Covid-19, no entanto, os riscos são mínimos, dada a elevada taxa de vacinação.

Segundo Bernardo Gomes, médico de Saúde Pública e investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), “estamos perante um evento em massa, o que por definição sobrecarrega a estrutura de saúde e social e pode levar a riscos adicionais”. No entanto, estes são mínimos, garantiu, em exclusivo à ‘Executive Digest. “Há riscos que são evidentes, estamos a falar de pessoas de todo o mundo e podemos ter a introdução de uma doença ou outra. Mas temos uma elevada taxa de vacinação, pelo que os riscos são mínimos.”

No entanto, há problemas associados a uma concentração massiva de pessoas na capital do país. “O risco tem a ver com a sobrecarga logística de Lisboa, onde os serviços de saúde não são famosos. A situação é crítica mas na sobrecarga de serviços”, apontou o especialista.

“Há obviamente preocupações na resposta dos serviços, uma vez que o estado de base do SNS em Lisboa não é famoso. Pode haver planos, estou certo de que foi feito tudo o que possível para a JMJ, mas enquanto não resolvermos por base haverá sempre problemas”, frisou, garantindo que “como há muito gente jovem associada ao evento, não deverão registar-se muitas ocorrências. As temperaturas também não estarão muito elevadas, temos estes fatores a protegerem-nos. Não é um evento que me preocupe particularmente”, finalizou.

Também Tiago Correia, professor de saúde internacional do IHMT-NOVA, não se mostrou preocupado com a presença de mais de um milhão de pessoas em Portugal para a Jornada Mundial da Juventude. “Só se levanta a questão porque passámos por uma pandemia da Covid-19. Antes nunca se questionou se haveria riscos de saúde pública para a realização destes eventos. A pergunta é: qual deve ser a resposta de saúde pública para um evento destes? A nível profissional, infraestruturas ou testagem. Sobretudo testes, para permitir uma monitorização rápida, em caso de algum surto de algum vírus ou bactérias”, referiu o especialista.

“Perante esta situação em concreto, há que tomar as medidas necessárias mas preventivamente não há nada a fazer”, frisou. “O risco acrescido existe como existe para algum evento de massa. Temos de perceber o que é equilibrado fazer perante esta situação concreta.”

“Temos de assegurar equilíbrio entre vigilâncias, rastreios e permitir que os eventos tenham lugar sem importunar as pessoas. Não há uma ameaça concreta declarada, mas temos de ter a certeza de ter a capacidade de fazer testes”, referiu, salientando que “ir para além disto é despropositado”.

A principal preocupação para Tiago Correia está, no entanto, na capacidade de resposta da saúde em Portugal ao desafio. “Não me dá confiança para tanta gente. Precisamos de medidas e tenho dúvidas que isso esteja assegurado, nem que seja devido à contestação dos profissionais. Tenho a certeza absoluta que, perante um caso concreto de risco de saúde pública, os médicos vão estar presentes mas se houver alguma crise… será feito em cima do joelho. Não estão reunidas as condições de segurança se for necessário ativar um plano de contingência se acontecer alguma coisa – só para fazer mais uma gestão de danos”, finalizou.

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