A Circulação Meridional de Reversão do Atlântico (AMOC), um grande sistema de correntes oceânicas (incluindo a Corrente do Golfo) que transporta água quente dos trópicos para o Atlântico Norte e regula grande parte do clima mundial, pode entrar em colapso em meados do século – na realidade, pode ocorrer em qualquer momento após 2025, devido às contínuas emissões de gases de efeito estufa.
Esta é a conclusão de um estudo de dois investigadores do Niels Bohr Institute, em Copenhaga (Dinamaraca), publicado esta terça-feira na revista científica ‘Nature Communications’. De acordo com os cientistas, Peter Ditlevsen e Susanne Ditlevsen destacaram o impacto das atividades humanas no sistema climático da Terra e revelaram que, após ter sido detetado um progressivo enfraquecimento dessas correntes oceânicas nos últimos anos, os diferentes sinais de alerta, como o aumento da variância (perda de resiliência) e o abrandamento progressivo do AMOC, apontam para um colapso total – apesar de as avaliações do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) terem considerado improvável a hipótese.
“Aqui fornecemos uma significância estatística e estimativas temporais baseadas em dados. E estimamos que um colapso do AMOC vai ocorrer em meados deste século no atual cenário de emissões futuras”, escreveram os autores.
A conclusão é polémica, de acordo com Niklas Boers, professor de Modelagem do Sistema Terrestre na Universidade Técnica de Munique. “Embora a afirmação qualitativa de que o AMOC tenha perdido estabilidade ao longo do século passado seja verdadeira e apoiada pelos dados, as incertezas são muito altas para estimar com segurança o momento da inflexão”, referiu.
O AMOC é um dos elementos climáticos mais importantes do planeta. As correntes que o compõem têm o poder de mudar todo o sistema climático da Terra para um estado irreversível. E pode acontecer de forma súbita. Um possível colapso é motivo de grande preocupação entre os cientistas e traria sérios impactos tanto no clima da região do Atlântico Norte como no resto do mundo.
De acordo com vários estudos paleoclimáticos, algumas das flutuações climáticas mais fortes e abruptas do passado, como os chamados ‘eventos Dansgaard-Oeschger’ durante o último período glacial, há cerca de 12 mil anos, foram causadas pelo colapso e subsequente recuperação do AMOC.
Durante esses eventos, o hemisfério norte experimentou flutuações médias de temperatura de entre 10 e 15 graus em apenas uma década. A força do AMOC, no entanto, só começou a ser monitorizada continuamente desde 2004 – as observações apontaram que está a enfraquecer, embora fossem necessários registos mais longos para avaliar a tendência.
Para os especialistas, a análise das temperaturas da superfície no Atlântico Norte, entre 1870 e 2020, forneceu informações mais robustas sobre as tendências de temperatura e permitiu encontrar os primeiros sinais de uma transição crítica no sistema AMOC, que pode entrar em colapso total a partir de 2025 e não depois de 2095, como estava estabelecido. O estudo também apontou que, durante o período analisado, as concentrações de CO2 na atmosfera também aumentaram implacavelmente, embora haja outros mecanismos capazes de provocar mudanças drásticas no AMOC.














