Barómetro: Super-ricos já pensam duas vezes antes de comprar um iate
À primeira vista, este é um universo que parece interessar a um grupo muito restrito de consumidores. Mas longe disso: as vendas de embarcações de luxo são um barómetro económico bem afinado.
Numa economia incerta, até os ultra-ricos podem ficar nervosos com a perda de 50 milhões de dólares num barco. Os vendedores de super iates como Thom Conboy estão a ter que fazer mais manobras para conseguirem fechar negócio. O que tem afectado as vendas? A lista inclui desafios globais como a guerra comercial dos EUA com a China, um Brexit confuso e a Alemanha à beira da recessão.
Até Setembro, os fabricantes de iates milionários só tinham vendido 102 – um valor que sugere que as vendas deste ano ficarão bastante aquém dos 199 conseguidos em 2018. De acordo com a SuperYatch Times, um site especializado em barcos de recreio, citado pela Bloomberg.
As vendas de barcos e veículos de recreio, bem como jantares em restaurantes de luxo ou cirurgias plásticas por motivos não clínicos, podem ser um bom barómetro da economia e extraírem conclusões se estes itens decaírem de forma consistente, de acordo com Michael Skordeles, chefe da macro estratégia na SunTrust Banks nos EUA .
“Não precisa de ter um barco a menos que seja pescador”, disse Skordeles, que, no entanto, acredita que os EUA evitarão a recessão pelo menos até 2020 por causa dos números robustos de emprego e salários.
Os barcos são uma despesa que pode ser cortada quando a economia começa a decair, e o sector tem-se debatido ansiosamente, o que está por trás de uma queda recente de 7% nas vendas na indústria norte-americana destes barcos de recreio em determinadas categorias, em comparação com o ano anterior, reporta a Bloomberg.
Por enquanto, muitos na indústria esperam que a queda só tenha resultado de um início tardio de Verão no Centro-Oeste, em vez de indicações precoces de uma recessão. Uma queda mais acentuada nas vendas de veículos recreativos também levanta questões, embora pelo menos parte disso esteja ligada ao aumento de custos das tarifas sobre as importações chinesas.
“É difícil ter uma visão realmente clara do próximo ano”, disse Chuck Cashman, director de receita da MarineMax, uma rede concessionária de barcos sediada na Flórida com 67 pontos de venda em todo o país. Apesar das quedas em algumas categorias, as vendas de lanchas em 2019 devem atingir o segundo nível mais alto em 12 anos, diz a Associação Nacional de Fabricantes Marinhos. De notar, que as vendas de novas lanchas nos EUA atingiram 276 mil unidades no ano passado, o nível mais alto desde a última recessão.
Vários corretores relataram fortes vendas na mostra de barcos de Fort Lauderdale, que os promotores consideram a maior exposição de água do mundo – embora os números finais não estivessem disponíveis, avança a Bloomberg. As vendas de barcos estão altamente correlacionadas com a confiança do consumidor, e alguns corretores da feira de Fort Lauderdale podem recitar de memória o índice de confiança amplamente seguido pelo Conference Board: um robusto 125,9 em Outubro.
Nas profundezas da Grande Recessão em 2009, a medida atingiu um ponto baixo de 25,3 e a indústria de barcos observou as suas vendas caírem 26% num ano.