Com menos dinheiro, mais despesas e piores condições de habitação: o retrato socioeconómico das famílias portuguesas

Os portugueses estão em maior risco de pobreza e as crianças e os idosos com mais de 65 anos são os grupos populacionais mais afetados pela pobreza, segundo dados de 2020, utilizados para a análise do relatório “Portugal, Balanço Social 2022”, da Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE, que atualiza o impacto da pandemia gerada pela Covid-19 e discute custo de vida em Portugal, traçando um retrato socioeconómico das famílias portuguesas.

O documento analisa a distribuição dos vários apoios concedidos às famílias, no âmbito da crise provocada pela pandemia de Covid-19, em Portugal, ao longo do ano de 2020, e dedica um capítulo aos desafios do custo de vida, que continuou a aumentar a partir desse ano.

No relatório são também descritos e caracterizados aspetos da pobreza monetária, privação material e social, condições de habitação e o acesso à educação e à saúde, relação com a situação laboral, o nível de educação e a composição das famílias.

Taxa de pobreza em subida: famílias com piores condições de habitação, mais dificuldade no acesso a cuidados e saúde e com maior insegurança alimentar
O relatório destaca que a taxa de risco de pobreza em Portugal aumentou em 2020 para 18,4% (1,6 pontos percentuais mais alta do queno ano anterior e acima da média da UE), mas assinala que “dados preliminares disponibilizados pelo INE, com base no ICOR 2022, mostram uma diminuição da pobreza em 2021”.

Também a taxa de privação material e social, em 2021, é de 13,5%, um aumento de 0,8 pontos percentuais face ao ano anterior. Ou seja, são mais os portugueses que abicam de gozar de uma semana de férias fora de casa, não conseguem fazer face a despesas inesperadas ou substituir móveis e equipamentos usados em casa.

Os dados apontam que, em 2020, 40,5% das pessoas desempregadas eram pobres e que uma em cada 10 empregadas eram também pobres. s famílias pobres de 2021 têm, segundo a caracterização do relatório, piores condições habitacionais (18,8% viviam em alojamentos sobrelotados), uma saúde pior (21,5% classificam o seu estado de saúde como mau ou muito mau) e mais dificuldade em aceder a cuidados de saúde (19,3% não conseguiram aceder a consulta ou tratamento de medicina dentária em pelo menos uma ocasião).

A desigualdade do rendimento disponível também aumentou entre 2019 e 2020, sendo que a incidência da pobreza e da desigualdade varia regionalmente, com a Madeira a ser a com maior taxa de risco de pobreza, e o Centro como região mais desigual.

Crianças e idosos sofrem mais com a pobreza
O relatório assinala que, segundo os dados de 2020, 20,4% das crianças em Portugal eram pobres, ou seja, mais de 345 mil menores. A percentagem tinha vindo a cair, mas registou um aumento de 1,3 pontos percentuais de 2019 para 2020. Estas crianças têm menos acesso à educação pré-escolar e arriscam maior insegurança alimentar.

No que respeita aos mais velhos, com acima de 65 anos, 20,9% eram pobres, ou seja 465 mil pessoas. Destas, 36% não conseguia manter a casa aquecida, 18,3 não conseguia comprar alimentos que permitissem fazer refeições completas e saudáveis. 5,4% dos idosos pobres passaram fome, por não conseguirem comprar comida.

Pandemia ainda demonstra impactos profundos
Em 2020, auge da pandemia da Covid-19, 18% das famílias sofreram uma diminuição de rendimentos, sendo que nas mais pobres a diminuição de rendimento ocorreu mais vezes (22,8%). São apontados motivos como a diminuição do tempo de trabalho ou a perda de emprego. Nesse ano 13% da população total e 13,8% da população mais pobre recebeu apoios do Estado no âmbito da Covid-19.

10% das crianças pobres entre 5 e 15 anos não conseguiram assistir às aulas online, o dobro da média. Também só um terço dos trabalhadores conseguiram trabalhar a partir de casa (teletrabalho) durante a pandemia.

Os acessos a cuidados de saúde viram também condicionamento: 37,9% das pessoas afirmava ter visto consultas ou tratamentos médicos cancelados devido à realidade da pandemia. A saúde mental foi afetada negativamente para 26,6% das pessoas, em média, com a percentagem a disparar para 29,6% no caso das pessoas pobres.

Custo de vida em sentido ascendente
O custo de vida vinha já a aumentar e, em 2020, 8 em cada 10 pessoas pobres dizia ter dificuldades em pagar as despesas habituais. Apenas 6 em cada 10, em média, da população em geral portuguesa afirmavam o mesmo.

Nos agregados familiares pobres, a insegurança alimentar foi uma preocupação, com um em cada cinco a afirmarem receios de não ter comida suficiente e 13,1% a afirmar que comeu menos do que devia.

Os custos da habitação eram dos que mais pressionavam as famílias: em 2020 gastavam em mésia 20,5% do rendimento disponível em custos com a habitação. A taxa de esforço subia nas famílias mais pobres para 38,4%

O relatório foi esta terça-feira, no “BPI All in One Lisboa”, em Lisboa, e contou com a presença de Artur Santos Silva, Curador da Fundação “la Caixa” e Presidente Honorário do BPI, e do diretor da Nova SBE, Pedro Oliveira, para a abertura, tendo-se seguindo a apresentação do relatório, pelos autores do estudo. O evento contou ainda com as presenças de Hunter Halder, da Refood, Joana Silva, da Católica Lisbon School of Business & Economics (CLSBE) e Natália Nunes, da Deco, para um painel sobre “Custo de vida em Portugal”. A sessão de encerramento esteve a cargo de Ana Paula Rodrigues, vice-presidente da ADENE – Agência para a Energia.

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