Invasão e gastos secretos ‘destroem’ orçamento da Rússia: despesas classificadas já são um terço do total

A Rússia tem mantido um terço das suas despesas orçamentais longe do olhar público, revelou esta terça-feira a ‘Bloomberg’ – ao todo, as despesas classificadas ou não especificadas até 24 de março subiram para 28,78 mil milhões de euros, segundo dados do Ministério das Finanças russo, mais do que o dobro do nível apresentado no mesmo período de 2022.

Segundo Alexandra Suslina, economista russa independente, o aumento dos gastos classificados indicou que as despesas relacionadas com a invasão da Ucrânia estão a aumentar. “É lógico assumir que os custos dos novos territórios também estão incluídos”, apontou, referindo-se às zonas da Ucrânia anexadas por Vladimir Putin.

Conforme sobem drasticamente os gastos com as forças armadas da Rússia, a defesa, sobretudo na categoria relacionada com a segurança nacional, só ‘perde’ para os programas sociais do Governo na proporção dos gastos.

Os gastos clandestinos reforçam o esforço de guerra de Putin, que prometeu “que não terá limitações” – a última vez que este item atingiu o pico, de cerca de 21%, foi em 2015, um ano após a anexação da Crimeia pela Rússia.

Segundo a lei orçamental da Rússia, o presidente tem o poder de determinar que programas secretos serão adotados e alocados como parte de vários planos de gastos. O desempenho fiscal da Rússia está disponível no “portal do sistema de orçamento conjunto” mantido pelo Ministério das Finanças e pelo Tesouro – os números sublinham as mudanças diárias na execução dos gastos públicos, mesmo que cada vez mais dinheiro esteja longe do escrutínio público.

Assim, os gastos com defesa nacional atingiram 4,62 mil milhões de euros até 24 de março – o dobro face a 2022 – e foram utilizados outros 3,23 mil milhões de euros em segurança e aplicação da lei.

Os números contradizem as autoridades russas, que justificaram o déficit orçamental recorde de janeiro e fevereiro último devido aos pagamentos antecipados feitos para apoiar as empresas e a economia.

No entanto, os dados indicam que o maior aumento foi para gastos com defesa, seguidos por transferências para as regiões russas. As categorias de educação e saúde também apresentaram ligeiros aumentos face a 2022, ao passo que os gastos com a economia e programas sociais permanecem em linha no mesmo período.

A mudança nas prioridades da despesa corre o risco de se consolidar ao longo do tempo. O Ministério da Defesa ordenou a duplicação da produção de armas essenciais e o Parlamento apresentou um projeto de lei para expandir a idade de elegibilidade para o serviço militar, enquanto o Governo procura expandir as forças armadas em mais 350 mil soldados.

“As sanções de 2022, até agora, não restringiram os gastos militares do Governo russo”,explicaram Susanne Oxenstierna e Emil Wannheden, analistas da Agência Sueca de Pesquisa de Defesa, num relatório. “Em vez disso, o Governo aumentou ainda mais os gastos militares para financiar o seu esforço de guerra na Ucrânia.”

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