Armas vs vídeos de gatos: TikTok ‘trava’ expansão de um dos maiores fabricantes de munições da Europa

Um dos maiores fabricantes de munições da Europa está a enfrentar um obstáculo ‘inesperado’ nos seus planos para expandir a sua maior fábrica: o TikTok. Mais bem explicado: o data center usado pela aplicação de partilha de vídeos curtos está a consumir todo o excendente de eletricidade da região.

A Nammo, copropriedade do Governo norueguês e de uma empresa de defesa finlandesa controlada pelo Estado, foi notificada recentemente de que não há excedente de energia para a sua fábrica de Raufoss, no centro da Noruega, uma vez que um centro de dados está a consumir eletricidade da região.

“Estamos preocupados porque vemos que o nosso crescimento futuro está ameaçado pelo armazenamento de vídeo de gatos”, lamentou Mort Brandtzaeg, CEO da Nammo, ao ‘Financial Times’.

A procura por munições ‘disparou’ devido à guerra na Ucrânia, que consome cerca de 6 mil cartuchos diários – o equivalente às encomendas anuais de um pequeno país europeu. O responsável destacou que a procura por projéteis de artilharia é mais de 15 vezes maior do que o normal.

Segundo o CEO da Nammo, a indústria europeia de munições precisa de investir 2 mil milhões de euros em novas fábricas apenas para satisfazer a procura da Ucrânia, ao que deve ser acrescido os restantes países europeus. “Vemos uma procura extraordinária pelos nossos produtos como nunca antes na nossa história”, apontou.

O TikTok está a construir três data centers este ano, com a opção de adicionar mais dois até 2025 em Hamar, a 25 quilómetros a leste de Raufoss. Questionado sobre se é coincidência que uma empresa de capital chinês atrase a expansão de uma empresa de armamento, Mort Brandtzaeg respondeu: “Não descarto que não seja pura coincidência que esta atividade seja próxima de uma empresa de armamento. Não posso descartar.”

Os especialistas garantiram que as disputas sobre que empresas e que tipo de indústria têm acesso prioritário às redes elétricas provavelmente vão aumentar em toda a Europa. Os centros de dados floresceram nos países nórdicos graças à eletricidade abundante e barata, bem como a um clima mais frio que reduz os custos de refrigeração.

Mas a mudança na energia limpa também está a fazer com que as empresas da indústria siderúrgica e de baterias migrem para os nórdicos, criando concorrência pelo acesso à eletricidade. “Será uma grande luta”, apontou um industrial do norte da Suécia. “Queremos aço ecológico ou centros de dados para o Facebook?”

Brandtzaeg defendeu ainda que os Governos devem estabelecer prioridades para as quais as indústrias podem ter acesso especial à energia. “Para a Europa, esta é uma das principais preocupações da indústria: uma indústria crítica deve ter acesso à energia”, alertou. “Não acho que seja uma coisa pontual, mas uma tendência para o futuro.”

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