Estudo aponta manipulação política pela internet em 70 países

O uso de redes sociais para manipulação das eleições chegaram a 70 países, garante estudo “Ordem Global de Desinformação-2019”, conduzido pela Universidade de Oxford.

Na edição de 2018, episódios deste tipo foram mapeados em 48 nações em 2018, crescimento de mais de 45%. No levantamento de 2017, foram registados casos em 28 locais, um aumento de 150%. As práticas, a que os autores chamam de “propaganda computacional”, transformaram-se num fenómeno global, afectando democracias e processos em todos os continentes, identifica investigação conduzida pelo Instituto de Estudos sobre a Internet da Universidade de Oxford, avança Agência Brasil.

O estudo estudo foi conduzido pelo Instituto de Estudos sobre Internet da Universidade de Oxford, na Inglaterra (OII), que publicou a primeira análise em 2017.

“Em cada país, há pelo menos um partido político ou agência de governo a usar redes sociais para moldar atitudes públicas domesticamente”, concluíram os autores. “Em um ambiente de informação caracterizado por altos volumes de informação e níveis limitados de atenção e confiança dos usuários, ferramentas e técnicas de propaganda computacional estão se a tornar uma parte comum e essencial das campanhas digitais e da diplomacia pública”.

A investigação encontrou evidências da acção de partidos ou forças políticas em 45 países. Na Índia, candidatos utilizaram conteúdos para enviar mensagens manipuladas a eleitores. No Brasil, os autores apontaram a realização, em 2018, de campanhas por meio do WhatsApp por partidos para “propositadamente difundir ou amplificar desinformação”, conduta também registada nas eleições da Nigéria neste ano.

Estratégias

A pesquisa também indicou iniciativas via WhatsApp promovidas por agências governamentais em pelo menos 44 nações. Estas participações envolvem desde agências da área de informação até órgãos vinculados às forças armadas. Esse comportamento foi registado em nações ricas, como Estados Unidos da América e Reino Unido. O Brasil não foi incluído entre esses casos.

Em muitas situações, partidos e governos aliam-se a empresas, colectivos apoiadores e organizações da sociedade civil. A prática também se profissionalizou. Em pelo menos 25 países, as iniciativas foram realizadas por empresas cujo negócio trabalha a propaganda computacional como um serviço, desenvolvendo estratégias e ferramentas complexas para a sua execução.

No Brasil, partidos fizeram, em 2018, campanhas por meio do WhatsApp. Nas estratégias, 80% das campanhas nos países utilizaram bots para replicar conteúdos ou contas falsas para publicar mensagens automatizadas. Outra modalidade são as contas cyborgue, nas quais pessoas e bots operam de forma combinada. O Brasil foi indicado como local onde as duas estratégias ocorrem.

No que diz respeito ao material distribuído, em 89% dos países foi encontrada a difusão de mensagens contra opositores. Em 71% das nações, as campanhas actuaram com a propagação de apoios a governos ou partidos. Em 34% dos casos, foi adoptada a abordagem de espalhar publicações visando a polarização dos cidadãos e a divisão no país.

Além dessas táticas, responsáveis também recorrem ao assédio para desencorajar a participação política, formas de distração para confundir ou desviar a atenção da opinião pública sobre temas ou situações constrangedoras ou negativas a esses grupos. Somam-se a estas práticas de desinformação, amplificação de conteúdo e a presença de trolls (contas cuja abordagem agressiva visa destabilizar ou atrapalhar um debate online). O Brasil aparece como palco de todos esses tipos de estratégias.

 

Regimes autoritários e interferência externa

Em pelo menos 26 países, a propaganda computacional é empregada por regimes autoritários para controlo do debate público. Isso ocorre com a finalidade de diminuir ou contestar direitos dos cidadãos, para atacar grupos políticos oponentes e diminuir a força e o alcance de opiniões divergentes.

Outro fenómeno registado foi a influência externa nas disputas políticas de outras nações ou para actuar sobre audiências globais. Entre os países apontados pelo estudo com estas características estão Rússia, Índia, Irão, Paquistão, China, Arábia Saudita e Venezuela.

Além das agências russas que actuaram nas eleições dos EUA, outro país actua fora de suas fronteiras indicado pelo relatório foi a China. Os autores citam como exemplo os protestos em Hong Kong e a actuação para descredibilizar por meio de plataformas populares no país, como Weibo, WeChat e QQ.

O mesmo meio noticioso avança que o Facebook é o principal agente de campanhas de manipulação, utilizado em 56 países para a promoção de campanhas visando influenciar processos políticos. A segunda plataforma com mais casos registados foi o Twitter, canal escolhido para ofensivas orquestradas em 47 países. Em seguida vem WhatsApp, YouTube e Instagram. No Brasil, as campanhas de manipulação ocorrem fundamentalmente pelo WhatsApp, pelo Facebook e pelo Youtube.

Ler Mais





Comentários
Loading...