Lisboa é uma “bombarrelógio”: cerca de 334 mil edifícios e 600 mil pessoas em risco em caso de novo sismo como o de 1755
Passaram 267 anos: o terramoto de 1755 destruiu grande parte de Lisboa e terá provocado a morte de cerca de 20 mil pessoas. O sismo foi seguido de um maremoto – que se crê tenha atingido a altura de 20 metros – e de múltiplos incêndios. Foi um dos sismos mais mortíferos da história e os sismólogos estimaram que o sismo atingiu magnitudes de entre 8,7 a 9 na escala de Richter.
A questão, estimam os especialistas, não é se vai voltar a acontecer mas quando é que vai voltar a acontecer. Luís Matias, geofísico da Universidade de Lisboa, reconheceu, em declarações à ‘CNN Portugal’, que o “sismo de 1755, segundo os relatos históricos, foi o maior da Europa em termos de destruição desde os anos 1.000”. “Se amanhã vai haver um grande sismo? Não posso dizer que não”, apontou.
E quando voltar a acontecer, se fosse na atualidade, estima-se que 334 mil edifícios podiam colapsar, atingindo cerca de 600 mil pessoas. João Appleton, investigador coordenador do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), foi lapidar. “A Lisboa que conheço está em grave risco porque está lançada aos bichos. Continua a ser uma bombarrelógio”, precisou, sublinhando que apesar da legislação em vigor sobre a segurança de construção, “tenho a certeza que muitos projetos, mesmo contemporâneos, não respeitam as normas”.
Apesar de terem sido somente publicadas nos anos 1980 normas relacionadas com a construção, a maior parte das famílias em Lisboa vive em casas mais antigas – sobretudo na zona central da capital, como o Martim Moniz, Graça ou Campo de Santana. Em maior risco, avançaram os especialistas, estão as creches e bercários, assim como diversas escolas na região, pouco preparadas para enfrentar a violência de um terramoto.
Lisboa e Algarve são as duas regiões do país onde a probabilidade de haver sismos é maior. Um estudo recentemente publicado numa revista científica, da autoria de João Fonseca e outros investigadores, mostrou que as “taxas de deformação da crosta na vizinhança de Lisboa, ou seja acumulação de energia para o próximo sismo, têm ordens de grandeza superiores à que são oficialmente admitidas”.