Querer não é poder: os desafios dos jovens portugueses no acesso à habitação
Em Portugal, dois em cada 10 jovens entre os 30 e os 34 anos ainda vivem com os pais, situação justificada pelas dificuldades que encontram no acesso à habitação. Segundo o “II Observatório do Mercado da Habitação em Portugal” da Century 21, o nível de emancipação face aos pais vai aumentando com a idade, passando de 31,4% na faixa dos 18 aos 24 anos para 81,2% nos jovens com mais de 30 anos.
Em termos de género, as mulheres mostram-se mais independentes do que os homens: olhando para a generalidade dos jovens dos 18 aos 34 anos, verifica-se que 60,7% das mulheres já deixou a casa dos pais, o que compara com 57,8% dos homens.
O mesmo relatório indica que oito em cada 10 não vivem onde gostariam por dificuldades financeiras. Mesmo os 25,9% que já trabalham não conseguem ter os rendimentos necessários para a sua casa de sonho. Além da falta de meios, são apontadas como razões também o desemprego (6,4%), insegurança no trabalho (4,7%) e dificuldade em arrendar (4,4%).
Mas, atenção, viver sozinho não é sinal de independência financeira. Nem todos aqueles que conseguem, de facto, sair de casa dos pais vivem apenas dos próprios rendimentos: 37,2% dos jovens emancipados depende financeiramente da família ou parceiro. No geral, 19,2% dos jovens não tem qualquer tipo de rendimento, indicador que sobe para 38,9% no segmento dos 18 aos 24 anos.
Do total dos jovens inquiridos pela Century 21 – 800 pessoas –, 62,9% conta com menos de mil euros mensais e 17,2% tem ganhos inferiores a 500 euros. Apenas cerca de 12% recebe entre mil e 1500 euros por mês.
Casa própria ou arrendada?
O relatório da Century 21 revela que 53,8% dos jovens portugueses gostaria de ter casa própria, ao passo que 36,7% elege o arrendamento como opção preferencial. À medida que a idade vai aumentando, também cresce a predilecção por comprar casa.
Além disso, os inquiridos preferem que a sua primeira casa seja na cidade onde já vivem, dando prioridade a zonas periféricas do centro da cidade. Os jovens entre os 25 e os 29 anos são os que apresentam maior apetência (14,7%) para mudar de cidade ou região. Os jovens acima dos 30 anos, por seu turno, são os gostam mais da ideia de viver em meio rural.
Quanto ao tipo de habitação, quatro em cada 10 preferem apartamento. Por outro lado, para quem tem mais de 30 anos, a moradia é a casa de sonho – desejo partilhado por 36,6% dos algarvios. No geral, viver num estúdio é a segunda preferência. Coliving é a opção menos atractiva para os jovens, independentemente da faixa etária.
A Century 21 aponta ainda que casa ideal teria cerca de 82 metros quadrados, dois quartos e duas casas de banho. Ser nova ou usada é irrelevante, desde que esteja em boas condições. Os homens parecem ser mais exigentes em termos de metros quadrados.
Por outro lado, terraço, garagem e despesa são as zonas da casa mais fáceis de abdicar. Logo depois na lista de renúncias aparece o factor localização, com 17,8% a desistirem de viver no centro da cidade caso encontrem uma habitação ajustada ao orçamento previsto.