Governo de coligação? «Não vale a pena estragar uma boa amizade com um mau casamento»
O primeiro-ministro, António Costa, afastou nesta sexta-feira o cenário de uma crise política em Portugal. «Não há nenhum sinal que aponte para isso e não é esse seguramente o desejo dos portugueses», disse, em entrevista à “Antena 1”, garantindo que estes estão «globalmente satisfeitos com o resultado destes quatro anos».
O secretário-geral do PS não poupou elogios ao Governo, dizendo que, na actual legislatura, «foi possível obter estabilidade num quadro de uma solução política nova» e que »funcionou bem». Um dos sucessos desta solução política e da sua estabilidade, continuou, foi o facto de «termos sido capazes de manter bem firme a identidade de cada um, naquilo que tem de profundamente divergente».
Quanto a uma eventual coligação, o primeiro-ministro rejeita a ideia, mas apoia uma solução governativa idêntica à actual. «Não vejo que haja condições políticas objectivas, tendo em conta os programas de cada um dos partidos, para que um Governo de coligação seja mais estável que a solução governativa que tivemos actualmente», considerou, salientando que «não vale a pena estragar uma boa amizade com um mau casamento».
Sobre um cenário de maioria absoluta, Costa não se compromete, mas deixou claro que não pretende fazer «chantagem com os portugueses». «Todos desejamos seguramente o mesmo, que é termos o melhor resultado possível”, referiu, embora considerando que «é inútil estarmos a especular», pois «as pessoas querem saber mais o que pretendemos fazer se governarmos do que com quem é que vamos governar».
Para o primeiro-ministro, a prioridade está em encontrar uma «solução estável» para o país, que passa por um «esforço permanente» para chegar a «um entendimento o mais alargado possível, sobretudo em matérias que são estruturais», algo que «aconteceu nesta legislatura». «Cumprimos não só tudo o que foi acordado como, felizmente, a credibilidade internacional do país e a estabilização financeira e o crescimento da nossa economia permitiu-nos ir até mais além», assegurou, sublinhando que os partidos fizeram em conjunto «muitíssimo mais» do que estava no acordo assinado no início desta legislatura.
Costa reconhece que, «houve grandes avanços», mas faz notar que «ainda existem muitos problemas por resolver e que é preciso continuar para fazer mais e melhor». O chefe do executivo disse estar comprometido com as baixas de impostos que constam no programa e não com «uma espécie de leilão a ver quem dá mais a baixa de impostos», referindo-se às propostas da oposição. «O que o PSD e o CDS dizem é indemonstrável matematicamente, porque não é possível ter simultaneamente menos receita, mais despesa, e o saldo disto tudo ser ainda inferior. Portanto são manifestamente programas de quem não pretende governar, mas que simplesmente pretende ganhar votos», entende.
Se existirá um aumento real dos salários acima do valor da inflacção, respondeu que «a actualização dos salários da administração pública não existe há muitos anos» e desresponsabiliza o actual Governo. «Eu sei que muita gente nos acusa de termos tratado a administração pública de uma forma desigual, mas o que fizemos (…) foi repor os cortes que tinham existido em matéria de salários, horários e complementos», explicou.
Novamente questionado sobre a permanência do actual ministro das Finanças, Mário Centeno, no Governo, disse que «ninguém forma um Governo sem legitimidade para isso”, reafirmando que apenas fará os convites caso seja reeleito.