Reino Unido: Várias pessoas detidas por protestos contra a monarquia. Organizações alertam para violações do direito à liberdade de expressão
O Reino Unido despede-se da Rainha isabel II, a monarca que foi a figura mais alta do país ao longo dos últimos 70 anos. Contudo, apesar de o sentimento reinante ser de pesar e perda, várias pessoas encaram a situação como uma oportunidade para abrir caminho para a instituição de uma república e para eliminar a monarquia.
Entre domingo e esta segunda-feira, foram detidas várias pessoas, e outras mais terão sido abordadas pela polícia, por protestos contra o regime monárquico durante o cortejo fúnebre em Edimburgo, na Escócia.
Uma mulher que exibia um cartaz com a mensagem “Abolir a monarquia” foi detida em terras escocesas, no exterior da catedral de Santo Egídio, onde Carlos III era proclamado Rei, e terá de se apresentar no tribunal de Edimburgo para enfrentar acusações criminais.
NEW: The 22-year old woman who was arrested after holding up this anti-monarchy placard at St Giles’ Cathedral has now been CHARGED “in connection with a breach of the peace”, @PoliceScotland confirm.
Will appear at Edinburgh Sheriff Court at a later date. pic.twitter.com/gFdBkoISB6— Darshna Soni (@darshnasoni) September 12, 2022
Noutra ocasião, um homem de 22 anos gritou insultos ao Príncipe André durante o cortejo fúnebre, tendo sido detido pela polícia e acusado de “perturbar a paz”. De acordo com a imprensa britânica, o jovem terá sido atirado ao chão pelas autoridades presentes, enquanto tentava dizer a um dos agentes que não tinha feito nada de errado.
Prince Andrew heckled as the Queen’s coffin passes pic.twitter.com/85m9jUgszF
— Christopher Marshall (@chrismarshll) September 12, 2022
Também uma mulher foi escoltada pela polícia para fora das imediações do Parlamento, em Londres, onde mostrava um cartaz com a frase “não é o meu rei”.
And now this: https://t.co/vKF0CWPO2G
— Darshna Soni (@darshnasoni) September 12, 2022
Sobre os incidentes, uma fonte do gabinete da Primeira-ministra Liz Truss afirmou que “este é um período de luto nacional para a vasta maioria do país, mas o direito fundamental ao protesto continua a ser a pedra-angular da nossa democracia”.
Um dos protestantes foi Symon Hill, que terá gritado “quem é que o elegeu?” quando Carlos III era proclamado Rei na Escócia, este domingo, tendo descrito a atuação da polícia, que o retirou da multidão e o colocou numa carrinha policial, uma “violação grosseira da democracia”.
“A polícia abusou do seu poder para prender alguém que expressou verbalmente a sua ligeira oposição sobre um Chefe de Estado que é eleito de forma não democrática”, explica Hill.
Contudo, a polícia afirmou que teria sido detido “em ligação a distúrbios causados durante a cerimónia de proclamação local do Rei Carlos III em Oxford” e que terá sido libertado pouco tempo depois.
Silkie Carlo, dirigente do grupo de defesa das liberdade civis ‘Big Brother Watch’, contou ao ‘The Independent’ que violar o direito à liberdade de expressão é “desrespeitar flagrantemente os valores que definem o nosso país”.
“Se as pessoas estão a ser presas simplesmente por mostrarem cartazes de protesto, então é uma afronta à democracia e é altamente provável que estejam a agir ilegalmente”, salienta Carlo, acrescentando que “os agentes da polícia têm o dever de proteger o direito das pessoas para ao protesto, tal como têm o dever de facilitar o direito de as pessoas expressarem o seu apoio”.
Por sua vez, Jodie Beck, da associação ‘Liberty’, considera que “é vital” que as pessoas possam defender aquilo em que acreditam “sem enfrentarem o risco de criminalização”.
“É muito preocupante ver a polícia a aplicar os seus poderes abrangentes de uma forma tão pesada e punitiva para atacar a liberdade de expressão”, defende Beck.