Fome mundial e 5 mil milhões de mortes: Estudo mostra os resultados de uma possível guerra nuclear entre EUA e Rússia
A guerra entre a Ucrânia e a Rússia, que grassa há já quase seis meses, fez reemergir os fantasmas de uma guerra nuclear, considerando as múltiplas e frequentes ameaças lançadas pelo Presidente Vladimir Putin, principalmente contra os países ocidentais que apoiam as forças ucranianas, e que as relações entre os Estados Unidos e a Rússia, duas superpotências nucleares, estão nos níveis mais baixos desde a Guerra Fria.
Muitos observadores acreditam que a Rússia não estaria disposta a usar armas nucleares no âmbito da guerra na Ucrânia, mas é um cenário que, ainda assim, é possível, embora possa ser pouco provável.
Um estudo publicado recentemente na revista científica ‘Nature’ traça a ligação entre uma guerra nuclear e os impactos na segurança alimentar e na consequente sobrevivência das populações humanas, especialmente no que toca aos efeitos das detonações nucleares no clima e na produção de alimentos.
Uma das principais conclusões da investigação indica que uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a Rússia provocaria a morte de mais de cinco mil milhões de pessoas em todo o mundo.
“Uma guerra entre os EUA, os seus aliados e a Rússia – que possuem mais de 90% do arsenal nuclear global – poderia produzir mais de 150 teragramas [perto de 150 milhões de toneladas] de fuligem e um inverno nuclear”, explicam os especialistas.
“Ao passo que as quantidades de fuligem injetadas na estratosfera devido ao uso de algumas armas nucleares teriam um impacto global mais reduzido, se uma guerra nuclear começar, será muito difícil limitar a escalada”, alertam.
O novo estudo revela que “uma guerra nuclear, em primeiro lugar, contaminaria o solo e a água perto do local onde foram usadas as armas nucleares”. Por outro lado, as partículas emitidas pela detonação seriam dispersadas por todo o mundo, quando chegassem às camadas mais altas da nossa atmosfera, com impactos ao nível dos “sistemas globais de produção de alimentos em terra e nos oceanos”.
Os investigadores estudaram cinco cenários possíveis de guerras nucleares, que, consoante o arsenal dos países envolvidos no conflito, teriam impactos distintos sobre o planeta e sobre a segurança alimentar das populações humanas.
O cenário mais “leve” prevê uma emissão de 5 teragramas [cinco milhões de toneladas] de fuligem, em que a capacidade de produção agrícola global seria reduzida em 7% num período de um a cinco anos depois da guerra nuclear. No extremo oposto, o pior cenário contempla a emissão de 150 milhões de toneladas de fuligem, fazendo cair em 90% a produção agrícola mundial entre três a quatro anos após o conflito.
“As mudanças iriam induzir uma disrupção catastrófica dos mercados alimentares globais”, alertam os cientistas, mesmo no melhor dos cenários.
Nos mares, “a guerra nuclear reduziria a quantidade de peixes selvagens que se poderiam pescar”, embora se preveja que os impactos sejam menores do que nos sistemas terrestres.
As poeiras enviadas para a atmosfera também produziriam um inverno nuclear, reduzindo as temperaturas globais, afetando a produtividade das explorações agrícolas, e, mesmo no cenário mais otimista, “muitas regiões tornar-se-iam impróprias para a agricultura durante vários anos”. Além disso, também o comércio internacional de bens alimentares seria fortemente afetado, agudizando ainda mais a insegurança alimentar a nível mundial.
“A reduzida luz, o arrefecimento global e as possíveis restrições ao comércio depois das guerras nucleares seriam uma catástrofe global para a segurança alimentar”, frisam os cientistas, que salientam que os resultados deste estudo reforçam ainda mais a noção, já expressa por vários líderes mundiais, incluindo os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin, de que “a guerra nuclear não pode ser ganha e nunca deverá ser travada”.