Crimes ambientais geram milhões de euros em “dinheiro sujo” na UE todos os anos, revela Europol

As diferenças legais entre os vários países do bloco europeu e penalizações suaves fazem com que a criminalidade ambiental seja “um negócio altamente atrativo” para organizações criminosas.

A Europol descreve o seu mais recente relatório, com o título ‘Crime Ambiental na Era das Alterações Climáticas’, como “a mais abrangente imagem de sempre, com base em inteligência, sobre este fenómeno criminal na UE”.

O órgão internacional de polícia criminal define “crime ambiental” como o conjunto das atividades que violem as leis ambientais e que sejam prejudicais ou representem riscos para o ambiente, para a saúde humana ou para ambos. Do leque de crimes ambientais da Europol fazem parte o descarte impróprio de resíduos, o comércio e morte de animais selvagens ou de espécies de plantas protegidas, e a produção e uso de substâncias que destruam a camada de ozono.

“Os crimes ambientais geram milhões de euros em ‘dinheiros sujo’ na UE todo os anos”, revela a investigação, e os criminosos são, na sua maioria, empresários e operadores legais que, de forma oportunista, procuram aumentar as suas margens de lucro através de negócios ilegais.

O lucro gerado pelas atividades criminosas é depois “branqueado” através das mesmas empresas legais que servem de suporte aos negócios ilícitos. “Fraude de documentos, abuso de discrepâncias na lei e corrupção generalizada são os pilares da infraestrutura dos crimes ambientais”, explica a Europol.

A análise dá conta de que, em 2020, o tráfico de resíduos perigosos na UE gerou receitas de entre 1,5 mil milhões e 1,8 mil milhões de euros. Por sua vez, o transporte ilegal de resíduos não-tóxicos gerou lucros de entre 1,3 mil milhões e 10,3 mil milhões de euros. Também o tráfico de espécies de animais selvagens no “mercado negro” e a pesca legal podem produzir lucros de centenas de milhares a milhões de euros, fortalecendo e ampliando as operações das redes criminosas e atraindo cada vez mais pessoas para negócios que se apresentam como “extremamente lucrativo”, sublinha a Europol.

O foco das redes criminosas na UE está cada vez mais nos países da Europa central e do Leste, para onde traficam resíduos produzidos na região ocidental.

A Europol avança ainda que a UE é um “hub para o tráfico global de vida selvagem”, sendo o principal destino para os animais comercializados por vias ilegais e também sendo o ponto de origem de várias espécies endémicas de animais selvagens que são transportados para outros continentes.

Ainda assim, são os resíduos da produção de drogas sintéticas que são “a principal fonte de danos ambientais ligados ao crime organizados na UE”, aponta a Europol.

Catherine De Bolle, Diretora-Executiva da Europol, afirma que “os crimes ambientais se tornaram uma ameaça-chave para a segurança global e uma atividade criminosa lucrativa, tanto na UE como no resto do mundo”. Essas atividades ilícitas “ameaçam a sobrevivência de todas as espécies de seres vivos e têm um enorme impacto financeiro, que deverá aumentar ainda mais”, alerta a responsável.

De Bolle diz que os criminosos infiltram-se em negócios legais e em organizações que têm como missão proteger o ambiente, o que torna difícil a sua deteção, e frisa que também o tráfico de animais selvagens e a pesca ilegal são ameaças que não se devem ignorar e sobre as quais é preciso atuar.

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