A inédita situação do mercado europeu de péletes

Por Luís Gil, Vice-Presidente do Centro da Biomassa para a Energia

Para além da emergência climática, a invasão da Ucrânia pela Rússia apressou ainda mais a necessidade europeia de substituir os combustíveis fósseis importados e de expansão da produção de energia por via renovável. No entanto, há movimentações a nível europeu para a redução do uso da biomassa lenhosa sustentável para a produção de energia. Que não parecem entrar em linha de conta com a decomposição da matéria biomássica que, se não for aproveitada, é também conducente à produção de CO2, sem esta ser utilizada para fins energéticos. Porém, as renovadas e ambiciosas metas impostas, não poderão ser alcançadas sem o auxílio (e mesmo crescimento) desta importante componente renovável. Ponto final!

Quem acompanha este tipo de os assuntos já se apercebeu que o mercado dos péletes tem andado um pouco em ebulição. Um levantamento estatístico efetuado pela Bioenergy Europe, com referência a dados de 2021, permite-nos ter uma perceção global da situação dos péletes na Europa.

E o primeiro dado é este: na Europa (UE-27) foram produzidas 20,7 milhões de toneladas de péletes, mas o consumo global foi de 24,5 milhões de toneladas (com um aumento de 2020 para 2021 de 18%), sendo que a UE-27 é responsável pela produção de quase metade dos péletes a nível mundial e em crescimento contínuo.

É de salientar também que o conjunto Rússia (68%)/Ucrânia (14%)/Bielorrúsia (18%) exportaram em 2021 para a UE-27 + Reino Unido, mais de 3 milhões de toneladas, que urge substituir, sendo os países mais dependentes deste mercado em termos quantitativos, a Dinamarca, a Bélgica e a Polónia.

No que se refere ao consumo dos péletes, a sua utilização está repartida entre a utilização residencial/comercial (48%) e a industrial (52%). Neste domínio, o principal utilizador de péletes foi o Reino Unido, seguido da Dinamarca e de Itália – sendo que só na Holanda em 2021 houve um crescimento de cerca de 40% – mas com situações muito diferentes: no Reino Unido e na Holanda a maior parte dos péletes foi utilizado para a produção de eletricidade mas, por exemplo, em Itália estes foram utilizados para a produção de calor residencial e comercial.

Em termos de preços, de produtos concorrentes, verificou-se, em valores médios europeus, entre abril de 2021 e outubro 2022, um aumento de 185% no preço do gás, de 135% no preço da eletricidade e de 91% no preço do óleo de aquecimento. Em termos de preço dos péletes, tomando como referência os mercados da Alemanha e da Bélgica, verificou-se entre janeiro de 2020 e setembro de 2022 uma subida para preços recorde, por exemplo na Alemanha, de cerca de 300 euros/ton para 857 euros/ton (cerca de 250 à 700 euros/ton na Bélgica) para péletes embalados em sacos, sendo a tendência semelhante para péletes a granel.

Verificou-se assim que 2021 foi, na Europa, um ano excecional para os péletes, com aumentos da produção e do consumo, sendo que o crescimento do consumo, embora ocorrendo em todos os setores foi exponenciado pela sua utilização a nível industrial. A instabilidade dos preços a nível do mercado da energia teve também impacto a nível dos péletes, sendo muito difícil prever qual será a situação nos tempos que aí vêm. Até as alterações climáticas terão influência, pois com temperaturas mais amenas no inverno poderão ser menores as necessidades de aquecimento.

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