Empresas devem ser mais “competitivas” para reduzir o impacto de estagflação no seu negócio

No contexto atual, uma das formas de resolver a estagflação é aumentar as taxas de juro, o que, por um lado, sacrifica ainda mais o crescimento económico. A lógica destas medidas é a de que o mercado pode recuperar mais rapidamente de uma taxa de desemprego elevado do que de uma subida excecional de preços.

No entanto, para as empresas, as taxas de empréstimo mais elevadas significam também que os preços dos materiais provavelmente continuarão a aumentar a curto-médio prazo, apesar de uma redução da procura. Neste sentido, o que podem as empresas fazer para reduzir o impacto de estagflação no seu negócio?

João Costa, Country Manager da Expense Reduction Analysts, explicou à ‘Executive Digest’ o conceito, o impacto que este tem nas empresas, especificamente nas do mercado português, e aquilo que as organizações podem fazer para reduzir o impacto da estagflação no seu negócio.

 

O que é a estagflação?

A estagflação é o conceito que irá definir os grandes desafios económicos da Europa, e de todo o mundo, ao longo dos próximos meses, caracterizado por um baixo crescimento económico e uma alta inflação. A sua última aparição – na década de 1970 – foi uma época de lições que devem ser recordadas para nos ajudar a navegar na crise que se avizinha.

 

Qual o impacto que a estagflação tem nas empresas? E mais especificamente nas empresas do mercado português?

Um dos principais impactos é a contração da procura, devido ao empobrecimento generalizado dos consumidores, que se vêm a braços com custos mais altos, tanto de energia como dos bens de consumo. Ao mesmo tempo, os custos de produção estão mais altos, sendo que é difícil para as empresas transferir todos os aumentos de preços verificados a montante para os seus clientes. Para combater a inflação os bancos centrais vão subir as taxas de juro de referência, o que significa que o dinheiro ficará também mais caro. Entramos neste ciclo recessivo que fará arrefecer a economia e, portanto, as empresas enfrentam enormes desafios, nomeadamente menor procura e custos de produção mais altos. A maioria das empresas portuguesas são na generalidade fracas financeiramente, ou seja, necessitam de empréstimos dos bancos para financiar a tesouraria e investimentos. O custo destes empréstimos também vai subir.

 

Quais as formas de resolver a estagflação?

Embora a guerra na Ucrânia tenha levado a inflação a níveis sem precedentes, esta estava já num ponto alto antes dos primeiros tanques e das primeiras tropas russas atravessarem a fronteira. Não há registos que nos possam dar uma ideia sobre o que acontece quando juntamos no mesmo pote uma pandemia, a disrupção na produção e nas cadeias de distribuição, o aumento exponencial dos custos da energia, o impacto das alterações climáticas, o crescimento de movimentos nacionalistas, uma guerra na Europa e o arrefecimento simultâneo dos três motores da economia mundial, EUA, China e Alemanha. A tudo isto se acrescenta a injeção, durante anos, de toneladas de dinheiro barato e a hiperatividade dos traders gigantes que fazem fortunas com a volatilidade das cotações de matérias-primas energéticas, industriais e alimentares.

A hesitação no combate à inflação pelos bancos centrais pode obrigar a elevar ainda mais as taxas, causando danos ainda mais severos à economia. Um relatório das Nações Unidas, publicado recentemente, alerta que “os movimentos da política monetária e orçamental nas economias avançadas correm o risco de levar o mundo para uma recessão global e uma estagnação prolongada, causando danos piores do que a crise financeira de 2008 e o choque da covid-19 em 2020”. Sugere assim, como alternativa, o uso de impostos sobre lucros inesperados para amortecer o impacto dos preços nos consumidores, uma regulação mais apertada para controlar a especulação nas matériasprimas e um maior investimento no reforço da oferta (que os juros mais altos vão dificultar).

 

Como é que as empresas podem fazer para reduzir o impacto de estagflação no seu negócio?

O primeiro passo é identificar o que podemos controlar, ou pelo menos gerir, e o que está para além do nosso controlo. É igualmente importante conhecer os nossos fornecedores e entender quais os fatores que afetam o custo dos seus serviços. Se o fizermos, encontraremos um parceiro disposto a prestar o melhor serviço ao melhor custo. Além disso, a gestão de custos eficaz requer uma compreensão abrangente de produtos alternativos, mercados e fontes, bem como um plano de ação detalhado que abranja as seguintes questões: como as especificações do produto e o escopo de uso afetam os custos do serviço; se alguns fatores de custo podem ser alterados; o que são as necessidades reais; quando as condições mudam, qual a velocidade com que agimos para agir em conformidade e, em última análise, se os funcionários da empresa são capazes de gerenciar os custos de forma eficaz. É ainda importante investir mais na dinâmica comercial, para inverter as dificuldades do mercado, associadas à quebra de procura. As empresas devem, por isso, tornar-se mais competitivas.

O principal problema para as empresas portuguesas é a estagflação, neste momento?

Já nos confrontávamos anteriormente com o problema da inflação. Agora temos também o mercado a contrair, ou a não crescer, e os custos do capital mais elevados. Sem dúvida que acompanhar as constantes mudanças de preços e lidar com a gestão do dia-a-dia é um desafio. A pergunta a fazer é: “A minha empresa tem tempo, recursos e informação para desenvolver e implementar uma estratégia eficaz de gestão de custos?” Neste contexto é importante entender o mercado imparcial e objetivamente, estar familiarizado com os fornecedores e os fatores de custo, procurar formas de mitigar o impacto do aumento dos custos nos negócios.

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