BCE anuncia hoje a decisão de política monetária: O que esperam os especialistas do futuro das taxas de juro?

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou em setembro que decidiu aumentar em 75 pontos base as suas três taxas de juro diretoras, o segundo aumento consecutivo deste ano.

A taxa de juro das principais operações de refinanciamento passou de 0,50% para 1,25%, a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez de 0,75% para 1,50% e a taxa aplicada à facilidade permanente de depósito de 0% para 0,75%.

“O Conselho do BCE tomou a decisão – e espera continuar a aumentar as taxas de juro – porque a inflação permanece demasiado elevada, sendo provável que se mantenha acima do objetivo durante um período prolongado”, refere banco central em comunicado divulgado após a reunião do Conselho de Governadores. Esta quinta-feira, há nova decisão de política monetária.

Mas que preveem os analistas da reunião do BCE e das declarações de Lagarde?

 

Ebury

Os mercados, os analistas em geral e a Ebury também antecipam mais uma enorme subida de 75 pontos base, mas as comunicações da Presidente Lagarde na conferência de imprensa serão determinantes para o comportamento do mercado.

A empresa prevê assim uma semana “crítica” para a moeda comum. A Presidente do BCE pode ainda “esclarecer melhor o que o banco central prevê que seja a sua taxa de juro diretora. O mercado continua a apostar num valor bem abaixo dos 3%, o que aos nossos olhos é irrealisticamente baixo. À medida que as expectativas avançam para um nível mais razoável, o euro poderá ganhar algum apoio”.

 

Nordea Asset Management

Sébastien Galy, Senior Macro Strategist no Nordea Asset Management, diz que é amplamente esperado que o banco central “aumente as taxas de juro em 75 pontos base”, mas refere que “a questão está agora mais centrada numa taxa terminal, e se o BCE consegue evitar uma recessão grave em pleno choque inflacionário. O BCE aguentou na esperança que as cadeias de abastecimento melhorassem rapidamente. A realidade é que os custos caíram, mas continuam a existir importantes bottlenecks no transporte de mercadorias”.

O estratega referiu a batalha da comunicação que o banco central enfrenta: “Isto significa grandes aumentos de taxas que impressionem as « famílias – sendo que, na realidade, não é claro quão elevadas as taxas de juro devem ser. As expectativas de subida das taxas do BCE continuam a aumentar e isto deve continuar a apoiar o euro.”

“Do ponto de vista da comunicação, é importante para o BCE assinalar que, após um ciclo de aperto, haverá uma longa pausa para avaliar o impacto da política, como a Fed está a fazer. Este será um sinal importante para as empresas e para os titulares de hipotecas de que não haverá nenhum aperto brusco à nossa frente”, conclui.

 

ActivTrades

Para Ricardo Evangelista, Diretor Executivo da ActivTrades Europe S.A, “nos mercados, esta subida já é esperada há algum tempo e por isso já está precificada no valor dos ativos”. A confirmar-se, esta medida irá por um lado ajudar a baixar a inflação, através da diminuição da atividade económica, mas por outro os juros mais altos levam a menos investimento, consumo e tendem também a fazer subir o desemprego.

No que toca às empresas, esta subida das taxas de juro afeta diretamente os créditos, tornando-os mais caros, e provocando uma redução no investimento. Por outro lado, reduz-se a confiança dos consumidores, levando a uma queda na procura de produtos e serviços.

O apertar da política monetária pode ainda resultar em menor confiança das empresas e famílias, provocando uma queda na atividade económica, o que pode desencadear um cenário de recessão.

Para o futuro, Ricardo Evangelista acredita que esta postura firme do BCE no combate à inflação pode prolongar-se nas próximas reuniões. “A expectativa é de que o BCE faça subir a sua taxa de referência para os 3% até ao fim de fevereiro. Depois da esperada subida desta quinta-feira, ela ficará nos 1.5%, o que deixa antever mais subidas em dezembro, janeiro e fevereiro”.

 

Allianz Global Investors (AllianzGI)

Franck Dixmier, Diretor Global de Investimentos em Obrigações, da Allianz Global Investors (AllianzGI), é da opinião de que o banco central deve manter o rumo, tendo em conta que a inflação da Zona Euro está a estabilizar a níveis elevados, com uma subida das taxas “em linha com as expectativas”. Sobre a conferência de imprensa da Presidente do BCE, Christine Lagarde, vai ter a atenção dos mercados, para saberem o que vai “dizer sobre o encolhimento do balanço do banco central”.

O Diretor Global de Investimentos em Obrigações da AllianzGI acrescentou ainda que “por outro lado, a situação do BCE está a tornar-se mais desconfortável”, pois “o cumprimento do seu mandato exige que aumente os juros tanto quanto necessário para trazer a inflação para uma trajetória compatível com o seu objetivo de estabilidade de preços” e o conjunto de “políticas na zona euro não ajuda” pois “os planos de apoio dos governos para o poder de compra e a procura estão a encorajar os aumentos de preços”.

“Espera-se que Christine Lagarde reafirme que o Quantitative Tightening só vai começar após o final do ciclo de alta dos juros sem dar detalhes sobre o timing. Esta abordagem não é consensual, pois o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, já manifestou o seu desejo de reduzir o balanço o mais rápido possível. Os mercados vão estar a olhar com interesse”, conclui Franck Dixmier.

 

XTB

Há membros do BCE que já estão a olhar mais à frente, para a reunião de dezembro.Francis Villeory de Gallhau, chefe do banco central francês e membro do BCE, disse que na na próxima reunião, marcada para 15 de dezembro, pode assistir-se a uma nova subida de 50 pontos-base, terminando o ano com uma taxa de 2%. Quem partilha da mesma opinião é o Economista-Chefe do BCE, Philip Lane, que apontou que a taxa neutra estava ligeiramente acima dos 2%.

“No entanto, há uma forte expectativa de que o BCE irá abrandar o ritmo das subidas de taxas após a reunião de hoje, indo para uma subida de 50 pb em Dezembro e de 25 pb nas 2 reuniões subsequentes”, dizem os analistas da XTB em análise aos cenários da reunião do BCE.

De acordo com a XTB, houve alguns rumores sobre o potencial lançamento de um aperto quantitativo (QT), um processo pelo qual um banco central reduz a sua propriedade de ativos financeiros, no entanto, “é provável que o QT continue a ser um tópico de discussão e não uma linha de ação por enquanto”.

“A Presidente do BCE disse no mês passado que o QT começará no momento em que o banco achar que é o mais certo, mas também disse que começará depois de as taxas atingirem um nível neutro de aumento, e nós ainda não chegámos lá”, explicou a XTB, sublinhando que ainda é incerto se o BCE decidirá reduzir o seu balanço através de vendas ativas de títulos ou simplesmente não reinvestir títulos vencidos.

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