A Reserva Federal norte-americana (Fed) iniciou esta terça-feira uma reunião de dois dias durante a qual deverá decidir um novo aumento das taxas de juro para travar a inflação, apesar da ameaça de recessão. Em agosto, a inflação nos Estados Unidos ficou acima do previsto, com o índice de preço CPI a avançar 8,3% na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o que deverá levar a Fed a agir.

Sébastien Galy, Senior Macro Strategist do Nordea Asset Management, previu os potenciais resultados desta reunião e o que se seguirá num futuro próximo.

“O consenso é que a Reserva Federal suba em 75 pontos base após a inflação de base ter aumentado mais do que o esperado. A Fed continua a correr atrás da curva, à medida que a inflação passa de um problema de procura excessiva para satisfazer a oferta, para um conjunto cada vez mais vasto de bens e serviços”, começa por explicar, mas não exclui um aumento ainda maior.

“Como consequência, não se pode excluir uma subida de 1%. O problema para a Fed é que não sabe onde termina este ciclo de subida, embora tente estabelecer uma meta para acalmar as expectativas. Os modelos que utiliza são simplesmente demasiado primitivos e discordam um do outro.”

Galy explica que “este aperto excessivo parece acontecer em muitos grandes surtos de inflação. Um banco central que age demasiado lentamente é forçado a correr com, ou à frente, da inflação para evitar uma espiral de inflação salarial cada vez maior, para lá do que a produtividade pode suportar. Os salários nos Estados Unidos estão a crescer muito mais rapidamente do que a produtividade consegue sustentar. No entanto, isto não é suficiente para ajudar, uma vez que a inflação está a esgotar a procura por parte das famílias com rendimentos mais baixos. Os rendimentos médios e altos podem depender de décadas de ganhos no mercado de ações e imobiliário”.

“Como consequência, a procura é muito mais resiliente do que o esperado pela Fed, e apenas a grande quantidade de inventários que eram sobrevalorizados (com altas margens de lucro), muitas vezes destinados a consumidores com rendimentos mais baixos, está agora a ser vendida com um desconto. Assim, devemos eventualmente ver a inflação-base baixar um pouco, mas não é sinal de que a Fed esteja a ganhar esta batalha. A procura é implicitamente uma função da força do mercado bolsista. Num colapso, a procura por parte dos consumidores das famílias com rendimentos mais elevados vai mergulhar com ela; isto é, no entanto, muito improvável”, conclui.

Recorde-se que, desde março, o banco central norte-americano já aprovou quatro subidas das taxas de juro, as duas últimas, em junho e julho, de 75 pontos base, um aumento que não acontecia desde 1994.

As taxas de juro de referência estão, atualmente, entre 2,25% e 2,50%, tendo subido gradualmente de forma a aumentar o custo do crédito para particulares e empresas e abrandar o consumo e o investimento.