Polémica das golas antifumo cruza fronteiras e chega a Espanha
A “trama”, diz o jornal espanhol, “começou com a descoberta de que as golas para se colocar à frente da boca para não se inalar fumo, são feitas de material inflamável”. Depois dessa primeira contradição, explica o El País, “descobriu-se ainda que o preço do contrato de fabricação foi superior aos preços de mercado”. E finalmente, “descobriu-se que o responsável por tudo isto foi um adjunto do Secretário de Estado da Proteção Civil, Artur Neves”. Mais ainda, “o seu filho, Nuno Neves, assinou vários contratos com órgãos públicos, algo que é proíbido pela lei das incompatibilidades”, sublinha o jornal.
O El País dá relevo ao facto de as 70.000 golas antifumo inflamáveis distribuídas pelas populações fazerem parte dos programas governamentais “Aldeias Seguras” e “Pessoas Seguras”, “cujos folhetos também foram impressos por uma empresa ligada ao Partido Socialista Português” (…) “Sem qualquer concurso público, uma vez que o Governo alegou circunstâncias urgentes para obviar este mecanismo obrigatório”.
“Os contratos foram adjudicados a empresas ligadas ao Partido Socialista de Portugal, a maior parte delas à Brain One, uma empresa que tem vários acordos com a cidade de Arouca, um município governado por Artur Neves entre 2015 e 2017. A outra empresa é a Foxtrot Adventure, de propriedade do marido de um autarca socialista em Guimarães”, explica o jornal espanhol, em jeito de apresentação da polémica que tem marcado a última semana em Portugal.
O El País destaca que esta “surge em véspera de eleições, o que aumenta as críticas contra o Executivo Socialista e os seus líderes, que culpam toda a gente pelos incêndios, exceto a sua Administração”.
Recorda ainda que nos recentes incêndios da Mação, o ministro do Interior, Eduardo Cabrita, acusou o autarca de não ativar o plano de emergência, o que provocou críticas por parte das autoridades municipais. E que em 2017, 112 pessoas morreram em grandes incêndios, principalmente em Pedrógão, no mês de junho, e em Penacova, em outubro.
“A tragédia não prejudicou eleitoralmente o Partido Socialista no poder, que obteve bons resultados nas eleições autárquicas e até recentemente nas europeias. Mas outra tragédia florestal pode prejudicar as perspectivas de reeleição do governo socialista, como todas as sondagens prevêem. É o ponto fraco do partido socialista – juntamente com os serviços públicos em saúde e transportes – e a oposição tenta aproveitar esses fracassos”, conclui o jornal espanhol.