Estaremos prestes a assistir a uma recuperação do ouro?
O início da invasão russa na Ucrânia desencadeou uma recuperação do preço do ouro, mas foi apenas de curto prazo. O preço reagiu acima da marca dos 2.000 dólares por onça e esteve a ser negociado perto dos seus máximos históricos. No entanto, os compradores não conseguiram manter o controlo do preço, e o mesmo acabou por cair para mínimos de fevereiro – desde antes do início da invasão russa. A subida das yields, bem como o fortalecimento do dólar americano, têm sido as principais razões por detrás das quedas do ouro. Os aumentos das taxas de juro encorajam os investidores a procurarem alternativas ao ouro. No entanto, nesta análise, vamos olhar para o ouro de um ponto de vista mais fundamental e perceber se ainda há espaço para novas valorizações no preço do metal precioso.
Queda significativa na procura de joias
A procura de joias é um dos pilares principais do mercado do ouro e representa cerca de 50% da procura total deste material. Embora o mercado do ouro seja principalmente impulsionado pela procura de investimento a curto prazo, não se pode ter uma visão de longo prazo sobre o ouro sem ter em consideração a procura de joias. O mercado da joalharia caiu 30% durante o primeiro trimestre, principalmente devido à queda de cerca de 50% da procura na China, bem como a uma redução na procura na Índia. A procura trimestral caiu abaixo da média a longo prazo, na sequência do último trimestre bastante forte.
Investidores voltam a procurar o ouro como uma alternativa de investimento
A procura de investimento em ouro manteve-se firme no primeiro trimestre do ano, contudo, a situação não seja tão clara quando analisamos ao detalhe o último trimestre. O aumento da procura foi impulsionado principalmente por ETFs, enquanto que a procura de ouro físico – barras e moedas – diminuiu. O aumento na procura de ETF foi muito provavelmente impulsionado pelo aumento da procura de ouro a curto prazo, no rescaldo da invasão russa na Ucrânia. Os ETF tendem a vender muito ouro em períodos de subida das taxas de juro, pelo que, em termos fundamentais, esta poderá ser uma condicionante para os preços do metal industrial.
Quebra da mineração de ouro
O último relatório trimestral do Conselho Mundial do Ouro mostrou uma conclusão interessante – registou-se uma quebra na extração de ouro, relacionada com as novas restrições pandémicas na China. A China deixou de ser o principal país de extração de ouro, tendo a Austrália assumido o primeiro lugar. No entanto, a China já referiu que a produção retomou aos níveis anteriores. A situação na China tem também um impacto na joalharia e na procura de investimento em ouro. O “regresso ao normal” na China deve também apoiar o ouro de um ponto de vista fundamental. No entanto, é difícil prever quando terminarão as restrições na China.
Devemos ter medo dos aumentos sobre as taxas de juro?
Os aumentos das taxas de juro levam os bancos a aumentar os juros dos depósitos e a aumentar as yields das obrigações. Neste cenário, os investidores poderão ajustar as suas estratégias de investimento no mercado, especialmente em momentos de incerteza sobre a inflação. Por outro lado, existem expectativas sobre a forma como as taxas elevadas podem aumentar. Os analistas esperam que as taxas de juro nos EUA permaneçam perto da faixa dos 2,5-3,0%, embora alguns digam que a taxa de referência poderá aproximar-se dos 5%. Por outro lado, as yields das obrigações a 10 anos devem também seguir a tendência e poderão aproximar-se do valor das taxas de juro de referência. Dito isto, o preço das obrigações poderá voltar a cair, sendo que o gráfico das TNOTE poderá captar a atenção dos investidores.
Por Analistas XTB