Reunião do BCE e números da inflação nos EUA marcam o calendário da próxima semana

A semana que vem começa mais cedo, com os investidores europeus atentos aos resultados da primeira volta das eleições presidenciais francesas, no domingo. O atual Presidente Macron e a candidata de extrema-direita Le Pen são vistos como favoritos. No entanto, é altamente improvável que o próximo Presidente venha a ser escolhido na primeira volta. Como Macron e Le Pen estão quase certos de chegar à segunda volta, a 24 de abril, não se espera qualquer reação muito eufórica do mercado na próxima segunda-feira, nomeadamente no CAC40.

Para a semana teremos a reunião do BCE (quinta-feira) e os números da inflação nos EUA (terça-feira). Prestaremos também muita atenção ao índice de Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan (quinta-feira) e aos números das vendas a retalho (quinta-feira). Na Europa, ficaremos a conhecer os números ZEW (terça-feira), os números da inflação sueca (terça-feira) e os dados da inflação do Reino Unido (quarta-feira). No que respeita aos bancos centrais, esperamos que o Banco do Canadá suba a taxa de juro em 50 pb na quarta-feira.

O BCE está entre a espada e a parede, mas, por agora, parece prevalecer o discurso mais hawkish. Embora seja provável que as próximas decisões de política monetária reais sejam tomadas na reunião de junho, ao invés de na próxima semana, os riscos estão inclinados para que o BCE decida acabar com o seu programa de compra de ativos (APP) já no final de junho. Assim, aumentou a probabilidade de a subida das taxas de juro acontecer mais cedo do que o esperado.

Nos EUA, os números da inflação (terça-feira) para março serão o ponto alto da semana. A leitura de março marca a primeira leitura influenciada por efeitos de base negativos e é também provável que marque o pico da inflação nos EUA. Esperamos que os números do IPC de março mostrem uma subida da inflação de 8,5% a/a (consenso: 8,4%) e que a inflação core atinja os 6,6% a/a (consenso: 6,6%). O aumento dos preços da energia, o aumento das rendas e a evidência de uma inflação nos serviços mais alargada sugerem que veremos uma inflação mais elevada no primeiro semestre, o que suportará aumentos da taxa de referência de 50 pb por parte da Fed nas próximas reuniões.

O aumento dos preços no consumidor estrangula os consumidores americanos. O índice de sentimento da Universidade de Michigan (UoM) caiu para níveis associados a recessões passadas e os últimos números de despesas caíram 0,4% m/m em fevereiro, depois de se ter ajustado à inflação. A despesa ainda não é alarmante, mas notamos que a despesa real diminuiu numa base mensal em três dos últimos quatro meses. As perspetivas económicas dos EUA estão nas mãos das famílias. O mercado de trabalho irá apoiar o consumo das famílias, mas é difícil imaginar que os consumidores possam suportar um ambiente com despesas de vida crescentes e salários reais em queda durante um período de tempo muito prolongado, sem que o consumo seja duramente atingido. Não vemos o indicador da UoM a recuperar tão cedo.

Nesta perspetiva, as vendas a retalho (quinta-feira) serão importantes de analisar. O crescimento das vendas a retalho nos EUA abrandou em fevereiro, depois de ter aumentado um mês antes, sugerindo que estamos, de facto, a começar a vislumbrar o impacto da queda do poder de compra. Os preços mais elevados da energia e – importante nos EUA – o aumento de 20% nos preços da gasolina durante todo o mês de março irão colocar uma pressão adicional sobre os consumidores e afastar as despesas noutras áreas.

 

Nuno Mello
Analista XTB

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