EDP: Apostar em projetos inovadores
Há muito que a EDP presta apoio a startups e outros projectos empreendedores não só em território nacional, mas também com alcance além-fronteiras. De acordo com a estratégia da eléctrica portuguesa, são critérios para o apoio a estes projectos a componente tecnológica e os modelos de negócio ambiciosos, bem como o impacto de âmbito global. Frederico Bilelo Gonçalves, Diretor na EDP Ventures, explica à Executive Digest a estratégia da empresa de apoio às startups e empreendedorismo.
Qual o papel da EDP na promoção e aceleração do ecossistema empreendedor nacional e internacional?
A EDP foi uma das primeiras eléctricas, a nível mundial, a mobilizar recursos internos para apoiar activamente o empreendedorismo com interesse de negócio à escala global. A estratégia de open innovation da EDP envolve o desenvolvimento de projectos com uma forte componente tecnológica e/ou de modelo de negócio e com uma grande ambição, além do lançamento de programas de startup engagement de impacto mundial, bem como uma actuação ao nível do Venture Capital corporativo, também de âmbito global. Esta abordagem combinada e a aposta na sua realização recorrendo a uma combinação de recursos internos e externos, são aspectos onde o grupo EDP foi pioneiro em Portugal e no sector das utilities a nível global. Este posicionamento foi essencial para uma aproximação ainda maior às startups e para promover a colaboração entre a EDP e estas jovens empresas. Esta procura constante por soluções, produtos e serviços inovadores que se enquadrem na nossa estratégia de crescimento permite às startups que trabalham com a EDP escalar o seu negócio e, consequentemente, impulsiona o ecossistema nacional e internacional.
O que é o fundo EDP Cleantech FCR e quais os principais objectivos?
O fundo EDP Cleantech FCR foi criado especificamente para o mercado português que, para além da EDP, tem como participante o Fundo Capital & Quase Capital, fundo grossista criado no âmbito do programa “Portugal 2020” para aplicação de fundos estruturais e de investimento europeus em instrumentos financeiros de capital e quase capital destinados à capitalização de empresas e que é gerido pelo Banco Português de Fomento; os fundos aportados em concreto pelo FC&QC ao EDP Cleantech FCR provêm do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e destinam-se a ser utilizados nas prioridades de investimento do Portugal 2020. É o nosso veículo preferencial para investir em startups portuguesas e é mais uma demonstração da forte aposta no ecossistema nacional e em empresas com ADN português que temos vindo a fazer ao longo da última década.
2019 foi o ano que marcou o maior investimento de sempre da EDP Ventures. Como foi o ano de 2020?
2020 foi um ano de grandes desafios para todos derivado da pandemia de Covid-19. Globalmente, o investimento em empresas early stage assistiu a uma redução do número de investimentos realizados. A EDP Ventures, enquanto investidora early stage, também passou por desafios semelhantes. Num mundo de investimento em empresas ainda incipientes, a aposta e o acreditar na equipa de gestão é o factor mais determinante (capacidade de execução, resiliência, agilidade, …). Assim, relações próximas entre equipas de gestão e investidores são críticas, sendo que o distanciamento e a mudança para um mundo 100% digital vieram dificultar a concretização de novos investimentos. Apesar deste clima adverso, num ano de pandemia e de inúmeros desafios, o balanço é claramente positivo com a EDP Ventures a adicionar oito novas empresas ao seu portfólio em 2020, totalizando já mais de €42,0M investidos desde a sua criação. Por outro lado, é de salientar que, mesmo em pleno período de pandemia, existiram empresas do portfólio que conseguiram fechar rondas de investimento significativas, que lhes permitiram continuar o seu caminho de crescimento (p.e. Principle Power, Defined Crowd, Feedzai e Sepio Systems).
Quais as expectativas para 2021?
Depois de um ano atípico com a pandemia de Covid-19, o plano para 2021 passará essencialmente por normalizar a actividade de investimento, nomeadamente ao nível dos processos de sourcing e due diligences, continuar o scale up do portfólio em estágio mais avançado, e realizar desinvestimentos adicionais em empresas chave.
A EDP procura startups com potencial de acrescentar valor sobretudo em que áreas?
As áreas prioritárias para investimento estão alinhadas com o negócio do grupo EDP e dividem-se em cinco grandes categorias: energias limpas, soluções de armazenamento de energia, redes inteligentes, inovação digital e soluções ligadas aos clientes.Dentro destas macro-tendências encaixam naturalmente as áreas de inteligência artificial e machine learning aplicada a manutenção preditiva, realidade aumentada, cibersegurança, mobilidade inteligente, armazenamento de energia, gestão e processamento de dados, entre outras. A EDP Ventures investe em startups que operam no sector da energia, mas também que trabalham em vários verticais incluindo o de energia.
A Feedzai, a DefinedCrowd, a Loqr, a Probely são participadas da EDP. Como é que estas startups têm contribuído para uma mudança nos modelos de negócio do Grupo EDP?
Todos os nossos investimentos têm não só um ângulo financeiro, mas acima de tudo um ângulo estratégico, através do qual procuramos aportar valor ao grupo EDP no curto prazo, mas também viabilizar novas soluções que permitirão ao grupo fazer o seu caminho na transição energética em curso. Dando exemplos concretos ao nível do portfólio português, a Arquiled permitiu a implementação da tecnologia LED na iluminação pública de diversos municípios, contribuindo para a eficiência energética; a Enging está a trabalhar com a E-redes na monitorização de transformadores de potência; a plataforma desenvolvida pela Feedzai tem sido utilizada pela EDP Comercial para processar em tempo real grandes volumes de dados de monitorização de consumo de energia B2B; a Probely está a ser utilizada para identificar e solucionar potenciais fragilidades de cibersegurança em aplicações e sites da EDP.
Qual a sua opinião sobre os empreendedores portugueses?
O ecossistema português está em franca expansão e cresce acima da média europeia, o que são excelentes notícias. Nunca houve em Portugal tantos jovens empreendedores como agora. As universidades portuguesas assumem aqui um papel fundamental, tanto na preparação destes jovens ao nível tecnológico, como na mudança de mentalidade. De uma forma geral, os empreendedores portugueses estão, acima de tudo, bem preparados, são particularmente resilientes e estão habituados a ter de fazer muito com poucos recursos. Estes são ingredientes fundamentais para o sucesso de uma startup. A pequena dimensão do nosso mercado traduz-se num incentivo para pensar os negócios à escala global, logo à partida. Por isso, os empreendedores nacionais procuram, logo que possível, expandir as suas actividades e atrair financiamento nos mercados internacionais. Alguns conseguem ser bem-sucedidos e atingem reconhecimento global. Outros não têm tanto sucesso, mas adquirem rapidamente experiência preciosa que pode ser decisiva na sua próxima tentativa.
E a nível internacional, que startups gostaria de destacar?
É incontornável falar da Defined Crowd, empresa americana com equipa de gestão com ADN português. A Defined Crowd está com um crescimento de vendas absolutamente impressionante, e tem tido imenso destaque na imprensa nacional e internacional.
Por outro lado, a Principle Power, que permitiu ao Grupo EDP tornar-se pioneiro no campo do eólico offshore flutuante, tem neste momento a sua tecnologia na fase mais avançada (quando comparada com os seus concorrentes), que esperamos vir a assumir um papel preponderante nas renováveis a nível mundial.
A EDP Ventures investe globalmente em que fases? Seed? Series A?
A EDP Ventures investe em empresas early stage, essencialmente Seed e Série A. Já participámos em Série B, mas a avaliação que fazemos é que quando as empresas estão nessa fase, já não somos nós o investidor natural. Se somos nós o “dono” natural, e isso pode acontecer, não será tanto um negócio EDP Ventures, mas um negócio de uma unidade de negócio da EDP. Do ponto de vista de capital de risco, sentimos que podemos ter uma participação mais activa e aportar mais valor até à Série A, ao ajudarmos as startups a desenvolver uma solução escalável e a expandirem o canal comercial junto da EDP e de outras utilities.
Considera que o ecossistema empreendedor português reagiu bem ao contexto de crise em que vivemos, causado pela pandemia de Covid-19?
Foi sem dúvida um ambiente desafiante para as startups, que sentiram na pele os efeitos colaterais da pandemia, nomeadamente ao nível da redução de receitas e de ciclos de venda mais longos, criando pressões acrescidas nas suas tesourarias. Infelizmente, houve empresas que não sobreviveram; contudo, no geral, pensamos que o balanço é positivo. A título de exemplo, durante o período de pandemia, a Feedzai atingiu o estatuto de unicórnio, a DefinedCrowd fechou uma ronda de 50M$, a Bizay uma Série C de 32M€, a Sword Health uma Série B de 25M$, a Loqr uma Série A de 8M€… e empresas como a Sensei, Coverflex ou Barkyn também levantaram rondas significativas.
Que conselhos daria a quem deseja ser empreendedor e poder vir a ser apoiado pela EDP?
Na EDP, o que mais valorizamos numa empresa é a equipa de gestão e a sua capacidade de execução e resiliência. Temos de acreditar que a equipa de gestão é capaz de endereçar os problemas complexos que a empresa tem como objectivo solucionar. Depois, é crítico ter uma solução disruptiva, que se diferencie da concorrência e que seja escalável e capaz de endereçar o mercado global. Por último, as soluções desenvolvidas pelas startups têm de ter um fit com a estratégia de negócio da EDP.
A Feedzai vale mais de mil milhões de dólares e é o quarto unicórnio fundado por portugueses. Considera que nos próximos anos teremos mais unicórnios portugueses?
Como referido, o ecossistema português está em franca expansão, com algumas startups que se continuarem a progredir ao mesmo ritmo de até agora, muito provavelmente poderão alcançar o estatuto de unicórnio nos próximos anos. Puxando “a brasa à nossa sardinha”, queremos acreditar que a Defined Crowd é das empresas melhor posicionadas para atingir este estatuto, não só pela capacidade de liderança demonstrada pela Daniela Braga, como também pela capacidade de execução que tem vindo consistentemente a entregar.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Empreendedorismo e Apoio a Startups”, publicado na edição de Julho (n.º 184) da Executive Digest.