O que é o cord-cutting?

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

Volta e meia, defrontamo-nos com a expressão “cord-cutting”, em referência à alteração de comportamentos nos espectadores da televisão. O que quer isto dizer? A expressão indica a decisão de deixar de ter um serviço de televisão paga por cabo, para passar a ver TV apenas em streaming – seja na Netflix, Amazon ou numa das outras plataformas que começam a proliferar.

Nos EUA, o número de lares que abandonou serviços de cabo cresce a um ritmo exponencial, na Europa é mais reduzido – mas por exemplo em Portugal, este ano, e apenas com o Netflix e YouTube como principais players, as estimativas apontam, em alguns fins-de-semana, para valores que se estimam próximos dos 12% do total de espectadores de TV. E o tempo médio de visionamento da Netflix em Portugal tem sempre aumentado. Sinal dos tempos: este ano o Festival de Veneza abriu as portas a filmes produzidos e exibidos em estreia na Netflix – um movimento inédito entre os grandes festivais, que só aceitavam filmes produzidos para salas de cinema. Mais conhecidas pela produção de séries e documentários, o território das plataformas de streaming, aos poucos começam a surgir produções de filmes que optam por não estrear em salas de cinema. A exibição de “Roma”, do mexicano Alfonso Cuarón, foi o grande destaque da abertura do 75.º Festival de Veneza, marcando a estreia da Netflix.

A empresa está no centro da polémica entre o streaming pela TV e os festivais de cinema. Excluída de Cannes por não lançar filmes em salas de cinema, tem seis títulos espalhados pelas secções do certame italiano, entre eles dois candidatos ao Leão de Ouro: “The Ballad of Buster Scruggs” e “22 July”. “Roma” não tem elenco internacional, foi filmado a preto e branco e é falado em espanhol. É um tipo de projecto que teria dificuldades para encontrar espaço – defendeu o director mexicano, elogiando a atitude da Netflix. A Amazon entretanto começou no terreno das grandes produções – como uma série sobre os Romannoff. A Netflix não perdeu tempo e criou uma série documental, e não de ficção, do mesmo tema. Tudo isto vai acelerar a transição de mais espectadores para o streaming e o movimento vai ser relevante na Europa. Claro que isto coloca um grande desafio: com a diminuição dos espectadores em TV tradicional, a publicidade tem que pensar novos caminhos.

Como vão as audiências dos canais de televisão

A resposta a esta pergunta só pode ser uma: as audiências não estão famosas. Vamos aos números obtidos até final de Agosto. A RTP1 começou o ano com um share de 12% e em Agosto obteve 10,8%; na RTP 2 a variação é de 2,5% para 1,7%, enquanto na SIC foi de 16,7% para 14,8% e na TVI de 20,6% para 18,4% – portanto, todos os canais de sinal aberto perderam share de audiência nos primeiros oito meses do ano. No cabo, a coisa já não é assim: a CMTV cresceu dos 2,9 iniciais para os 3,5% actuais, a Sic Notícias foi de 1,8% para 2%, a TVI24 passou de 1,6% para 1,9% e a Globo deu o salto de 1.8% para 2,3%. O cabo é liderado claramente pela CMTV, normalmente seguido pela Globo e, depois, alternadamente pelo Disney Channel ou o Hollywood. Nas séries, a Fox está na liderança.

O impacto do comércio electrónico na indústria do papel

Nos últimos anos, a digitalização de muita documentação e os esforços nas empresas para diminuir o impacto da utilização do papel vieram colocar a questão de produtos alternativos. Na Finlândia, um dos maiores produtores mundiais de pasta de papel, a solução encontrada foi fazer a transição para a produção de cartão de embalagem. Porquê? Porque o incremento do comércio eléctrónico fez aumentar a procura por embalagens feitas de cartão. Além disso, constatando que na área do comércio electrónico os produtos de luxo – roupas, acessórios, cosmética – começam a ganhar peso considerável, a indústria finlandesa incorporou uma área de design que, em colaboração com algumas marcas, está a criar embalagens exclusivas no formato e tipo de tratamento gráfico que podem suportar. Eis um caso em que o desenvolvimento da economia digital abriu uma oportunidade de reconversão a uma indústria tradicional.

Este artigo foi publicado na edição de Setembro de 2018 da Executive Digest.

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