Há guerra no Facebook e no Google?
Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade
A resposta a esta pergunta é assim: existe, a guerra não é surda, e está a ficar cada vez mais ruidosa. Google e Facebook esão ambos na corrida para o maior investimento publicitário possível. Para se ter uma ideia, nos EUA, asseguram cerca de 65% do total do investimento em digital; no final de 2018 tudo indica que a percentagem será maior – o que quer dizer que estão prestes a ficar com 2/3 do total do investimento digital – e provavelmente na maior parte dos mercados ocidentais. Um dos aspectos mais visíveis da guerra está na utilização que os publishers fazem das plataformas Instant Articles (do facebook) e AMP – Accelerated Mobile Pages (do Google). Estas plataformas são cruciais para gerar tráfego para os sites dos publishers – o que quer dizer aumentar visibilidade das
páginas e proporcionar maior impacto da publicidade que elas contêm.
No ano passado houve um progressivo alinhamento dos principais publishers a favor do AMP – como o New York Times e o Guardian. O mesmo aconteceu com o twitter, o linkedin e o flipboard, que utilizam a tecnologia para possibilitar aos utilizadores acederem a páginas de notícias de terceiros. Há uma razão: o Facebook existe enquanto sistema fechado que previlegia o vídeo e a sua publicidade; e a Google, após anos em que andou desencontrada dos publishers, encontrou no AMP uma oferta
de plataforma aberta que os publishers podem utilizar, que previlegia as notícias com textos e fotos em vez dos vídeos e que é acessível sem passar por um canal intermediário, como o facebook.
Por outro lado, a ideia de que o facebook permite mais facilmente a manipulação – como no caso de fake news, criou uma desconfiança crescente nas organizações noticiosas. Por isso o Facebook lançou a iniciativa Facebook
Journalism Project – que no entanto só funciona com aparelhos Android, já que a Apple rejeitou permitir que os seus dispositivos sejam acessíveis à tecnologia. Há uma boa explicação – a aposta na Apple News, aplicação agregadora de conteúdos que por exemplo a CNN preferiu em detrimento do facebook.
A guerra está longe de terminar, e à medida que novos parceiros entram – como a Apple ou a Amazon, a disputa ainda vai ser maior.
EVOLUÇÃO DOS CANAIS DE NOTÍCIAS AO LONGO DE 2017
A CMTV chegou ao final de 2017 a liderar os canais portugueses do Cabo com um share médio de 2,3%. A SIC Notícias teve um share médio de 1,9% e a TVI24 registou 1,7%, enquanto a RTP3 obteve 0,9% de share médio na emissão no cabo e idêntico valor na emissão em TDT – e embora a conta não se deva fazer exactamente assim isto poderia colocá-la com uma média de share de 1,8%. O mês em que estes canais tiveram maior audiência, todos eles, foi Junho – ou seja, o mês da tragédia dos incêndios. Finalmente, em Dezembro, a CMTV subiu ligeiramente o seu share para 2,4%, o que se deve ao facto de ter passado, a partir de meados do mesmo mês, a ser também distribuído nas plataformas da Nowo e Vodafone, além do MEO e da NOS.
COMO ESTÁ A TELEVISÃO EM PORTUGAL?
Em 2017, a TVI foi líder de audiências pelo 13.º ano consecutivo e conseguiu um share médio ao longo do ano de 20,4%. A SIC obteve 16,5% de share médio em 2017 e a RTP1 ficou nos 12,2%, enquanto a RTP2 teve 1,5%. O pior mês do ano em termos de audiências para a RTP1 foi Julho e a SIC e TVI tiveram ambas o pior resultado em Agosto. De salientar ainda que ao longo do ano diminuiu o consumo médio de televisão, quer em número de espectadores, quer no tempo de visionamento. Enquanto o crescimento do consumo de canais de cabo aparentemente estagnou, o consumo de plataformas streaming, como a Netflix, aumentou ao longo de todo o ano. Em 2017, nos 10 programas mais vistos em termos absolutos, nove foram transmissões de jogos de futebol, com jogos da selecção e da Liga dos Campeões em destaque. Nestes nove jogos, a RTP1 assegurou oito transmissões e a TVI fez uma. A excepção nos 10 mais ao domínio do futebol foi um dos episódios de “Pesadelo Na Cozinha”, da TVI, com o chef Ljubomir Stanisic.
Este artigo foi publicado na edição de Janeiro de 2018 da revista Executive Digest.