“Surrealismo financeiro”: Libaneses trocam bancos pela cerveja e gin

Diante da crise financeira que está a assolar o Líbano, a população do país seguiu uma tendência inesperada: Levantar as economias depositadas em instituições financeiras que já não confiam, para investir sobretudo no setor do álcool, com especial destaque para os produtores de cerveja e gin.

Desde o final de 2019, quando a libra libanesa sofreu uma das maiores quedas de sempre, que as divisas do país estão destroçadas, obrigando os bancos a reter desde então os depósitos em dólares.

“Se você investir na minha empresa com dólares presos, eu devolvo dólares novos”, promete Kamal Fayad, CEO da 961 Beer, uma exportadora de cerveja libanesa e um dos executivos mais procurados no país, no que toca ao investimento de particulares, em entrevista à Reuters.

Fayad adianta ainda que está em negociações com um grupo de investidores para levantar  quase um milhão de euros de financiamento.

“Os investidores preferem correr o risco comigo do que manter o dinheiro no banco. Sinto que estou a fazer algo bom pela sociedade. O dinheiro deles está mais seguro aqui”, acrescenta o executivo.

Apesar de não poderem levantar dinheiro, os bancos libaneses ainda permitem aos depositantes que façam transações em dólares através de cheques, desde que não sejam passados para o mercado internacional. Como investir em bolsas ocais pode levar a uma perda de 75%, devido à crise monetária que deixa o país “debaixo de fogo”, os pequenos investidores só têm uma hipótese, pelo menos aparente: colocar o dinheiro a render em empresas locais.

Atualmente, os bancos pagam a uma taxa de 3.900 libras libanesas por dólar, cerca de um quarto do valor dos dólares no mercado negro.

Para Toufic Gaspard, antigo consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI), esta tendência não passa de “um surrealismo financeiro” e apela: “o Líbano precisa de uma reforma estrutural económica”.

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