Quanto vale uma árvore? E um ornitorrinco? Bem-vindos à nova Wall Street dos ativos verdes
Wall Street, assim como as restantes bolsas espalhadas pelo mundo, trabalha basicamente com ações, obrigações e os seus derivados, sobre empresas, moedas, projetos e outros ativos relacionados. Mas e se, de repente, o mercado de capitais decidisse investir em habitats naturais e na redução de emissões? Foi exatamente isso que aconteceu.
No início deste ano, entre muitas empresas, a HSBC Pollination Climate Asset Management, Lombard Odier e Mirova uniram-se para fundar a Natural Capital Investment Alliance, uma sociedade de investimentos semelhante aos seus pares, mas cujo o objetivo é garantir 10 mi milhões de dólares para proteger o meio-ambiente, através da aplicação de dinheiro em empresas que evitam a poluição, até soluções “mais esotéricas do ponto de vista financeiro”, como comprar e melhorar terras pouco produtivas e investir em green commodities, como as energias renováveis.
Para além disso, a empresa pretende seguir o exemplo de outras entidades, como o BNP Paribas, e começar a fornecer empréstimos e incentivos financeiros para preservar a biodiversidade, por exemplo a partir da aplicação de dinheiro, através de green bonds (títulos de dívida emitidos com a finalidade de captar recursos para investimentos de projetos sustentáveis) em métodos de trabalho que sejam mais amigos do ambiente, e do bolso – como é o caso de aumentar as condutas de águas em campos agrícolas áridos, sem desviar o caudal dos rios.
Paralelamente, esta aliança pretende continuar com a prática habitual, como já o faz Bruxelas, por exemplo, de um fundo de compensação para o carbono de até 2 mil milhões de dólares para as empresas que reduzirem emissões.
No entanto, ao contrário do que já acontece com os créditos regulatórios nos EUA, ou com o mercado europeu do carbono, este capital para além de poder ser convertido em dinheiro ou crédito, vai poder ser atribuído através da compra de outras ações ou da subscrição de obrigações.
A longo prazo, para além de defender o meio ambiente, os fundadores esperam contribuir para o mercado de capitais com novos ativos tangíveis e intangíveis ligados à sustentabilidade.
Mas como avaliar um ativo ambiental?
A maior barreira a este tipo de negócios e à invenção de produtos financeiros verdes reside no facto de ser muito difícil avaliar financeiramente uma cascata, uma árvore ou até um simples habitat de ornitorrincos. Pelo que, de forma a ultrapassar este obstáculo, a Universidade de Stanford decidiu reunir um grupo de trabalho formado por investidores e ONG, que estão a “mapear e a avaliar os bens naturais que sustentam a vida humana”.
O programa, conhecido como Avaliação Integrada de Ecossistemas e Trade-offs, não é uma tabela de preços, mas sim um portefólio que oferece uma gama de ferramentas e critérios, para avaliar as formas como os ecossistemas contribuem para a economia, de maneira a que um analista consiga chegar a um preço no caso concreto e numa altura determinada.
Porém, como lembra Gretchen Daily, CEO da Natural Capital Investment Alliance ” dizer o que vale e quanto vale a natureza não fará absolutamente nada, se não houver um política de investimento direcionada para os ativos verdes e para a proteção do ecossistema.
“Este novo modelo não significa colocar dólares à frente de árvores, mas sim aliciar à sustentabilidade através dos mercados”, acrescentou Daily.