Euro digital pode gerar crises financeiras mais severas. Da concorrência ao choque internacional

A digitalização da economia como consequência da pandemia de Covid-19 pode significar também a aceleração do lançamento do euro digital. Não se trata de uma nova moeda ou de uma criptomoeda, mas sim de uma versão digital do dinheiro físico que os cidadãos da União Europeia utilizam todos os dias.

O Banco Central Europeu (BCE) tem reforçado e investido no projecto mas, segundo o El Economista, há vários riscos associados a esta possibilidade. O próprio BCE, aliás, reconhece que há alguns perigos à espreita, especialmente se o euro digital se revelar um sucesso maior do que o esperado.

O euro digital será uma Central Bank Digital Currency (CBDC), ou seja, uma moeda com as mesmas características e valor que o dinheiro físico. Apesar de electrónico e digital, será guardado no banco central, explica a mesma publicação, adiantando que poderá ajudar a simplificar pagamentos e a melhorar a privacidade de transacções digitais, por exemplo.

Contudo, é necessário considerar também os riscos. Em traços gerais, são cinco os potenciais problemas associados ao lançamento do euro digital, de acordo com Fabio Panetta, membro do Comité Executivo do BCE:

1 – Concorrência para a banca. O euro digital pode, na perspectiva do economista italiano, representar um duro rival no campo da intermediação financeira, neste momento dominada pelo sector bancário. Também pode levar a um aumento dos depósitos, se as condições de transferência entre os bancos comerciais e o banco central forem apelativas.

O problema é que estes movimentos podem levar a um financiamento menos estável e com mais custos, menor rentabilidade bancária e, ainda, uma redução dos empréstimos. Este cenário limitaria o financiamento da economia real, mas há formas de prevenir isto mesmo, criando condições para que os bancos continuem a ter um papel essencial;

2 – Pânico em tempo de crise. Se o lançamento do euro digital não for pensado com cuidado, poderá resultar numa corrida aos bancos – fenómeno conhecido como “pânico bancário” e que leva os clientes a retirarem o seu dinheiro destas instituições financeiras – em alturas de crise. Os cidadãos poderão sentir-se tentados a transferir todos os seus fundos para euros digitais;

3 – Amplificação de choques internacionais. O terceiro risco diz respeito ao potencial impacto do euro digital no sistema financeiro em termos de fluxos de dinheiro transfronteiriço. Segundo Fabio Panetta, isto dependerá das condições concedidas aos cidadãos que vivem fora da Zona Euro, ou seja, se terão acesso ao euro digital e se poderão usá-lo fora da comunidade.

Se isso for permitido, investidores estrangeiros poderão usar a nova moeda digital de forma desproporcionada, alerta o economista. Além disso, estes “choques” internacionais podem resultar também em maiores flutuações cambiais;

4 – Segurança. A emissão de uma CBDC requer uma estrutura tecnológica que fica sujeita a ciberataques. Os bancos centrais terão, por isso, de trabalhar de forma a garantir a segurança dos dados e de todas as operações;

5 – Privacidade. Além da segurança, coloca-se também a questão da privacidade: será o euro digital tão anónimo como o euro físico? Segundo Fabio Panetta, é muito difícil que se alcance o mesmo nível de anonimato e governos de países autoritários poderão aproveitar-se dessa característica.

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