Próxima semana à lupa: Dos mercados à economia – e outras coisas que precisa de saber

A segunda quinzena de fevereiro arranca com os índices em máximos perante um discurso facilitista da Reserva Federal Norte-americana. Jerome Powell (presidente da Reserva Federal), em reação aos dados abaixo do esperado da inflação nos EUA, assume que o risco de não agir de forma agressiva para suportar os mercados e acelerar a criação de emprego seria maior do que o risco de um forte ajuste altista na inflação.

Isto não abona a favor do dólar, que deverá, assim, seguir pressionado contra as principais contrapartes, mas pode beneficiar as matérias-primas, uma vez que o aumento da procura e um dólar fraco podem dar seguimento aos movimentos altistas que temos observado em ativos como o petróleo ou a platina.

A preparar a candidatura a mais um termo, Powell tem mostrado que é totalmente político, não mostra qualquer intenção de desacelerar a compra de ativos e o ambiente de taxas de juro em mínimos deverá continuar até que a criação de emprego e o PIB mostrem sinais de recuperação, ou que a inflação possa disparar com tanto dinheiro a circular.

Nas próximas semanas, possivelmente teremos ainda a aprovação do plano de apoio à economia que Biden tem vindo a promover e, inclusive, os economistas acreditam que  podemos mesmo registar a introdução de um plano fiscal mais agressivo para complementar os apoios, como os cheques que deverão continuar a ser distribuídos.

O foco está na criação de emprego: voltamos a assistir a mais pedidos de subsídio semanais nos EUA, e a ideia que o mercado laboral pudesse já mostrar sinais de começar a recuperar parece uma utopia.

Assim, apesar de estarmos a falar de movimentos esticados, devemos continuar a ver os índices, principalmente os norte-americanos, em força. Ninguém ficaria admirado de ver o Nasdaq a testar a zona dos 14.000 pontos, o Dow Jones os 31.500 ou o S&P 500 os 4000 pontos.


Gráfico do índice Nasdaq (US100), período de 4 horas. Fonte: xStation 5

O índice VIX, no entanto, deverá seguir pressionado. Normalmente, os períodos mais calmos no ativo estão associados a estas fases em que os índices acionistas negociam perto dos máximos, mas sem grande força, e o ativo dispara quando o mercado cai forte. Claro que poderia disparar com o movimento altista se fosse forte, mas, nesta zona, a entrada de compradores é mais limitada, uma vez que o risco de uma correção é elevado.


Gráfico do índice de medição da volatilidade do S&P 500, período diário. Fonte: xStation 5

O forte calendário económico deverá garantir boas oscilações intra diárias, mas apenas a partir de terça-feira, uma vez que na segunda será feriado nos EUA, Hong Kong e Canadá, e, no caso da China e Brasil, o período festivo é estendido para a terça-feira.

Mas não se iludam com a ideia que será uma semana mais calma. O período de apresentação de resultados deverá continuar a mostrar força (temos, entre outros, os retalhistas Walmart e HomeFoods) e os dados macroeconómicos são igualmente de primeira linha.

O foco recai claramente para os EUA, que a partir de quarta-feira regista a divulgação das vendas a retalho, preços de produção industrial, minutas da FOMC, permissões de construção e vendas de imóveis existentes.

Na Europa, o destaque vai para o ZEW na terça-feira, que mede o sentimento económico na principal economia da zona euro (Alemanha). Este indicador deverá mostrar sinais de resiliência e registar um valor acima dos 60 pontos. Na realidade, deverá ser o terceiro registo altista seguido, sinal de que os investidores seguem confiantes.

Ainda na Alemanha, na sexta-feira teremos os dados do PMI da manufatura que poderão mostrar sinais de alguma perda de força; no entanto, é expectável que siga positivo, fator que deverá manter o DAX suportado. Valores abaixo de 50 seriam mal vistos pelo mercado e poderiam despoletar vendas no ativo.

Os investidores irão seguir, ainda, a divulgação do relatório de política monetária do BCE, que deverá seguir a linha de facilitismo da política atual, mas que detalha pormenores que podem ser relevantes para inferir os próximos movimentos do Organismo.

Com a evolução menos negativa da pandemia, os investidores estarão agora atentos à velocidade da recuperação económica. Os apoios à economia parecem garantidos; a dificuldade é antever onde é que estão os mercados que se vão adaptar à nova realidade mais rápido e, claro, se são os que têm sido referenciados (e descontado no preço) até ao momento.

Eduardo Silva, analista XTB

 

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