Estabilidade financeira: BdP alerta para as seis principais vulnerabilidades e riscos
A pandemia da Covid-19 condicionou a atividade económica nos últimos meses, com repercussões na situação financeira dos agentes económicos que colocam importantes desafios para a estabilidade financeira. Chegados a dezembro, o Banco de Portugal (BdP) analisa a estabilidade financeira, destacando, desde logo, a forte contração da atividade económica e incerteza sobre a duração da crise pandémica, acrescendo as taxas de juro negativas por período mais prolongado.
A análise do regulador aponta que até 2019, a economia portuguesa atravessou um período de ajustamento e convergência com a Europa, numa forte redução do endividamento das empresas e particulares. A política orçamental sustentou a trajetória de redução da dívida pública em percentagem do PIB iniciada em 2017.
O setor bancário registou um ajustamento estrutural da liquidez, uma redução dos custos operacionais, uma melhoria da qualidade das carteiras de crédito, uma gradual recuperação da rendibilidade e um reforço significativo dos rácios de capital.
A este enquadramento favorável, explica o regulador, juntam-se as medidas adotadas pelas autoridades, que limitaram o impacto da crise sobre o rendimento das famílias e sobre a liquidez das empresas. Os governos assumiram parte dos custos que iriam recair sobre empresas e particulares, mitigando e diluindo no tempo estes custos.
Já o setor bancário assumiu uma função central no financiamento do setor não financeiro, com pouca liquidez devido à supressão dos regulares fluxos comerciais. As medidas de política monetária, prudenciais e de supervisão salvaguardaram a oferta de crédito. O aumento do endividamento foi uma consequência natural, mas não sem riscos, deste processo.
Neste enquadramento económico e sanitário, as principais vulnerabilidades e riscos para a estabilidade financeira são:
- Reduções abruptas e significativas de valor em ativos financeiros, face a potenciais episódios de volatilidade extrema nos mercados financeiros.
- Correção em baixa dos preços do imobiliário residencial.
- Agravamento da dívida das empresas, podendo pressionar a sua solvabilidade.
- Endividamento dos particulares e das Administrações Públicas no médio prazo.
- Aumento do nexo entre sistema bancário e setor público, expectativa de aumento dos NPL e perspetivas de rendibilidade baixa no setor bancário.
- Desadequação dos estímulos monetários e orçamentais aos diferentes momentos da crise.
O BdP salienta ainda que as medidas dirigidas ao setor bancário e ao setor privado não financeiro devem articular-se e complementar-se para preservar a estabilidade financeira. “A crise económica não se deve transformar numa crise financeira”, reforça.
Quanto às iniciativas europeias de resposta à crise e de recuperação económica, destaca que estas permitiram estabelecer condições semelhantes entre países, perante um quadro pré-pandémico de endividamento privado e público diferenciado.
“A eficácia da concretização destes apoios permitirá aos países calibrar as medidas de apoio à economia que promovam trajetórias de recuperação económica alinhadas e que afastem cenários de fragmentação económica e financeira”, conclui.