Covid-19: Máfia conduz onda de protestos contra restrições em Itália
A máfia italiana quer impedir que o novo coronavírus e as restrições implementadas no âmbito da pandemia prejudiquem o seu negócio. Esta segunda-feira foram vários os protestos realizados no país contra o confinamento.
De acordo com as autoridades italianas, a máfia planeou e dirigiu manifestações em Nápoles, que chegaram a ser violentas, e ataques à polícia na sexta-feira.
Protestos semelhantes têm tido lugar em todo o país nos últimos quatro dias, com os proprietários de bares e restaurantes a manifestarem a sua preocupação com as medidas mais rigorosas implementadas pelo Governo, que podem destruir os seus negócios.
Restrições como o recolher obrigatório e o confinamento são más notícias, uma vez que o aumento do controlo e fiscalização por parte da polícia reduz a liberdade de funcionamento da máfia.
De acordo com o Politico, a polícia estima que com o encerramento da vida noturna em Itália, as receitas da Camorra, uma organização criminosa italiana, com droga vão cair até 60%.
No domingo, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, anunciou um novo aperto de medidas, incluindo um corte às 18 horas para bares e restaurantes.
Campania, Lazio e Lombardia – as três regiões com mais casos em Itália – adotaram um recolher obrigatório noturno, numa tentativa de abrandar o ritmo de contágio.
Num protesto em Nápoles, na sexta-feira, a polícia identificou membros conhecidos de quatro famílias mafiosas da Camorra que se pensa estarem a ‘guiar’ a violência.
Os manifestantes atiraram pedras à polícia, atacaram agentes dentro dos seus carros e danificaram os veículos com bastões. Vincenzo de Luca, o governador regional, descreveu os acontecimentos como uma “guerrilha”.
“A violência foi de uma intensidade que não é o comportamento dos donos de restaurantes, nem de empresas ou trabalhadores”, disse ao Politico. “O que aconteceu representa um ataque real e tangível contra o Estado”, sublinhou
De Luca disse que o protesto não tinha nada a ver com preocupações legítimas das empresas sobre o recolher obrigatório trazido na sexta-feira, e que tinha sido planeado e coordenado durante pelo menos uma semana nas redes sociais.
Giuseppe Antoci, presidente da Fondazione Caponnetto, um centro de investigação da máfia, explicou que os clãs se opõem ao recolher obrigatório e aos confinamentos porque o aumento do controlo policial e os bloqueios afetam a capacidade de exigir pagamentos por extorsão e levam à redução das receitas das vendas de droga. “Eles foram devastados pelo primeiro encerramento”, disse.
A máfia está também a usar os protestos para fomentar uma desconfiança geral em relação ao Estado. “Serve-lhes para criar um clima de conflito entre as pessoas e o Estado. Mostram que o Estado não está lá para os cidadãos e oferecem-se para os ajudar. Ao fazê-lo, alargam a sua rede de aliados”, explicou.