Alto funcionário do Vaticano acusa administração Trump de “explorar” Papa Francisco
Um alto funcionário do Vaticano acusou a administração de Donald Trump de explorar o Papa Francisco nas fases finais da campanha eleitoral dos Estados Unidos.
O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, falou sobre liberdade religiosa numa conferência esta quarta-feira, organizada pela embaixada americana junto da Santa Sé, durante a sua visita a Itália.
Quando a agência noticiosa italiana Ansa perguntou ao arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário do Vaticano para as relações com os Estados, se a organização unilateral do evento, por parte dos EUA, equivalia à exploração do Papa no período que antecedeu as eleições, Gallagher respondeu: “Sim, é precisamente por isso que o Papa não se vai encontrar com o Secretário de Estado americano”.
De acordo com o The Guardian, o Papa Francisco terá recusado encontrar-se com Pompeo durante a sua visita a Itália esta semana, citando a proximidade das eleições americanas. Mas também é provável que a decisão esteja ligada aos recentes ‘ataques’ de Pompeo à percepção do Vaticano de que a China tem uma atitude “branda” em relação aos direitos humanos, à medida que os dois lados se preparavam para prorrogar um acordo histórico assinado há dois anos.
Recorde-se que Mike Pompeo foi ao Vaticano para reuniões diplomáticas e criticou os sinais de aproximação entre o Vaticano e a China, validados por um acordo assinado em 22 de setembro de 2018, relativo à nomeação de bispos.
Nos termos deste acordo, o Papa é reconhecido como chefe da igreja católica na China. Dá também ao Vaticano uma palavra na nomeação dos bispos católicos na China. O Papa Francisco reconheceu oito bispos que tinham sido nomeados por Pequim sem a sua aprovação.
A China foi também um tema durante o encontro de Pompeo com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, em Roma, na quarta-feira. Pompeo disse que pediu a Conte para “considerar cuidadosamente a segurança das redes”.
Durante uma conferência de imprensa com o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Luigi Di Maio, Pompeo disse que estava preocupado com os planos da China de alargar a sua influência na economia italiana.
“O ministro dos negócios estrangeiros e eu tivemos uma longa conversa sobre as preocupações dos Estados Unidos no partido comunista chinês tentando aproveitar a sua presença económica em Itália para servir os seus próprios objectivos estratégicos”, disse Pompeo, citado pelo The Guardian, acrescentando que “os chineses não estão aqui para parcerias sinceras com benefícios recíprocos”.
Instou também o Governo italiano a considerar os riscos para a privacidade dos seus cidadãos apresentados pelas empresas tecnológicas com ligações ao Partido Comunista chinês.
Em Março de 2019, a Itália tornou-se o primeiro país do G7 a subscrever um plano controverso da China para construir uma rede comercial global ao estilo da Rota da Seda, “irritando” os seus aliados da União Europeia e dos Estados Unidos.