O que precisamos de saber antes de levar uma vacina contra a Covid-19, segundo especialistas norte-americanos
Para especialistas que estudam vírus e vacinas há décadas, ainda não é consensual quando é que vai estar disponível uma vacina contra a Covid-19. As farmacêuticas e as empresas fabricantes por detrás das principais candidatas esperam ter resultados conclusivos até ao final deste ano, potencialmente já em Outubro, para saber se as vacinas previnem ou não a doença.
Os estudos finais, já em ensaios da terceira e última fase, estão a inscrever milhares de voluntários para determinar se as vacinas experimentais têm ou não um desempenho eficaz e seguro. No entanto, não é claro quão abrangentes serão os dados.
Para aferir como planeiam avaliar os dados e, em última análise, se estão dispostos a receber a vacina contra o novo coronavírus, a Business Insider consultou cinco peritos em vacinas e virologia norte-americanos.
Entre este grupo de peritos, alguns mostraram-se confiantes de que seriam vacinados se as entidades reguladoras determinassem que a vacina era segura e eficaz, e se a recomendassem ao seu grupo etário. Embora geralmente esperem que o tratamento seja altamente eficaz, também se contentariam com uma vacina menos eficiente, como a vacina contra a gripe sazonal, que pode ser cerca de 50% eficaz em alguns anos.
Richard Condit, um virologista da Universidade da Florida, nos Estados Unidos, disse que confiaria nos cientistas que tomassem uma decisão regulamentar crítica. “Vou confiar nas pessoas que conduzem os ensaios”, afirmou.
Condit, que estuda vírus em laboratório há várias décadas, explica que, embora seja bem versado em virologia e doenças infeciosas, a sua especialidade principal não é o desenvolvimento de vacinas, o que o leva a confiar nos cientistas dedicados ao seu desenvolvimento. Em última análise, se recomendassem a vacina às pessoas da sua faixa etária, provavelmente aceitaria.
Deborah Fuller, uma microbiologista da Universidade de Washington, nos EUA, explicou que pensava em receber uma vacina como uma “decisão da sociedade” e não como uma “decisão individual”, já que se trata de um benefício que afecta a população como um todo. Uma vacina eficaz pode permitir atingir a imunidade de grupo e, em última análise, proteger a sociedade contra a doença.
Embora gostasse que uma vacina fosse altamente eficaz na prevenção da Covid-19, também receberia uma que fosse modestamente eficaz. “Eu ficaria bem com uma vacina que fosse 50% eficaz e obtê-la-ia se estivesse disponível”, disse a especialista.
Já Jesse Goodman, antigo cientista de topo da Food and Drug Administration (FDA), autoridade do medicamento norte-americana, quer “olhar para os dados reais” antes de tomar uma decisão final. Para isso, são precisas provas científicas de que funciona claramente.
“Se eu visse uma vacina que fosse claramente eficaz num grande ensaio de três fases, e achasse que as provas eram convincentes e que não havia sinais de segurança que me incomodassem, provavelmente iria em frente”, disse Goodman, agora director do Centro de Acesso, Segurança e Administração de Produtos Médicos da Universidade de Georgetown, nos EUA.
Goodman enfatizou a importância de ver os resultados reais dos ensaios em publicações periódicas revistas por pares, devidamente apresentadas em reuniões públicas como as reuniões do comité consultivo da FDA. As empresas farmacêuticas podem muitas vezes destacar os resultados positivos e diminuir quaisquer conclusões negativas em comunicados de imprensa, salientou.
Paul Offit, da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, realçou a necessidade de ver dados de pessoas que representam a sua demografia. “Tenho mais de 65 anos. Quero ter a certeza de que o meu grupo está representado”, afirmou.
Para Offit, director do Centro de Educação de Vacinas do Hospital Infantil de Filadélfia, os resultados terão de mostrar quão segura e eficaz é uma vacina experimental para as pessoas do seu grupo etário, para que se sinta à vontade para recebê-la.
Por último, o executivo biotecnológico de longa data William Haseltine é mais reservado e preocupado. À Business Insider, disse que iria “esperar alguns anos” por dados de acompanhamento a longo prazo sobre a segurança e eficácia da vacina. Tem, assim, uma perspectiva significativamente mais cautelosa do que outros peritos.
Desta forma, Haseltine quer ver dados de segurança e durabilidade a longo prazo antes de ele próprio receber uma vacina, ou recomendá-la à sua família. “Quando as pessoas me perguntam se vou receber a vacina, a minha resposta é que vou esperar alguns anos, eu e a minha família”, esclareceu.