Editorial: Reiniciar a economia global

Por Paulo Mendonça
Coordenador Editorial da Risco

Enquanto a Organização Mundial de Saúde e os governos de todo o mundo continuam a guerra contra o novo coronavírus, a economia está avisada de que a crise poderá perdurar por mais tempo do que inicialmente se previu e procura preparar-se para isso.

Com as previsões para uma vacina a variar todos os dias entre alguns meses e mais de um ano, não sabemos quanto tempo o Mundo poderá demorar até voltar ao normal. O que sabemos é que esta não é a primeira vez que o ser humano lida com uma pandemia e não será, seguramente, a última, até porque o mundo moderno é causa para o surgimento de surtos como o do novo coronavírus, resultado directo de uma intervenção excessiva, muito além da capacidade do ecossistema humano e ambiental.

A crise sanitária está a criar uma crise económica, que por sua vez está a dar origem a uma crise humanitária difícil de assimilar. Os governos de países completamente diferentes uns dos outros uniram-se no pedido aos seus povos para que ficassem em casa, dado o distanciamento social ser considerado pela ciência como uma das formas mais eficazes de travar a disseminação do vírus.

Agora, as consequências da crise sanitária estão a devastar a economia, encerrando empresas de todos os tipos e dimensões, deixando sem rendimentos os donos de pequenos negócios e atirando parte significativa da população mundial novamente para o desemprego. Para muitos cidadãos, a única opção, pelo menos por agora, é esperar pelos apoio dos governos, alimentando a esperança de que daqui a um ou dois meses as coisas comecem, finalmente, a melhorar.

A pandemia de Covid-19 não é, no entanto, um fenómeno raro; com o crescente nível de conectividade e interdependência globais, os chamados “eventos de cisne negro” são propriedade do sistema. Dada a natureza complexa do ecossistema planetário, a probabilidade de ocorrências com este tipo de escala tende a aumentar. Para muitos especialistas, a corrente crise é catalisadora de um reinício da economia global, centrada no ser humano e não no capital, alicerçada em factores socioeconómicos e tecnológicos. A curto prazo, é exactamente isto que os governantes parecem estar a fazer: reiniciar a economia global.

Todas as crises são excelentes momentos para carregar no botão de reinício, e há quem veja nesta a oportunidade de uma viragem completa para o digital. Tudo porque existe demasiado stress nos nossos sistemas físicos e na capacidade de transporte do ecossistema, o que nos deixa numa intrínseca dicotomia entre as leis do mundo natural, optimizadas para o sistema como um todo, e a nossa evolução como espécie monopolista.

Editorial publicado na revista Risco n.º 17 – Verão de 2020

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