«A crise económica provocada pela pandemia é distinta de todas as anteriores»
Francisco Oliveira Fernandes, presidente da Comissão Executiva do Banco Carregosa, explica como o banco atravessou este período e como prepara agora o futuro.
O que há de diferente nesta crise, para a Banca, em relação à anterior crise financeira?
A crise económica provocada pela pandemia é distinta de todas as anteriores por ter resultado de uma decisão voluntária dos governos, que em cada país tiveram que escolher entre uma paragem da actividade económica e uma crise de saúde pública associada ao colapso dos serviços nacionais de saúde. No confronto das prioridades, a estabilidade do funcionamento dos hospitais e a saúde pública prevaleceram sobre a economia. Com o início do confinamento global deu-se início à mais rápida e acentuada crise económica de sempre.
Em relação à crise financeira, esta crise mais recente também se distingue pelo papel desempenhado pelo sector financeiro. Enquanto a crise financeira emerge da actuação das entidades financeiras, infelizmente, no passado, nem sempre pautada pelas melhores práticas, neste episódio mais recente, a indústria financeira surge como parte da solução para fazer face à crise económica, tirando partido das almofadas de segurança nas estruturas de capital que foram criadas no rescaldo da crise anterior.
Quanto à duração da crise, neste momento é ainda prematuro fazer uma comparação com a crise de 2008, que levou vários anos a ser ultrapassada. Tendo sido originada de forma voluntária e por decisão governamental, seria expectável que a recuperação desta vez fosse mais rápida, mas só a prazo será possível determinar a gravidade e profundidade do dano causado no tecido económico e dependerá muito da evolução da pandemia e do tempo que teremos que conviver com este vírus, sem um tratamento ou vacina eficazes.
Que mudanças adoptaram desde meados de Março, em termos de organização interna e oferta aos clientes?
Reagimos com celeridade em linha com o preconizado pelas entidades oficiais responsáveis. Para além das medidas de protecção, nomeadamente medidas de higiene e de criação de condições para o isolamento social de eventuais casos suspeitos, condicionaram-se as reuniões presenciais, foi instituído um período de isolamento profiláctico, de 14 dias, para os colaboradores regressados de zonas de risco ou que estiveram em contacto com pessoas suspeitas ou confirmadas de infecção e foram criadas condições para o trabalho remoto, tendo-se promovido a adopção desse procedimento por parte dos colaboradores considerados grupo de risco e de parte das equipas de cada departamento.
Assim, ficou assegurada a continuidade da prestação dos nossos serviços, largamente assente em trabalho remoto. Mantivemos equipas reduzidas nas nossas instalações que garantiram a manutenção da operação, sendo as mesmas apoiadas por colaboradores a trabalhar a partir de casa, com acesso seguro às ferramentas de negócio e disponíveis para desempenharem as suas tarefas.
No caso do Banco Carregosa, cuja cobertura nacional já se faz essencialmente pelos canais virtuais, houve menor necessidade de adaptação do que em instituições financeiras que ainda mantêm os balcões como canal principal de relacionamento com os seus clientes. Ainda assim, recomendámos aos clientes que evitassem as reuniões presenciais ou a deslocação às nossas instalações, não deixando porém de estar disponíveis para receber aqueles que continuaram a preferir encontrar- se connosco no Banco, o que passou a ser feito com agendamento prévio.
A principal novidade ao nível da oferta a clientes surgiu com a introdução das moratórias que entraram em vigor, no dia 27 de Março de 2020, com o Decreto- Lei n.º 10-J/2020, de 26 de Março, que estabeleceu medidas extraordinárias de protecção dos clientes bancários em resultado do contexto de emergência de saúde pública, no âmbito do cumprimento das obrigações decorrentes de contratos de crédito.
Mas o aspecto mais relevante deste período foi o reforço da comunicação com os clientes, recorrendo a uma linguagem sóbria e rigorosa, tendo em vista informar sobre as circunstâncias excepcionais desta crise, a sua evolução e os efeitos que a mesma poderia ter nos seus investimentos.
Quais os pontos essenciais para que esta crise não se prolongue demasiado?
A retoma da actividade logo que possível, mas garantindo que não se volta a ter que colocar o mundo em quarentena, pelo que será necessário impor medidas de prevenção do contágio e fiscalizar a sua adopção.
A recuperação da confiança dos agentes económicos, nomeadamente com políticas que aumentem a visibilidade (tanto quanto possível) principais medidas a adoptar no futuro. O plano de recuperação europeu, pelo seu carácter plurianual, pode ser um bom contributo para essa maior visibilidade.
Será ainda importante permitir flexibilidade ao sector financeiro para que este possa também ser flexível com os seus financiamentos sem entrar em stress. É muito importante evitar uma crise financeira após a crise económica.
Por último, políticas fiscais e monetárias de estímulo à economia, de forma coordenada e ambiciosa, alinhadas com os princípios constantes do manifesto “Aproveitar a crise para lançar um novo paradigma de desenvolvimento sustentável” recentemente divulgado pelo BCSD e de que o Banco Carregosa foi um dos signatários. Este processo deve a prazo permitir uma regeneração natural e ordeira do tecido empresarial de forma a substituir as empresas demasiado fragilizadas para sobreviver por empresas melhor capitalizadas ou que se mostraram mais resilientes.
*Por Paulo Mendonça