Unilever: Transformar a sustentabilidade em acção

A sustentabilidade deixou de ser uma opção para se afirmar como um imperativo estratégico. O desafio passa agora por transformar compromissos em acções.

Executive Digest
Novembro 27, 2025
10:45

A sustentabilidade deixou de ser uma opção para se afirmar como um imperativo estratégico. O desafio passa agora por transformar compromissos em acções.

Num mundo onde as empresas enfrentam uma pressão crescente para redefinir o seu impacto ambiental, a Unilever destaca-se como uma das maiores companhias de bens de consumo a transformar radicalmente o seu modelo de negócio. Com cerca de 3,4 mil milhões de pessoas a usarem os seus produtos diariamente, a responsabilidade da empresa vai além das operações comerciais tradicionais.

Segundo Patrícia de Jesus, Head of Communications and Sustainability da Unilever FIMA e Gallo Worldwide, «a sustentabilidade deixou de ser uma tendência para se afirmar como uma necessidade estratégica e exigência regulatória, social e econónima, que impulsiona cada decisão e inovação», explica. Para a responsável, o verdadeiro progresso acontece quando se transformam planos em acções concretas.

A empresa está a redefinir o seu modelo de negócio com metas ambientais ambiciosas: crescer de forma responsável. O desafio é transformar o negócio para alcançar excelência e gerar impacto em quatro áreas prioritárias – clima, natureza, plásticos e condições de vida. A estratégia integra 15 metas de curto e médio prazo. Os avanços já alcançados, como a redução de emissões das operações próprias em 72%, demonstram que a empresa está no caminho certo, mas Patrícia Jesus lembra que estes resultados reforçam o sentido de urgência e a necessidade de dedicação contínua.

QUATRO PILARES PARA UM FUTURO MAIS SUSTENTÁVEL

As alterações climáticas representam um risco material para o negócio. A Unilever assumiu o compromisso de atingir emissões operacionais zero em 2030 e neutralidade carbónica em toda a cadeia de valor até 2039. O grande desafio: 98% das emissões estão fora das operações directas. A prioridade passa por reduzir o impacto em toda a cadeia de valor (âmbito 3), o que envolve reformulação de produtos e ingredientes, optimização da logística, transição para energias limpas e colaboração com fornecedores.

Desde 2015, a empresa tem implementado melhorias contínuas nas suas operações, com o objectivo de reduzir a pegada de carbono, acelerar a transição energéctica e optimizar o uso de recursos. Em Portugal, nas unidades da FIMA Olá e da Gallo Worldwide, destacam-se iniciativas como a substituição da iluminação por tecnologia LED, a actualização de equipamentos, a instalação de painéis fotovoltaicos e a disponibilização de carregadores para veículos eléctricos. Estes avanços têm contribuído para a diminuição do consumo de energia e das emissões.

No pilar da natureza, a visão também é clara: garantir a resiliência da natureza é garantir a continuidade do negócio. Até 2030, a Unilever pretende implementar práticas de agricultura regenerativa em mais de um milhão de hectares, assegurar cadeias de abastecimento livres de desflorestação e garantir que 95% das culturas essenciais tenham origem sustentável. Em 2024, alcançou 97% de matérias-primas livres de desflorestação e 79% de ingredientes de origem sustentável.

A empresa promove a capacitação de fornecedores, colaborando com centenas de parceiros através do ‘Supplier Climate Programme’, que disponibiliza ferramentas e apoio técnico para medir e reduzir as emissões nas suas operações. Na área da agricultura regenerativa, apoia os agricultores locais com formação e assistência técnica, facilitando a transição para práticas mais sustentáveis. A Unilever está a trabalhar com parceiros para reformular produtos com ingredientes de menor emissão, sem comprometer o desempenho.

Um outro pilar é a área dos plásticos, que se tornou um dos maiores desafios ambientais, afectando a biodiversidade e contribuindo para a crise climática. A Unilever está a trabalhar para reduzir o uso de plástico virgem em 40% até 2028, incorporar 25% de plástico reciclado até 2025 e garantir que 100% das embalagens sejam reutilizáveis e recicláveis até 2030. «Esta jornada exige inovação, colaboração com parceiros da indústria, governos e organizações e envolvimento activo em iniciativas globais como o Tratado Global sobre Plásticos, para promover a implementação de políticas harmonizadas », explica Patrícia Jesus.

As emissões provenientes das embalagens representam uma parte significativa das emissões totais no âmbito 3, verificando-se sobretudo na criação das matérias-primas e no final de vida. Para reduzir o impacto, a empresa tem desenvolvido várias acções: redução da quantidade de materiais, tornando as embalagens mais leves; transição para matérias-primas recicladas e renováveis, aumentando a incorporação de plástico reciclado pós-consumo; design para reciclabilidade; e promoção de melhores infra-estruturas de recolha e reciclagem.

Patrícia Jesus defende que é essencial criar esquemas de Responsabilidade Alargada do Produtor eficazes. «Actualmente, Portugal está longe de atingir as metas de reciclagem da União Europeia, ficando aquém dos 65% exigidos, apesar do investimento privado quase ter duplicado em 2025».

Entre os exemplos de inovação em embalagens destacam-se os cubos de caldo Knorr com invólucros de papel (em teste no Reino Unido); as embalagens de Dove gel de banho e loções, produzidas com plástico 100% reciclado; os desodorizantes roll-on de Rexona e Dove mais leves, com redução de um terço de plástico; a embalagem de Magnum Pints, uma inovação mundial com copo de plástico reciclado que suporta temperaturas de congelamento; e as embalagens de molhos Hellmann’s e Calvé, de plástico 100% reciclado e recicláveis.

No pilar das condições de vida, o Código de Princípios de Negócio estabelece o compromisso de pagar um salário digno a todos os colaboradores directos. A Unilever está a desafiar fornecedores a aderirem à Living Wage Promise, colmatando lacunas entre o salário mínimo e o salário digno. Adicionalmente, apoia pequenos agricultores na melhoria da produtividade, aumentando os seus rendimentos e contribuindo para uma cadeia de abastecimento mais resiliente.

INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA E TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

A sustentabilidade está integrada na estratégia e na operação da Unilever, com recursos e prioridades claramente definidos. Esta abordagem abrange todas as áreas, desde o desenvolvimento de produtos à selecção de fornecedores, logística, comunicação e investimentos. «A sustentabilidade é gerida com o mesmo rigor que as decisões comerciais, actuando como motor de inovação e resiliência, e contribuindo para a criação de valor a longo prazo», explica Patrícia Jesus.

Segundo o relatório Sustainable Signals: Corporates 2025 da Morgan Stanley, mais de 80% das empresas vêem a sustentabilidade como uma oportunidade para gerar valor e conseguem medir o retorno dos seus investimentos. Dois terços indicam que as suas estratégias estão a cumprir ou superar as expectativas. Mais de metade reportou impactos directos do clima no último ano, mostrando que a sustentabilidade é um factor decisivo para a competitividade.

Embora a logística represente apenas 3% das emissões totais, 90% desse valor provém do transporte rodoviário. A redução passa pela optimização das rotas, maximização da carga e transporte ferroviário – já implementado na Gallo para exportações. Por outro lado, a transformação da frota para alternativas mais sustentáveis: em Portugal, 90% da frota já é eléctrica.

A inovação de produto é uma das principais vias para reduzir o impacto ambiental. Têm sido realizados investimentos significativos na reformulação dos produtos, com ingredientes inovadores com menor pegada de carbono. Na área alimentar, há uma aposta em ingredientes de origem vegetal e de baixo impacto ambiental. Dois casos de sucesso: o Skip Ciclos Curtos, eficaz em lavagens de 15 minutos e a baixas temperaturas, permite reduzir até 30% no consumo de água e até 60% de energia. As embalagens são 100% recicláveis e incorporam 35% de plástico reciclado. Outro exemplo é o Cif Infinite Clean, spray que utiliza tecnologia avançada e probióticos para manter as superfícies limpas naturalmente durante mais tempo. «O novo produto combina probióticos 100% naturais com ingredientes de limpeza eficazes», explica Patrícia Jesus.

A digitalização e a tecnologia são aliadas da sustentabilidade ao longo de toda a cadeia de valor. A Unilever aposta em ciência, tecnologia e inteligência artificial para criar produtos mais sustentáveis e antecipar as necessidades dos consumidores. As plataformas digitais possibilitam calcular as emissões associadas a cada etapa produtiva. Em colaboração com empresas tecnológicas e startups, a Unilever recorre a dados de satélite, geolocalização, blockchain e inteligência artificial para garantir uma cadeia de abastecimento transparente. Monitoriza mais de 20 milhões de hectares no Sudeste Asiático, prevenindo a desflorestação, e já mapeou cerca de 36 000 pequenos produtores.

Sistemas inteligentes de gestão energética permitem monitorizar e ajustar o consumo em tempo real. Soluções inovadoras possibilitam desenvolver embalagens que utilizam menos materiais e aumentam a reciclabilidade. A digitalização permite ainda uma cadeia de abastecimento mais ágil, optimizando rotas e maximizando o aproveitamento das cargas. A empresa conta com sete hubs operacionais globais para estabelecer eficiências. Patrícia Jesus resume: «A digitalização e a tecnologia são essenciais para transformar os processos internos, apoiar a tomada de decisão e garantir que as metas ambientais são alcançadas de forma transparente, mensurável e escalável.»

Através das suas marcas, a Unilever procura tornar a sustentabilidade acessível no dia-a-dia das pessoas. Entre os exemplos estão o programa de Hellmann’s de combate ao desperdício alimentar, o Skip para ciclos curtos e a aposta em detergentes concentrados, além da disponibilização de produtos com recargas para reduzir resíduos.

Avançar com a agenda de sustentabilidade exige ultrapassar inúmeros desafios. Patrícia Jesus destaca a complexidade da cadeia de valor, especialmente no âmbito 3, onde se concentram 98% das emissões. A dimensão global da Unilever torna indispensável a mobilização de fornecedores e clientes. Outro grande desafio é o investimento necessário para reformular produtos e encontrar novas soluções de embalagens.

«A mudança exige colaboração e acção sistémica. Sozinhos não conseguimos gerar a transformação necessária», afirma Patrícia Jesus. Por isso, a empresa trabalha com várias entidades e decisores-chave para acelerar a transição para modelos mais sustentáveis que beneficiem o negócio e a sociedade. A participação no Tratado Global sobre Plásticos, através da Business Coalition, reforça a voz da empresa na construção de um acordo global efectivo contra a poluição por plásticos.

Olhando para o futuro, as prioridades mantêm-se centradas nas quatro áreas-chave: clima, natureza, plásticos e condições de vida. As equipas trabalham diariamente para cumprir com a legislação em vigor e conseguir estar três passos à frente no que diz respeito a questões ambientais.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Redução da pegada ambiental”, publicado na edição de Outubro (n.º 235) da Executive Digest.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.