Em entrevista à Executive Digest, Luís Mateus, Director-Geral Škoda, explica os principais desafios e oportunidades da marca no actual contexto da indústria automóvel.
Qual a importância do segmento dos clientes empresariais e das empresas para a marca Škoda?
A procura dos clientes empresariais pelos produtos e serviços que a marca Škoda oferece está em franca expansão. A estratégia desenhada pela marca tem colhido uma excelente aceitação por parte do mercado em geral, e dos clientes empresariais em particular. Aliás, é sintomático o facto de, em 2024, cerca de 57% das novas encomendas que recebemos serem de novos clientes o que indicia que a estratégia desenhada para a entrada da Škoda em novos territórios está a ter um enorme sucesso. A forte ofensiva de produto que a marca tem em curso tem sido uma das razões, mas não a única, do aumento de procura sendo que é de destacar o desempenho comercial sobretudo dos modelos Octavia, Superb, Kodiaq e Enyaq no exigente mercado das frotas.
Como responde a marca às necessidades e particularidades especificas destes clientes e que vantagens apresenta?
O segmento dos clientes empresariais tem sido alvo de um seguimento muito próximo por parte da marca Škoda com o claro propósito de continuarmos a desenvolver soluções de mobilidade diferenciadoras que sejam, naturalmente, valorizadas pelos nossos clientes. Sumariamente eu apontaria três áreas chave onde temos investido muito esforço: a oferta de uma configuração de produto pouco complexa, mas simultaneamente muito bem estruturada, a implementação de uma estratégia multicanal bem definida com o objetivo de defender os nossos valores residuais e, não menos importante, um enorme foco no sentido de ajustar a nossa oferta à fiscalidade em vigor.
Qual a estratégia da Škoda para enfrentar os desafios da mobilidade elétrica e da respetiva procura para as diferentes soluções de motorizações?
A procura por soluções de mobilidade, que denominamos de mais sustentáveis, tem vindo a aumentar gradualmente e já tem um peso muito relevante nas nossas vendas. No entanto, considero que ainda estamos ainda nos primórdios da verdadeira transição energética que antevemos para o futuro do automóvel. Neste momento assistimos a uma vontade generalizada de mudança sendo que, praticamente, todas as empresas equacionam essa mudança no momento da decisão de renovação de frota. Mas em muitos casos, seja por dificuldades puramente operacionais ligadas sobretudo à autonomia e ao tempo de carregamento ou por dificuldades na utilização eficiente de uma infraestrutura de carregamento que ainda está muito aquém do necessário, a escolha acaba por recair nos tradicionais combustíveis fósseis ou, cada vez mais, nos modelos plug-in Hybrid. A Škoda, que está totalmente comprometida com a transição para uma mobilidade mais sustentável ao lançar 6 novos modelos 100% elétricos até 2030 vai, portanto, continuar a oferecer em paralelo com a sua gama de modelos 100% elétricos diversas soluções de mobilidade mais convencionais nomeadamente modelos com motorizações plug-in hybrid de 2ª geração com autonomia em modo elétrico superior a 100km e ainda novas motorizações de combustão ultra eficientes que irão cumprir a exigente norma europeia Euro 7.
Existem alguns modelos de automóveis para empresas da vossa marca e que gostassem de destacar?
Os modelos Škoda com mais procura no mercado empresarial têm sido o Škoda Octavia Break e o nosso SUV topo de gama, o Škoda Kodiaq uma vez que são modelos extremamente polivalentes que encaixam facilmente na maior parte dos requisitos dos clientes empresariais.
Quais as principais diferenças que destacariam face à concorrência?
Embora a monitorização do desempenho da nossa concorrência faça parte do nosso trabalho diário tenho de confessar que o impacto desse desempenho na nossa estratégia é residual porque o que nos move são os nossos clientes e não os nossos concorrentes. No processo de transformação para o futuro que a Škoda que tem em curso, continuaremos fieis ao nosso ADN e, portanto, aos princípios que guiaram a marca no seu percurso de 130 anos de história. Nesse aspecto o nosso posicionamento não se alterou já que continuaremos a ser uma marca que oferece o que de melhor existe na indústria automóvel em termos de qualidade, tecnologia e segurança sem que isso impacte exageradamente no nosso posicionamento de preço. Como tal a mobilidade acessível continuará a ser um dos drivers da nossa estratégia.
Como é que a Škoda personaliza as suas ofertas para atender às necessidades específicas dos clientes empresariais?
É uma questão interessante porque atender às necessidades especificas de uma faixa muito alargada de clientes é extremamente desafiante. Sumariamente trabalhamos sobre três clusters:
1. Desenvolvimento de um menu para empresas com modelos pré-desenhados que procuram responder às diferentes necessidades de cada cliente;
2. Oferta de Pacotes de Mobilidade concebidos para fazer face às especificidades próprias de cada empresa dos quais eu destacaria os pacotes de manutenção, as múltiplas e flexíveis soluções de financiamento e as diversas soluções de carregamento doméstico para o caso dos modelos elétricos e plug-in hybrid;
3. Um serviço de Após Venda sólido e eficiente como garante para uma satisfação continua ao longo do período de utilização da viatura.
Quando falamos em automóveis para empresas, quais são os factores mais distintivos destes veículos?
Os clientes empresariais atribuem uma importância elevada a uma série de atributos que fazem parte do ADN da marca Škoda: fiabilidade e qualidade de construção, custos operacionais reduzidos, uma excelente habitabilidade e um espaço de bagageira imbatível. Mas não é só nestes argumentos que a Škoda se destaca. A Škoda é hoje uma marca referencial não só na segurança (todos os seus modelos, sem excepção, receberam a classificação máxima de cinco estrelas no exigente teste de segurança Euro NCAP) mas também na tecnologia de última geração que disponibiliza. Este conjunto de critérios, que são extremamente valorizados pelos clientes empresa têm, portanto, de ser considerados quando se desenha uma estratégia de crescimento para este exigente segmento de mercado.
Como vê o segmento de clientes empresariais no contexto do seu crescimento e estratégia de mercado?
É um segmento de vendas com um enorme peso no mercado português pelo que terá de ser um pilar de vendas de qualquer marca que pretenda conseguir atingir uma posição sólida, duradoura e sobretudo saudável. Existem várias outras estratégias de curto prazo para reforçar a quota de mercado, mas que não encaixam naquele que é o nosso propósito estratégico.
Quais são as iniciativas da Škoda para tornar seus modelos executivos mais ecológicos e sustentáveis?
A Škoda já manifestou o seu forte compromisso rumo à mobilidade sustentável com o firme propósito de atingir a neutralidade carbónica em 2030. Mas a Škoda reiterou também que, na sua visão, a transição para uma mobilidade 100% eléctrica iria ocorrer a diferentes velocidades e que por esse motivo iria continuar a desenvolver a tecnologia para lançar modelos com motorizações a combustão ultra eficientes e modelos plug-in hybrid de segunda geração enquanto a legislação europeia assim o permitisse e os seus clientes assim o desejassem. Nesse sentido julgo que a melhor abordagem é continuarmos a direccionar todos os nossos esforços no sentido de uma mobilidade mais sustentável, mas sem extremismos nem roturas abruptas que coloquem em causa o que os nossos clientes esperam de nós. Até porque, e para que de facto se possa acelerar rumo a uma verdadeira transição para a mobilidade eléctrica, é essencial que os governos reforcem o investimento com planos de incentivos mais agressivos (que podem ser fiscais, ao abate ou outros) e que terão obrigatoriamente de ser acompanhados por um reforço substancial da infraestrutura de carregamento.
Como a Škoda se está a preparar em relação ao futuro?
O mundo está a mudar… os clientes estão a evoluir… e os clientes empresariais não são excepção. E é nesse sentido que a marca Škoda se está a transformar para evoluir com e para os seus clientes. Num futuro já muito próximo a digitalização e a conectividade, já presentes hoje nos nossos automóveis, vão ascender a um novo nível com a entrada da inteligência artificial. Este novo cenário, que irá abrir um enorme leque de novas possibilidades e oportunidades, irá mudar radicalmente o modo como os utilizadores irão interagir com os nossos automóveis.
O actual contexto económico traz novos desafios ao mercado dos automóveis executivos?
A indústria automóvel é particularmente sensível a alterações de contexto que impactem na confiança dos consumidores ou que, por exemplo, obriguem as empresas a reduzir custos já que estamos a falar da aquisição de bens que podem representar um investimento significativo. Por outro lado, as frotas das empresas são, em muitos casos, essenciais para a operação pelo que, o que a experiência nos demonstra, é que um cenário macroeconómico adverso não conduz necessariamente a uma redução abrupta da procura (salvo em situações extremas) já que existe um esforço de adaptação por parte das empresas a uma nova realidade que pode ser mais ou menos prolongada. Esse esforço de adaptação poderá, no entanto, ser um desafio para as marcas já que estas encontram-se muitas vezes manietadas devido a políticas fiscais pouco flexíveis e em muitos casos totalmente desajustadas às necessidades dos clientes empresariais.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Automóveis para executivos”, publicado na edição de Novembro (n.º 224) da Executive Digest.













